Feminismo: obra inédita de Simone de Beauvoir chega ao Brasil 70 anos após ser escrita

Romance autobiográfico exibe os primeiros passos de Beauvoir rumo aos questionamentos que a tornaram um ícone entre as mulheres (Reprodução/Divulgação)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um dos pilares do movimento feminista chega ao Brasil. Escrito há 70 anos, a obra “As Inseparáveis” da escritora feminista Simone de Beauvoir finalmente está acessível aos brasileiros. O romance autobiográfico traz reproduções de cartas e fotos da juventude da escritora que é considerada um ícone do existencialismo. O livro está à venda no site record.com.br

Zaza à esquerda e Simone à direita, uma amizade que mudou os rumos da existência feminina na sociedade moderna (Reprodução/Internet)

“As Inseparáveis” é de 1954 e foi lançado cinco anos após o rumoroso ‘O Segundo Sexo’, pilar do movimento que redimensionou o papel da mulher na sociedade contemporânea. A obra é marcada pela profunda amizade entre as personagens Sylvie (Simone de Beauvoir) e Andrée (Élisabeth Lacoin, a Zaza).

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Para a psicóloga Neyla Siqueira, a discussão de Beauvoir é atual. “A discussão proposta por Beauvoir questiona o que a sociedade da época, que não se difere muito nesse ponto da atual, entende e impõe como o papel da mulher. Sua célebre frase ‘não se nasce mulher, torna-se mulher’ é compreendida por muitos como uma afronta ou ainda como a famigerada ideologia de gênero”, lamentou.

A elegante Simone de Beauvoir é autora de um dos livros de cabeceira da luta feminista: “O Segundo Sexo” (Reprodução/Internet)

Essa incompreensão contribui negativamente para o debate. “Na verdade, seu objetivo sempre foi questionar os padrões determinados socialmente à mulher, como a feminilidade, delicadeza, fragilidade. Quando na sua verdade a mulher nasce sem essas amarras, mas é a sociedade que as determina, ou seja, as torna mulher, uma vez que antes ela era somente humana”, ponderou.

Trama existencial

Nas páginas de “As Inseparáveis” estão os diálogos de duas mulheres que se encontram diante das condições sociais impostas por uma sociedade conservadora. As duas se conhecem na infância, aos nove anos. Sylvie é tradicional e retraída, já Andrée é divertida, livre e audaciosa. A vivacidade de Andrée atrai Sylvie. Mas, tanta audácia é resultado de um ambiente familiar repressor no qual vive Andrée.

Juntas, as amigas enfrentam o mundo opressor, sexista e machista a qual não aceitam ser submetidas. Ao lutar pela liberdade e pela queda de um futuro asfixiante, Sylvie e Andrée pagam um preço alto. O romance autobiográfico expõe a gênese do individualismo nascente, então, na alma e na obra de Simone de Beauvoir.  

Legado

O legado encontrado em “As Inseparáveis” é exatamente o marco das lutas intelectuais que a autora passaria a travar diante do mundo que ela faz questão de denunciar como hipócrita e fanático. Tudo pode ser conferido nas correspondências trocadas entre Simone e Zaza. Uma obra necessária para se entender os dias de hoje.

Simone de Beauvoir no final da década de 1960, em Paris, a cidade onde travou suas lutas intelectuais (Reprodução/Internet)

“A quebra desses paradigmas sociais do ser mulher é uma das suas maiores contribuições, dentre tantas. No cenário atual se prevê uma nova onda feminista pautada justamente na equidade de gênero, ou seja, com a adequação de condições em conformidade com as peculiaridades de cada pessoa, assim Simone contribui para a superação de estigmas do feminino”, finalizou Neyla Siqueira.

Edição: Alessandra Leite

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