‘Ficamos sitiados’: professores denunciam cerco de agentes da prefeitura após ato em Manaus
Por: Jadson Lima
21 de novembro de 2025
MANAUS (AM) – Professores da rede municipal de ensino de Manaus, Elisiane Andrade e Jamisson Maia afirmaram à CENARIUM, nesta sexta-feira, 21, que os servidores da educação que participavam de um ato contra o prefeito David Almeida (Avante) foram cercados por agentes da Guarda Municipal e do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (Immu). A manifestação ocorreu na quinta-feira, 20, no Complexo Turístico da Ponta Negra, Zona Oeste da capital amazonense, e registrou agressão do segurança do gestor da cidade contra uma servidora da Secretaria Municipal de Educação (Semed).
A mobilização dos profissionais ocorreu um dia após a sanção da Reforma da Previdência municipal, que altera regras de aposentadoria para servidores que ingressaram no serviço público a partir de 2003, e durante a greve iniciada pela categoria em reação às mudanças aprovadas na Câmara Municipal de Manaus (CMM). A ação dos agentes da prefeitura foram registradas por vídeos que circulam nas redes sociais.

De acordo com a professora Elisiane Andrade, a confusão começou quando os funcionários da prefeitura foram ao local para tentar retirar o carro de som utilizado pelo movimento. A professora afirmou que um dos guardas usou spray de pimenta contra os participantes do ato, descreveu que houve diversas tentativas de remoção do veículo e disse que o grupo foi cercado no perímetro onde estava concentrado.
“Eles queriam que nós revidássemos para justificarem a violência e a repressão que estavam orientados a fazer. Eles fizeram várias tentativas de retirar o nosso carro. E aí, por conta dessa situação, eles vieram de uma forma mais autoritária e nos cercaram ali no perímetro. Ficamos horas tentando sair e eles não permitiam que nós saíssemos”, disse.
O professor Jamisson Maia, do comando de greve da Zona Norte, confirmou que os participantes do ato contra David Almeida permaneceram por mais de três horas sitiados no local durante o isolamento do perímetro da manifestação pelos agentes municipais. As ações atribuídas aos funcionários da gestão de Almeida foram classificadas por ele como inadmissíveis e em desacordo com princípios constitucionais.

“Infelizmente, o prefeito David Almeida, com os seus capangas, enviou com truculência a Guarda Municipal contra os professores e pedagogos, querendo retirar o carro de som. Queremos dizer à sociedade que, desde o início, fizemos atos pacíficos e ordeiros. Mas, infelizmente, o prefeito David Almeida agiu com truculência. É inadmissível que aconteça esse tipo de truculência, porque nós ficamos mais de três horas sitiados na Ponta Negra”, disse.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Manaus negou agressão e reforçou “a importância do respeito em todas as esferas da administração pública, tanto de servidores, no ato de sua função pública, quanto de cidadãos, ao se expressarem de forma pacífica e democrática”.
‘Atentado à Democracia’, diz especialista
O sociólogo Luiz Antônio Nascimento afirmou à reportagem que a ação dos agentes da Prefeitura de Manaus é um atentado à democracia. Ele apontou que a manifestação dos servidores da educação que ocorreu no local está amparada no direito constitucional de manifestação, previsto no artigo 5º da Constituição Federal. Para o especialista, esse direito permite que trabalhadores se reúnam em vias públicas mediante comunicação prévia às autoridades, sem necessidade de autorização ou licença formal.
“Só um governo absolutamente autoritário, irresponsável e, mais, um governo que tem a blindagem da Câmara Municipal de Manaus e do Ministério Público Estadual, pode cometer esse tipo de crime contra os direitos básicos dos trabalhadores brasileiros”, disse Nascimento.
O sociólogo também mencionou que acompanha a atual gestão municipal e descreveu pontos que considera relevantes para compreender o contexto do episódio, citando procedimentos administrativos, processos de contratação e a atuação de órgãos públicos. Ele afirmou que, em sua visão, a forma como os acontecimentos ocorreram pode gerar reações sociais e institucionais.
Greve foi encerrada
A CENARIUM apurou que, um dia após o ato na Ponta Negra, os professores da rede municipal de ensino decidiram, em assembleia geral convocada pela Asprom Sindical, encerrar a greve. De acordo com informações repassadas à reportagem os profissionais da educação vão retornar às atividades na próxima segunda-feira, 24.