Famílias com alto poder aquisitivo no AM estocam oxigênio em casa e geram crise de abastecimento

A pandemia do coronavírus está quase fora de controle no Peru.(Diego Ramos/AFP)

Carolina Givoni e Luís Henrique Oliveira- Da Revista Cenarium

MANAUS – A crise de abastecimento do oxigênio no Amazonas, causada em parte pela estocagem de cilindros adquiridos por famílias com alto poder aquisitivo da capital, fez o governador do Estado, Wilson Lima (PSC), mobilizar nesta quinta-feira, 14, o Ministério da Saúde (MS) para transferir 750 pacientes estáveis, infectados por Covid-19 para sete Estados.

“Meu primo tinha dois cilindros em casa e eu consegui um emprestado com ele. Quem comprou, comprou. Rodei a cidade toda atrás de um cilindro desses. Além da falta de local para abastecer, não encontramos nem o cilindro vazio para vender. Uma loucura”, afirmou à REVISTA CENARIUM, uma advogada que preferiu não se identificar.

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“Todo mundo precisando. Não sei para onde foram esses cilindros. Além disso, algumas empresas não estão abastecendo os cilindros grandes, somente os pequenos”, completou a familiar de uma paciente entubada na rede pública, acometida por Covid-19. Apesar dos esforços, a mulher não resistiu às complicações da doença e morreu nesta quinta-feira, 14.

Mercado de oxigênio

Em simples pesquisa na internet, é possível encontrar a oferta de cilindros de oxigênio por até R$ 3,5 mil. “Vendo cilindro de até 7 litros, com cerca de um metro cúbico, e de duração de até 3 horas”, diz trecho de um dos anúncios.

Em uma corrida pela busca por oxigênio, internautas compartilharam ainda contatos de diversas empresas fornecedoras de cilindros e que estão abastecendo, entre elas: Rubens Home Care, White Martins, Refri Gases, ManauAr, Best Home Care, Nitron e Carboxi.

O aumento nos valores chega a 384%, por exemplo, um cilindro de 300 metros cúbicos que antes custava R$ 165, hoje, está sendo oferecido por R$ 800 em alguns locais. Ao levar em consideração a necessidade de nove horas de uso de oxigênio, um paciente deve investir até R$ R$ 10, 5 mil.

Ação contra empresa

Wilson declarou que está tomando providências relacionadas à questão do oxigênio, que sofreu um aumento expressivo entre os dias 1º e 12 deste mês. “Entramos com uma ação na justiça contra a empresa, para garantir que ela abasteça em quantidade suficiente a rede hospitalar do Estado. Nós estamos numa operação de guerra onde os insumos, sobretudo a questão do oxigênio nas unidades hospitalares, hoje, é o produto mais consumido diante dessa pandemia”, explicou o governador.

Transferência emergencial

Diante disso, uma estratégia foi desenvolvida para a transferência dos pacientes. “Os governos e as Forças Armadas começaram a trabalhar para o apoio logístico e a entrega de oxigênio. Mas, tivemos um pico e um aumento da demanda acima do esperado”, explicou o secretário de Estado da Saúde, Marcellus Campêlo.

De acordo com o secretário, entre os meses de março e maio, houve um consumo máximo 30 mil metros cúbicos/mês. Hoje, são mais de 76 mil, um acréscimo de 160%. Cerca de 100 pacientes serão transferidos para hospitais da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), no Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás e Distrito Federal, além de mais 100 para a rede estadual de saúde de Goiás.

Marcellus explicou que a falta do insumo também prejudicará a abertura de leitos já prontos para serem habilitados em unidades como o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e no Hospital Nilton Lins, cuja estrutura está pronta para entrar em funcionamento. “Não conseguiram ativar leitos em virtude da contingência de oxigênio, que ocorre sem precedentes (no estado). É necessário que a população compreenda e apoie (as medidas)”, frisou.

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