‘Fator Amazônia’ e polo industrial ‘forçaram’ prioridade de vacinação em Manaus, dizem especialistas

Eduardo Pazuello mudou de postura dois dias após ter declarado que o Amazonas, apesar de duramente castigado, não teria prioridade na vacinação contra a Covid-19 (Reprodução/Isac Nóbrega)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após declarar que o Amazonas não teria tratamento prioritário na vacinação contra Covid-19, o general Eduardo Pazuello, voltou atrás e nesta quarta-feira, 13, durante entrevista declarou que Manaus “é prioridade”. Com a reviravolta, a capital amazonense será a primeira cidade brasileira a receber a vacina.

“Vamos vacinar em janeiro e Manaus será também a primeira a ser vacinada. Ninguém receberá a vacina antes de Manaus”, disse o ministro. A fala surpreendeu a imprensa e críticos, sobre quais as razões motivaram o governo para dar tratamento de urgência ao Estado que sofre com a ‘fase roxa’ de contaminação do novo Coronavírus.

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Para a vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, a simbologia do Polo Industrial de Manaus (PIM) pesou. “Manaus abriga um dos maiores polos industriais do País. Ele dialoga com o mundo, já que é composto por centenas de indústrias internacionais e não fica bem para o governo, ter uma crise dessa proporção em um parque fabril que abastece maciçamente o Brasil”, ponderou.

Política pesou

Ainda para a economista, o que fator primordial foi a questão política. “A economia pode ter relevância, mas foi a pressão política que forçou o governo a voltar atrás. Até porque a agenda econômica do atual governo é meio confusa. É muito caro ao governo ter uma crise na Amazônia e isso tem outra interpretação negativa mundo afora”, observou.

Para Kassama, o desgaste do governo é alto quando o assunto é Amazônia. “Apesar de muitos líderes mundiais fazerem extensas declarações sobre a Amazônia sem nunca terem colocado os pés aqui, é fato que o tema é sensível. Qualquer ruído nessa direção causa uma ‘dor de cabeça ao governo federal”, completou.

Despreparo

O sociólogo do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio, classificou a postura de Eduardo Pazuello como ‘sofrível’. “Temos mais de seis mil militares em postos de comando. Há indicadores que apontam o dobro disso em cargos intermediários. Eles não entendem absolutamente nada. O Pazuello é um exemplo’, apontou.

“Os militares brasileiros são sofríveis, são miseráveis do ponto de vista do conhecimento cognitivo”, criticou duramente. “O Estado brasileiro gasta milhões na formação militar. E quando o ministro, um general supostamente especializado em logística, não se dá conta que seria preciso aumentar a produção de seringas para a vacinação, é inaceitável. Porque é algo óbvio, banal”, finalizou.

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