Falta de acordo orçamentário ameaça interromper missões de paz da ONU

O orçamento atual expira à meia-noite de quarta-feira e o que se debatia na sessão era o financiamento de US$ 6,5 bilhões, valor que manteria ativas as missões até 30 de junho de 2022 (Albert Gonzalez Farran/AFP)

Com informações do O Globo

NOVA YORK – O tema da reunião realizada na segunda-feira sugeria uma negociação a respeito da gestão das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, a falta de acordo entre os 193 países-membros sobre o orçamento para financiar no próximo ano as 20 operações de intervenção e manutenção da paz em diferentes partes do mundo — a maioria delas na África e no Oriente Médio — pôs as missões à beira do fechamento.

O orçamento atual expira à meia-noite de quarta-feira e o que se debatia na sessão era o financiamento de US$ 6,5 bilhões, valor que manteria ativas as missões até 30 de junho de 2022. A suspensão das operações seria imediata, assim que expirar o prazo, nesta quinta-feira. Fontes diplomáticas que conhecem a negociação atribuem a falta de acordo às mudanças no procedimento, além de questões de logística e a diferenças relevantes entre a China e os países ocidentais. Segundo outras fontes, a responsabilidade cai na multiplicação de demandas de última hora por parte da China e de algumas nações africanas.

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Da Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (Minurso) à Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Finul), passando pela tropa de capacetes azuis há muito tempo presentes na Linha Verde do Chipre — uma missão estabelecida em 1964 e reforçada 10 anos depois —, o contingente de 70 mil militares com o qual países membros da ONU contribuem pode estar com as horas contadas se não houver um acordo urgente. Incluindo os civis ligados às missões, as pessoas sob o comando da bandeira azul das Nações Unidas somam 97 mil, de 120 países diferentes.

“Continuamos a manter esperança e confiança de que os países-membros vão concluir essa negociação”, disse a subsecretária-geral da ONU para Estratégia, Política e Vompliance, Catherine Pollard.

Mesmo esperançosa, ela admitiu que vai implementar planos de contingência caso as negociações fracassem.

As missões são renovadas anualmente, em períodos que começam em julho. O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou que as diferentes missões já foram avisadas sobre a possibilidade de encerramento imediato. Pollard disse que, caso o prazo seja ultrapassado, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, só poderá destinar fundos para defender os ativos das missões e garantir a proteção e segurança de quem participa delas.

O secretário-geral adjunto da ONU para as Missões de Paz, Jean-Pierre Lacroix, afirmou na segunda-feira que a continuidade das operações seria muito limitada e incapaz de desempenhar suas funções, como a proteção da população civil em zonas pós-conflito, apoio à resposta dos países onde estão presentes na luta contra o coronavírus ou a mediação e acompanhamento de processos de paz. Assim como Pollard, contando com um pacto de última hora, Lacroix lembrou que as negociações do ano passado foram igualmente complicadas e que se resolveram uma semana antes de acabar o prazo de 23 de junho de 2020.

Os Estados Unidos, que com o presidente Joe Biden voltaram por completo ao quadro da ONU após quatro anos de unilateralismo com Donald Trump, são o principal contribuinte das missões de paz, com 28% do orçamento. O País é seguido pela China, com 15,2%, e Japão, com 8,5%.

Algumas missões, como a de Minurso, estavam, por sua vez, dependendo de uma renovação que agora está no ar. A operação no Saara expira em 30 de outubro, mas seu destino e o das demais missões dependerá das próximas 48 horas.

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