Família buscou ritual para curar gripe de menina que morreu queimada, diz advogado

Maria Fernanda de Camargo, 5, morreu após ser queimada em ritual religioso em Frutal (MG) (Reprodução)
Com informações do Infoglobo

RIO – Uma gripe persistente foi o que levou uma família de Frutal, Minas Gerais, a buscar o auxílio de um líder espiritual para curar Maria Fernanda Camargo, de 5 anos, que morreu após ter seu corpo quase totalmente queimado em um ritual, segundo o advogado José Rodrigo de Almeida. O episódio, que aconteceu no dia 24 de março, é investigado pela Polícia Civil mineira e levou à prisão temporária da mãe, tia e avós da criança na última quarta-feira, 27. O líder espiritual responsável pelo ritual também foi preso na operação, batizada de ‘Incorporação da Verdade’.

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De acordo com Almeida, que defende apenas os parentes de Maria Fernanda, a morte da criança foi um acidente, e a família não tinha intenção de machucar a menina. Segundo ele, a família estaria sendo vítima de preconceito religioso.

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“Ritual de invocação de espírito maligno, sacrifício humano, nada disso aconteceu. O que aconteceu foi o seguinte: em 2021, no ápice da pandemia, o tio e a tia da criança estavam intubados no hospital com Covid. Alguém na cidade falou que esse homem podia fazer um trabalho espiritual de cura. Eles realmente melhoraram depois e atribuíram a melhora ao trabalho”.

Assim, após Maria Fernanda ter desenvolvido uma gripe persistente, com episódios de febre, tosse e dor de garganta constantes, a família decidiu recorrer ao líder espiritual para curar a jovem. O ritual aconteceu na casa dos avós, simpatizantes da umbanda.

Segundo a versão do advogado da família, o médium teria feito a bênção combinada. Depois, a tia e a mãe de Maria Fernanda deixaram o aposento em que o ritual se realizava e, quando retornaram, o líder espiritual havia incorporado uma nova entidade. Ele, então, pediu uma bacia e um álcool com ervas usado em cerimônias de cura.

“Quando ele passou o álcool na cabeça da menina, a mãe disse: álcool não”, afirmou o advogado.

O líquido inflamável teria sido espalhado pelos cabelos, ombros e mãos da menina. A proximidade com uma vela teria provocado o início do fogo, que rapidamente tomou conta do corpo de Maria Fernanda. A mãe teria se jogado sobre a filha para apagar as chamas e acabou com queimaduras de 1º e 2º grau quando sua calça jeans foi incendiada. Os avós extinguiram as chamas da criança com auxílio de um tapete.

A primeira versão apresentada pela família era que a menina tinha se ferido em um acidente na churrasqueira da casa dos avós — o que, de acordo com Almeida, havia ocorrido com uma prima de Maria Fernanda anos atrás. A motivação para a mentira, segundo o advogado, era evitar o preconceito religioso. A família contou a verdade após o líder espiritual ter dado sua versão dos fatos.

De acordo com o delegado Murilo Antonini, a participação dos familiares da vítima é investigada como um possível caso de homicídio com dolo eventual, que ocorre quando os agentes do crime assumem os riscos de cometê-lo através de suas ações.

“O dolo eventual deles é no sentido de que tinham o dever de agir. Eles ficaram passivos vendo aquele espetáculo de horror”, diz o delegado.

Para o advogado, as ações da família mostram que eles agiram para proteger a menina.

Já a participação do líder espiritual está sendo entendida pela Polícia Civil como um caso de homicídio doloso. No depoimento prestado nessa quarta-feira, 27, o homem disse não se recordar dos momentos que antecederam a morte da menina.

“É impossível  um homem médio achar que o álcool em contato com uma vela acessa não vai sofrer combustão. A motivação dele não sabemos”, afirmou ainda Antonini, antes de apontar que novos fatos podem alterar a linha de investigação da polícia.

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