Filha de Thiago de Mello prepara documentário sobre bastidores de tombamento de casas do poeta no AM

Isabella Thiago de Mello deu detalhes do projeto à Revista Cenarium (Antônio Pereira/Semcom)

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS – Isabella Thiago de Mello, roteirista, cineasta e filha do poeta amazonense Thiago de Mello, está produzindo um documentário que conta a história dos dois processos de tombamento – federal e estadual – de imóveis do artista no município de Barreirinha, interior do Amazonas. Cinco casas do poeta estão no processo de tombamento, quatro dessas pertencem ao Estado e à Prefeitura de Barreirinha e uma pertence à família.

Isabella já iniciou a primeira etapa das filmagens no mês de fevereiro, em parceria com o cinegrafista Grego Kellari, na cidade de Barreirinha, onde estão construídas as únicas obras do arquiteto Lúcio Costa na Amazônia.

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Os detalhes foram divulgados à REVISTA CENARIUM durante programação dedicada ao aniversário de 96 anos do poeta, na tarde desta quarta-feira, 30. Isabella conta que, em 2013, soube por meio dos moradores de Barreirinha que a casa do poeta na cidade corria risco de demolição.

“Moradores da cidade de Barreirinha avisaram que a casa do poeta, localizada na rua em frente ao Rio Paraná do Ramos ia entrar no ‘bota-abaixo’ da antiga gestão da prefeitura para fazer a obra de ampliação do porto da cidade”, disse Isabella.

Isabella estava em Manaus fazendo pesquisa para um outro documentário sobre ‘As Antigas Civilizações Amazônicas de Tuinho Schwartz’ e fez o texto para a imprensa denunciando o aviso de demolição das casas. Com a notícia do risco de demolição a produtora fez um texto e reuniu fotos para denunciar o fato. Após isso, enviou para jornais dos estados do Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro.

De acordo com Isabella, a arquiteta Sheila Campos, Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), leu o jornal e embargou a obra de ampliação do Porto por não haver o Estudo Arqueológico obrigatório, e também salvaguardou a arquitetura de Lúcio Costa.

“Quando eu e Papai chegamos no IPHAN para dar entrada no processo para proteger as casas (tombamento), a Superintendente Sheila Campos nos avisou que a tal obra de ampliação de porto havia sido embargada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, explica Isabella.

“Apresentamos registros e documentações sobre a importância cultural e histórica das casas para esse tombamento federal do Iphan. A obra foi embargada, a casa ficou em pé e isso deu um ânimo no papai. Ele parecia um menino de novo”, disse.

“Assim que o papai partiu, em janeiro, eu me despedi dele, beijei sua mão, seu rosto e prometi que só ia sair da terra dos Manaós com o tombamento estadual feito. O tombamento federal do IPHAN está iniciado, chegou na última instância para aprovação com quase 10 anos no processo. O estadual é aqui e agora”, disse.

Porantim escorado

Quando voltaram das filmagens de Barreirinha, Isabella e sua equipe testemunharam que o segundo andar da casa do Porantim estava caindo porque 3 vigas principais apodreceram. “Assim que voltei de Barreirinha, em Manaus, a primeira coisa que eu fiz foi avisar ao secretário de Cultura Marcos Apollo, com as fotos do Relatório Fotográfico Arquitetônico que o Porantim estava caindo e que precisava ser escorado imediatamente, sem esperar Tombamento”, lembra.

Isabella explica que Porantim é o Remo Sagrado da Nação Sateré Maué. “Nele está inscrita a história de “Noçoquém”, o Lugar da Felicidade Perdida, o nosso Paraíso. Está inscrita também as leis dos homens. No livro do antropólogo Nunes Pereira chamado Moronguetá, ele ensina sobre o Porantim. Papai deu o nome da primeira casa de ‘Porantim do Bom Socorro'”, conta a filha do poeta.

“Neste instante em que estamos comemorando os 96 anos do poeta Thiago de Mello, a primeira casa que ele construiu no seu regresso ao Amazonas – com projeto de Lúcio Costa – está sendo escorada. O Porantim vai aguardar o seu restauro de pé, graças ao Secretário de Estado de Cultura do Amazonas, Marcos Apolo, e o Prefeito de Barreirinha, Glênio Seixas. Viva o escoramento do Porantim!”, comemorou a produtora.

Compromisso do Governo do Estado

Isabella agradeceu o empenho do governador Wilson Lima e do secretário de Cultura Marcos Apollo em tornar a memória do poeta da floresta real por meio dos tombamentos. A roteirista explica que o tombamento estadual se faz a partir de um projeto de lei, que está sendo escrito pelo deputado Tony Medeiros (PSD) com assessoria jurídica do Instituto Thiago de Mello.

“O Projeto de Lei do Tombamento será apresentado pelo deputado Tony Medeiros. Quem está elaborando o texto e fazendo a assessoria jurídica é o Instituto Thiago de Mello onde eu assino o Departamento de Projetos Especiais junto com o advogado Neilo Batista. Estamos certos que teremos a aprovação da Casa Legislativa com larga maioria. O deputado Tony acredita na unanimidade”, disse Isabella.

“O processo estadual é muito parecido com o processo federal do IPHAN. Mas no estadual é um Projeto de Lei que, se aprovado, está feito o tombamento. A partir do tombamento, vem o diagnóstico, depois o restauro e por fim, é visto o destino das casas”, completa.

Isabella Thiago de Mello conta que prometeu ao seu pai que só sairia de Manaus depois do tombamento estadual de suas casas, em Barreirinha (Anderson Oliveira/Semcom)

A casa de Praia do Rio Andirá é a única casa que faz parte do Tombamento (federal e estadual) que é de propriedade particular, e que pertence a família do poeta Thiago de Mello porque foi a única que o escritor não vendeu para o governo.

“A casa que é nossa, com Thiago, meu irmão mais novo à frente, já está totalmente restaurada. Ele teve êxito no projeto de arrecadação de recursos pela internet, o crowdfunding, onde várias pessoas contribuíram para o restauro. Mas as quatro casas que são patrimônios que o papai vendeu para o governo estão abandonadas”, lembra.

Isabella vê o projeto de tombamento com bons olhos, porque, segundo ela, a partir de agora, sob gestão de Wilson Lima e Apolo, há plena consciência da importância desse patrimônio e dessas casas, para educação, para cultura e para o turismo.

“Você já imaginou na época do Festival dos Bois de Parintins com turistas que estão ali, brasileiros e estrangeiros, quando souberem que estão a trinta minutos de lancha, de visitar a casa do poeta Thiago de Mello e das únicas obras do arquiteto Lúcio Costa, que é conhecido no mundo inteiro?”, questionou.

A produtora conta que prometeu ao seu pai, que só sairia de Manaus depois do tombamento e do diagnóstico de gestão. “Eu estou me mudando para Manaus para poder realizar esse trabalho e com muita alegria. É uma alegria sentida porque o papai partiu, mas eu acredito na imortalidade da alma, eu acredito, eu o vejo com asas”, finaliza Isabella.

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