Familiares e amigos dão adeus a Carlos Terena, fundador dos ‘Jogos Mundiais dos Povos Indígenas’

O líder indígena estava internado desde o último dia 24 de maio no Hospital das Clínicas de Ceilândia, em Brasília (Reprodução/facebook)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – O fundador dos “Jogos Mundiais dos Povos Indígenas”, o líder indígena Carlos Terena, faleceu no último fim de semana em decorrência de complicações causadas pela Covid-19. Ele estava internado desde o último dia 24 de maio no Hospital das Clínicas de Ceilândia, em Brasília. Segundo informações divulgadas pela própria família, o indígena sofria de algumas comorbidades levando-o a um quadro de agravamento da doença.

Nas redes sociais, amigos, parentes e pessoas que acompanhavam a trajetória de Terena, lamentaram a partida. O irmão de Carlos, Marcos Terena, postou uma série de fotos que retratavam as ações desenvolvidas por Carlos em forma de homenagem, seguida da frase: “Meu irmão Carlos Terena é um dos quase 500 mil brasileiros vítimas da Covid-19”.

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Terena nasceu no distrito de Taunay em Aquidauana no Estado do Mato Grosso do Sul e, quando adulto, foi para Brasília consolidando sua participação na luta pelas causas indígenas, envolvendo a conscientização da preservação das culturas e tradições, demarcações de terra, entre outras causas dos povos a qual representava.

Marcos Terena relembrando as ações do irmão em prol das causas indígenas (Reprodução/facebook)

Jogos Indígenas

Mesmo engajado nas causas indígenas, foi com a criação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas que Carlos ficou internacionalmente conhecido. O maior evento desportivo do tipo foi fundado no ano de 2015. Terena afirmava que o principal objetivo dos Jogos era promover a conscientização e o resgate da identidade indígena a partir do esporte.

“Não é uma competição entre etnias, tampouco uma busca por medalhas. Quando vira apenas um campeonato, perde-se a fraternidade e a reciprocidade dos povos. Competir vai contra o pensamento dos povos indígenas. Apesar disso, precisamos estabelecer regras essenciais para evitar que os jogos sejam vistos como um momento folclórico dos índios. Estimulamos as seletivas e os treinamentos para que os atletas possam chegar ainda mais organizados”. disse o criador e coordenador-geral dos jogos em entrevista para Agência Brasil, em outubro de 2015.

Logo na estreia do evento desportivo, cerca de 2.300 pessoas participaram dos jogos. Foram 23 etnias do Brasil e delegações de 22 países em uma programação de 13 dias onde, além das das práticas esportivas, também houve momentos de celebrações culturais, gastronômicos e turísticos.

Em declaração ao site  Metrópoles, a filha de Terena, Melissa Môngé, informou que Marcos Terena deve dar continuidade aos Jogos Indígenas. “A ideia é que a gente continue dando andamento a isso, junto com o Marcos Terena. A gente tem uma perspectiva de que a próxima edição aconteça em 2022”, declarou a filha.

A comissão organizadora dos jogos também divulgou uma nota lamentando a morte do líder indígena. “Com muita tristeza recebi a notícia do falecimento do grande irmão e guerreiro Carlos Terena ocorrido no dia de hoje, sendo mais uma vítima da Covid 19. Ficam meus protestos contra o presidente genocida e irresponsável e meus votos de conforto para toda a família TERENA”, postou Daniel Munduruku.

Vale lembrar que Carlos também foi responsável pela fundação do Conplei (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas).

O líder Indígena Daniel Munduruku também lamentou a morte de Carlos (Reprodução/ facebook)

Família

Carlos era casado com Terezinha Batista e pai de duas filhas, Melissa Mõngé e Maíra Elluké, de 30 e 36 anos, respectivamente. A família divulgou na mídia uma nota sobre o falecimento de Terena ressaltando a sabedoria e a trajetória do homem, considerado por eles um “visionário”.

“Carlos Terena será sempre lembrado por sua coragem, intrepidez, inteligência e sabedoria ancestral. Foi um líder, realizador, homem visionário, apaixonado por suas raízes, tradições e cultura. Ele nos deixa um legado de paixão pelo trabalho com os povos indígenas, de sempre acreditar nos nossos sonhos e uma forte inspiração: para sempre ter orgulho de quem somos”, divulgou a família, em nota.

A despedida de Carlos foi em oração na língua terena, onde irmãos indígenas prometeram continuar a luta e do líder exemplo para seu povo. Foi sepultado na tarde desta segunda-feira, 14, no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, em Brasília.

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