Federais investigam irmã do prefeito de Manaus sobre sorteio de casas populares

David Almeida e Dulce Almeida: irmãos viram alvo de investigação federal (Semcom)
Victória Salles – Da Revista Cenarium

MANAUS – Agentes da Polícia Federal (PF) e membros do Ministério Público Federal (MPF), no Amazonas, informaram, com exclusividade, à REVISTA CENARIUM que a irmã do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), que também é presidente do Fundo Manaus Solidária, Dulce Almeida, é investigada como a responsável direta pelas mudanças na lista enviada à Caixa Econômica de “famílias aptas” a receberem apartamentos populares no Residencial Manauara 2, segunda etapa, inaugurado no dia 18 de agosto.

Voltado a pessoas de baixa renda e moradores de áreas de risco, o programa de casas populares da Prefeitura de Manaus, em parceria com o governo federal, contemplou familiares da filha do prefeito, Fernanda Aryel, a chefe de gabinete de David Almeida, parentes de assessores do prefeito e até empresários. Após repercussão negativa do caso em âmbito nacional, David Almeida informou que demitiu servidores ilegalmente beneficiados.

Dulce Almeida – que permanece no cargo – é citada em depoimentos prévios como sendo a pessoa que conduziu as alterações na lista de famílias habilitadas a receberem os apartamentos da Caixa, cuja elaboração ocorreu em 2020, quando o atual prefeito de Manaus ainda não estava no cargo.

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O Manaus Solidária é ligado à Secretaria Municipal de Assistência Social (Semasc), órgão da prefeitura responsável pela seleção de candidatos habilitados a receber os apartamentos. Seguindo a regra do programa, que contou com recursos federais, a seleção das famílias deveria acontecer mediante avaliação presencial.

A PF e o MPF investigam, também, a participação de funcionários do alto escalão da Superintendência Regional da Caixa Econômica, no Amazonas, na suspeita de direcionamento do sorteio dos apartamentos. Os responsáveis pelo caso nas duas instituições federais preferiram não se identificar e não repassar outros detalhes para não atrapalhar o andamento das investigações que corre sob sigilo.

Dulce Almeida foi a principal coordenadora da campanha eleitoral de David Almeida, no ano passado, e lidava diretamente com líderes comunitários que, em alguns casos, são, hoje, funcionários comissionados da Prefeitura de Manaus, com salários acima de R$ 2 mil, renda máxima prevista no programa social do Residencial Manauara.

Procurados para falar sobre a matéria, o prefeito de Manaus e a irmã dele não se pronunciaram, segundo a Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom).

Tráfico na lista

Há, também, dentre os contemplados com apartamentos populares da Prefeitura de Manaus, pessoas envolvidas com o crime de tráfico de drogas, praticados em anos posteriores à eleição de 2020, apontaram os agentes da Polícia Federal à CENARIUM.

O caso das ilegalidades no Residencial Manauara 2 foi parar no MPF após denúncia formalizada à instituição. Com documentos em mãos, o Ministério Público Federal requisitou à PF apuração de dados e perícia em documentos e sistemas. Ainda não há prazo para a conclusão das investigações.

Em agosto, David Almeida alegou que “problemas acontecem”, ao ter sido questionado, na Rádio BandNews Difusora, sobre uma assessora dele – chefe de gabinete – ter sido uma das servidoras do Executivo Municipal contempladas no sorteio da Caixa Econômica para receber apartamentos.

 “Com relação aos servidores da prefeitura, todos foram afastados. Isso pode ter acontecido, porém, nós tomamos todas as providências necessárias para que não houvesse prejuízos e todos aqueles que estão ligados à prefeitura e que não se enquadrem à faixa de renda, nós estamos solicitando à Caixa que reveja esses contratos e que possa fazer exatamente a exclusão desses nomes, assim como nós já fizemos, exonerando esses servidores. Problemas acontecem, mas eles precisam ser corrigidos imediatamente”, justificou-se Almeida.

Reincidência familiar

Não é a primeira vez que David Almeida tem familiares envolvidos em suspeitas de ilegalidades em sua gestão, à frente do Poder Executivo. Quando foi governador interino em 2017, o atual prefeito virou notícia após vazar um áudio do irmão dele, Daniel Almeida, intimidando uma candidata à fornecedora da Secretaria de Saúde do Amazonas, antes, Susam, hoje, SES.

No áudio, Daniel Almeida pressionava a diretora do Instituto Gente Amazônica (Igam), identificada como Maria, que denunciou o superfaturamento de 780 cirurgias no Hospital Delphina Aziz.

A gravação foi divulgada um dia após o deputado Dermilson Chagas ter denunciado que o, então, secretário estadual de Saúde, Vander Alves, pagou para o Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento (Imed), que administra o Hospital Delphina Aziz, cerca de R$ 8,4 milhões por 780 cirurgias, o que dá em torno de R$ 10 mil por procedimento.

Daniel, no áudio, questiona o fato de Maria ter exposto o caso nos jornais. “O Vander (Alves, secretário de Estado da Saúde) quer brincar com coisas sérias. Eu tentei conversar. Isso não se faz. Nós temos a população morrendo e o cara está superfaturando R$ 10 mil por cirurgia. Você acha certo isso?”, disse a empresária.

O irmão de David rebateu afirmando que ao divulgar o caso, Maria expôs seu irmão – então, governador. “Você me colocou numa situação difícil, Maria. Eu que te levei lá”, disse o irmão de David Almeida. O caso foi levado ao Ministério Público Estadual (MP-AM), que arquivou a denúncia contra o prefeito de Manaus e o irmão dele.

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