Falta de interligação rodoviária impacta na recuperação do turismo da Amazônia

Segundo especialistas Amazonas, Roraima e Amapá terão recuperações tardias, provocadas pela falta de ligações com rodovias interestaduais. (Reprodução/Internet)

Thiago Fernando – Da Revista Cenarium

MANAUS – Economistas e representantes do setor turístico da região Amazônica avaliam a recuperação da atividade, estimando que Estados como Amazonas, Roraima e Amapá terão recuperações tardias, provocadas pela falta de ligações com rodovias interestaduais.

O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e similares do Estado do Amazonas (SindHotéis/AM), Paulo Rogério Tadros, afirma que o distanciamento geográfico da Região Norte influencia o ritmo da retomada econômica do turismo.

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“Estamos em uma região muito difícil e distante de tudo, os custos são altos para realizar transporte para cá. Necessitamos de avião para tudo e com a diminuição dos voos, não temos como trazer pessoas para a região. Além disso, a pandemia afetou economicamente o Brasil. As pessoas estão sem dinheiro, tentando pagar as contas atrasadas e refazer as poupanças. Assim, o turismo será um dos últimos setores a se recuperar, principalmente o da Amazônia”, explicou Tadros.

Tadros defende que o turismo interno será a solução imediata para estados que contam com municípios ricos, realidade diferente dos estados do Amazonas, Roraima e Amapá.

“No Acre, Rondônia e Pará, a população viaja dentro do próprio estado. Já no Amazonas, Roraima e Amapá, o setor do turismo não tem para onde correr. Eles não têm estradas e os interiores são pobres. Quem vai para a capital, vai para trabalhar ou comprar, mas não contam com um poder aquisitivo para o turismo”, citou o presidente.

Visibilidade negativa

De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), no último domingo, 28, o Brasil acumulou 1.345.254 casos de infectados pelo novo Coronavírus.

No ranking dos estados com mais casos, a região Norte aparece com dois representantes entre os seis maiores, sendo o Pará com 100.443 infectados e 4.845 óbitos, e o Amazonas com 69.649 casos e 2.780 mortes, respectivamente o primeiro e o segundo da lista.

Tadros, as imagens dos sepultamentos coletivos realizados em Manaus (AM) e em Belém (PA) repercutiu de forma negativa pelo mundo. “Tivemos uma visibilidade muito ruim durante a pandemia. As propagandas que fizeram foram absurdas, a imagem dos sepultamentos coletivos em várias covas rodou o mundo. Os turistas estão com medo de virem para a região”, criticou.

Retomada da indústria ajudará o turismo

Na visão do economista Inaldo Seixas, enquanto o Polo Industrial de Manaus (PIM) continuar em queda, o turismo do Amazonas também continuará em crise, pois segundo ele, os dois mercados estão ligados diretamente com a vinda de turistas à negócios e lazer.

“Os rumos da economia nacional não são bons e isso vale para os setores de serviços, principalmente o do Turismo. Podemos observar que a economia já vinha capenga antes mesmo da pandemia. Em Manaus, o PIM influência diretamente no setor de serviço, porque movimenta a hotelaria, restaurantes e o turismo de selva. A pandemia pegou tudo isso e colocou no saco”, explicou Seixas.

Para reforçar a análise, o economista relembra que, em 2019, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foi menor que os registrados nos dois anos anteriores. “Estamos no ‘fundo do poço’ e as perspectivas da pós-pandemia não são boas no curto prazo. A situação para o turismo será muito difícil. Talvez, não seja possível para algumas empresas, que vão ter que fechar as portas. Temos um quadro que já vinha capenga, que somou com as complicações da pandemia e as medidas insuficientes tomadas pelo Governo Federal. Acredito que vamos levar muito tempo para retornar”, afirmou.

Melhorias no segundo semestre de 2021

De acordo com os dados levantados pelo Observatório de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (Observatur/UEA), durante pesquisa realizada com prestadores de serviços turísticos o último mês de abril, a recuperação do faturamento do setor só deve ocorrer a partir do segundo semestre de 2021.

A coordenadora do Observatur, Selma Batista, diz que esse processo será gradual e dependerá da reabertura das fronteiras e da redução do número de casos confirmados da Covid-19 no Amazonas.  

“Teremos que fazer ‘a lição de casa’ para acelerar a retomada do setor pós-pandemia. Os empresariados e os prestadores de serviços turísticos precisam de ações que permitam a permanência no mercado, após meses sem faturamento. Além disso, precisamos implementar os protocolos de higiene e segurança para garantir a confiança do turista internacional ou doméstico. Particularmente, vejo o Amazonas como um destino competitivo pelo potencial de atrativos.”, informou.

Segundo o levantamento da UEA os segmentos que mais contribuirão para alavancar o turismo amazonense, serão o Ecoturismo, o Turismo de Pesca, Cultural, de Aventura e o de Negócios e Eventos.

Hotelaria na berlinda

De acordo com o estudo da RBOT somente no mês de abril, a queda no faturamento dos empresários do setor variou entre 75% e 100% devido à suspensão das atividades.  

Os prejuízos se repetiram em maio e a pesquisa ainda revelou que pelo menos quatro em cada 10 empresas cadastradas na associação, tiveram que demitir empregados para reduzir gastos.

Questionado sobre os impactos na hotelaria do Amazonas, Paulo Rogério Tadros informou que a estrutura do setor vai sofrer uma forte redução pós-pandemia, principalmente com fechamento de hotéis.

“Vamos regredir a estrutura de hotelaria no Estado. Não adianta pensar que vai ser como era antes da pandemia, até porque, não tem como sobreviver a seis meses sem movimento, apenas com despesas e sem esperança. Hoje, praticamente todos estão fechados. Apenas os flats estão abertos e com menos da metade da capacidade. Já tem empresários que não vão voltar, porque não justifica mais o negócio pelo tempo de recuperação”, revelou.

Demissões no Pará

Para conhecer o real impacto causada pela pandemia de Covid-19 no turismo paraense, a Secretaria de Turismo do Pará (Setur) realizou uma pesquisa com empresas de 19 municípios paraenses. Dos entrevistados, 49% reconheceram que já desligaram ou vão ter que demitir por causa dos prejuízos.

O estudo abrangeu empresas de turismo localizada na capital Belém (33%), seguida pelos municípios de Marabá (17%), Bragança (11%), Salinópolis (9%) e Santarém (7%). Também foram ouvidos empreendedores de Soure, Alenquer, Ananindeua, Augusto Corrêa, Barcarena, Castanhal, Itupiranga, Juruti, Limoeiro do Ajuru, Medicilândia, Monte Alegre, Parauapebas e Tucuruí.

Governos lançam protocolos de segurança

No início do mês, o Ministério do Turismo (MTur) lançou o ‘Selo Turismo Responsável’. O programa estabelece boas práticas para cada segmento. O selo é um incentivo para que os consumidores se sintam seguros ao viajar e frequentar locais que cumpram protocolos específicos para a prevenção da Covid-19.

Já no Amazonas, na última sexta-feira, 19, a Empresa Estadual de Turismo (Amazonastur) recebeu o Protocolo de Biossegurança dos Serviços Turísticos. O estudo reúne as principais orientações dos órgãos mundiais de saúde para as boas práticas sanitárias, que devem ser utilizadas no período pós-pandemia.

A cartilha oferece aos operadores, durante a retomada gradual dos serviços, orientações sobre as condutas a serem implementadas, nos empreendimentos, para que ofereçam aos turistas, consumidores e profissionais do setor a segurança necessária à prevenção da Covid-19, transformando o maior estado do país em um destino seguro para a atividade turística.

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