Família acusa homem de chicotear crianças indígenas em MT


Por: Ana Pastana

10 de dezembro de 2024
Família acusa homem de chicotear crianças indígenas em MT
Crianças indígenas da etnia Xavante foram agredidos em MT (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM | Imagens cedidas por Mara Xavante)

MANAUS (AM) – Quatro crianças indígenas da etnia Xavante foram agredidas com cordas por um homem apontado como proprietário de uma oficina de lanternagem e pintura, no município de Pontal do Araguaia (MT), a 405 quilômetros de Cuiabá. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), as agressões ocorreram após os meninos pegarem alimentos na casa do suspeito, que não teve o nome citado no documento. O caso aconteceu no dia 6 de dezembro.

Ainda de acordo com o BO, o caso foi registrado pela mãe das crianças, Maria Auxiliadora Wautomoda Wari Ubdi, no último dia 7, na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos, do município de Barra do Garças (MT), e denunciado à imprensa pela liderança indígena Xavante Mara Barreto Sinhowawe Xavante.

Relato da mãe das crianças agredidas à polícia (Imagem cedida por Maria Xavante)

A CENARIUM teve acesso a vídeos, nos quais mostram as vítimas sentadas em uma calçada, sem camisa e com hematomas pelo corpo. Nas imagens, um homem, que não teve o nome divulgado, mostra as quatro crianças feridas na região da costela, dos braços e até no rosto.

“Oh, bateu de chicote, bateu também no meu caçulinha, quase furou a costela dele. Da irmã também, olha o rosto dela”, disse o homem no momento em que grava o vídeo.

Imagens mostram hematomas pelo corpo das crianças (Imagens cedidas por Mara Xavante)

Em um outro vídeo, uma mulher filma a fachada da oficina de lanternagem e pintura, onde as crianças apontam que ocorreu a agressão. “Gente, foi bem aqui, os meninos disseram que eles apanharam foi bem aqui. Os meninos disseram, o Jhon Markley, Mara, Márcio e o Marcu, eles disseram que foi bem aqui. E eles estão bem machucados”, relata a mulher no vídeo.

Mulher mostra fachada de oficina onde crianças afirmam que ocorreu a agressão (Imagens cedidas por Mara Xavante)
Falta de suporte

Segundo a liderança indígena Mara Barreto Sinhowawe Xavante, os indígenas da região estão desassistidos pelo governo do Estado. “A minha revolta é de não ter assistência e políticas públicas. Não tem nada para nós, incentivos, nada. Nós não temos saneamento básico, não temos nada“, disse em áudio obtido pela reportagem.

A líder Xavante afirmou, ainda, que a violência sofrida pelas crianças indígenas é reflexo da ausência de políticas públicas voltadas para os povos originários da região. “Nós sofremos tanta injustiça aqui e as consequências estão aí, como eu já sabia, que a miséria é se multiplicar dentro dos territórios e a consequência está aí. Isso aí é um problema social. Isso aí é uma violência social. É falta de, como eu falei, de ações públicas, é falta de um trabalho também de conscientização, porque não tem, a gente passa muito preconceito”, declarou.

Mara Xavante é quem denuncia o caso à imprensa (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM | Foto de Isis Geanyne)

A CENARIUM entrou em contato com o número disponibilizado na fachada oficina onde as agressões teriam ocorrido e, até a publicação da matéria, não houve retorno. A reportagem também pediu esclarecimento do governo do Estado sobre as ações voltadas aos povos indígenas da região. O espaço segue aberto.

Veja o BO registrado pela mãe das vítimas:

Boletim de ocorrência registrado pela mãe das vítimas junto à Polícia Civil (Imagens cedidas por Mara Xavante)
Fepoimt se manifesta

A Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt) repudiou as agressões físicas sofridas pelas crianças indígenas e manifestou “completa indignação pela grave violência sofrida”. A entidade ressaltou, ainda, que o caso “não possui nenhuma justificativa para os atos de agressão registrados”.

“O racismo e as violências praticadas contra os povos indígenas de Mato Grosso vem acontecendo de forma recorrente aqui no estado, ameaçando diretamente os direitos constitucionais de diversas etnias, esse cenário exige uma atenção especial das autoridades para que os direitos garantidos pelo Estado Brasileiro no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seja cumpridos”, diz trecho da nota.

A Fepoimt disse que solicita que os órgãos de segurança e justiça atuem com urgência para que o caso “seja investigado e a lei seja aplicada devidamente sobre o agressor”. “Solicitamos especificamente que a polícia local e o ministério público se manifestem em relação a este caso como uma resposta necessária para os povos indígenas de Mato Grosso”, ressalta a organização.

Leia também: Liderança Xavante denuncia omissão do Governo de Mato Grosso
Editado por Jadson Lima e Adrisa De Góes

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