Filósofa e escritora Sueli Carneiro se torna a primeira mulher negra intitulada Doutora Honoris Causa pela UnB

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A Universidade de Brasília (UnB) titulou na tarde desta quarta-feira, 21, a filósofa e escritora Sueli Carneiro. A outorga foi uma forma de reconhecimento do programa de “Direitos Humanos UnB” ao trabalho e trajetória da ativista que luta pelos direitos das mulheres negras e fundadora da primeira organização negra e feminista de São Paulo, o Geledés.

“É com muito orgulho que recebo essa honraria extraordinária, o primeiro título honoris causa outorgado a uma mulher negra pela UnB. Me alegra ainda mais o fato desse reconhecimento que me é dado, hoje, vir precedido de outros gestos de grande impacto ou simbolismo que a UnB vem dirigindo à comunidade negra“, celebra Sueli Carneiro ao relembrar que a UnB foi a primeira universidade federal do País a reservar percentagem de vagas para estudantes negros.

“A primeira federal a reservar 20% das vagas para estudantes negros, em 2003, no marco institucional de um Plano de Metas para Integração Social, Étnica e Racial desta universidade. O sistema foi implementado mudando, significativamente, o perfil do campus com a inclusão de mais de 30 mil estudantes por meio das cotas raciais“, relembrou.

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Fortalecimento

Na leitura da titular do Departamento de História da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pesquisadora de História Indígena e da Escravidão Africana na Amazônia (Hindia), Patrícia Alves Melo, a figura de Sueli traduz conhecimento e trajetória dedicada às lutas negras no País. A pesquisadora ressalta que a homenagem concedida pela universidade é reconhecimento institucional do saber aliado ao compromisso social.

“Ela é uma das intelectuais mais potentes desse País, porque ela alia o esforço de reflexão intelectual, muito relevante no campo acadêmico, somado a uma ação política sistemática em defesa de mulheres negras, direitos civis e combate à violência e racismo por meio do Geledés, uma organização dirigida por ela há várias décadas”, considera a profissional que complementa:

“O reconhecimento institucional por outra instituição importante como a UnB é o reconhecimento na verdade de uma trajetória de letramento de construção de um saber associado à experiência da negritude desse País comprometida com a pauta antirracista de fortalecimento das lutas negras, junto com uma trajetória de compromisso social e intenso trabalho acadêmico“, destaca.

Dos 66 títulos outorgados de professor e Doutor Honoris Causa, apenas 7 mulheres integram a lista e dentre os homens, apenas três são negros. O título é concedido a pessoas com projeção nacional ou internacional, que “contribuíram, de modo notável, para o progresso das Ciências, Letras, Artes ou Cultura em geral e/ou que tenham beneficiado de forma excepcional à humanidade ou ao País”.

Sobre Sueli

Nos últimos 20 anos, Sueli Carneiro também recebeu outras honrarias, dentre elas Menção Honrosa no Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth, Prêmio Benedito Galvão, Prêmio Itaú Cultural 30 anos, Prêmio Vladimir Herzog, Prêmio Bertha Luz e Prêmio Direitos Humanos da República Francesa.

Nascida em 24 de junho de 1950, em São Paulo, Sueli Carneiro é considerada uma das principais referências do feminismo negro no Brasil. Além do Organização Geledés, fundada por ela em 1988, que é também referência no Brasil, Sueli possui mais de 100 artigos publicados e diversos livros voltados para pauta de gênero, classe e raça.

Um título que recebo com a humildade de quem o compreende como o reconhecimento da justeza das lutas de mulheres e homens negros que clamam por um novo pacto civilizatório que desaloje os privilégios consagrados de gênero e raça que o experimento colonial forjou em todas as dimensões da vida social.

Sueli Carneiro.