Flotilha com indígenas e aliados cruza Amazônia rumo à COP30 em Belém
Por: Fred Santana
18 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – Em um gesto simbólico que ressignifica trajetórias históricas, a Flotilha Amazônica Yaku Mama iniciou sua jornada no dia 16 de outubro de 2025, partindo da cidade de Coca, na província de Francisco de Orellana, no Equador, rumo a Belém, no Brasil, onde será realizada a COP30. A expedição, que percorre cerca de três mil quilômetros pelo Rio Amazonas, é liderada por povos indígenas, organizações territoriais e aliados internacionais.
Com cerca de 50 delegados, a flotilha reúne representantes de nove países – Guatemala, México, Panamá, Colômbia, Equador, Peru, Brasil, Indonésia e Escócia – que se uniram para exigir o fim da extração de combustíveis fósseis na Amazônia e uma transição energética justa.
O nome “Yaku Mama”, que significa “Mãe das Águas” em quíchua (língua indígena ainda hoje falada nos países da cordilheira dos Andes), reflete a conexão espiritual dos povos indígenas com os rios e florestas da região e reforça o protagonismo das comunidades que vivem e defendem o território.
Durante a travessia, a flotilha percorre comunidades ribeirinhas e terras indígenas, denunciando o avanço da mineração ilegal de ouro, os vazamentos de petróleo e o impacto dos monocultivos, que já devastaram mais de 4,5 milhões de hectares de floresta nos últimos anos. O grupo busca chamar atenção para o custo humano e ambiental do extrativismo e para as “cicatrizes” deixadas pelas atividades econômicas que ameaçam a Amazônia.

Reivindicações
Entre as principais reivindicações estão o reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas, o financiamento direto para comunidades que protegem a floresta, uma transição energética justa e o compromisso de encerrar novas frentes de exploração de petróleo e gás na região.
Lideranças indígenas destacam que, para os povos da Amazônia, a crise climática não é uma abstração, mas uma realidade concreta que se manifesta na invasão de terras, na contaminação dos rios e na destruição de modos de vida tradicionais.
A escolha do ponto de partida da viagem tem forte carga simbólica. Em 1541, o conquistador espanhol Francisco de Orellana partiu da mesma região em uma expedição que resultou na “descoberta” do rio Amazonas. Séculos depois, a flotilha inverte essa rota, transformando-a em um caminho de reconexão e resistência. Segundo as lideranças, a Yaku Mama representa um movimento de retomada e de voz dos povos originários em defesa da Amazônia como patrimônio comum da humanidade.
Pressão durante a COP30
A chegada a Belém está prevista para os primeiros dias de novembro, às vésperas da COP30. Os participantes pretendem apresentar suas demandas durante a conferência e pressionar líderes mundiais por compromissos mais firmes de proteção ambiental.

Segundo os organizadores, além do caráter político, a travessia também tem dimensão cultural e espiritual. A flotilha leva consigo símbolos, cantos e rituais ancestrais, reafirmando o papel das comunidades indígenas como guardiãs das florestas e das águas.
Ao navegar pelo Rio Amazonas, os participantes afirmam querer mostrar que já existem alternativas sustentáveis sendo praticadas nos territórios, como o monitoramento comunitário, a valorização da ciência ancestral e a produção baseada no respeito à natureza.
