Foirn lança nota sobre a visita de Jair Bolsonaro a São Gabriel da Cachoeira

"O desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade", diz um trecho da nota (Juliana Radler/ISA)

Com informações da assessoria

MANAUS – Com 23 povos indígenas do Rio Negro, representados pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), organização fundada em 1987 para defender nossos direitos a terra e à autodeterminação, lança nota que deixa pública com a profunda insatisfação com a conduta do presidente da República, Jair Bolsonaro, em sua visita ao município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, nos dias 27 e 28 de maio de 2021.

Finalizamos em 2020 os nossos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), previstos na Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI). Esses planos, feitos junto com a Funai, são documentos nos quais apontamos os rumos para o desenvolvimento nos nossos territórios. Entretanto, mesmo a Foirn sendo a instituição que há mais de três décadas trabalha em prol de políticas públicas para os povos da região, não fomos incluídos na agenda e sequer convidados para qualquer diálogo com o presidente da República a respeito destes planos de gestão e outros temas de nosso interesse.

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O líder máximo do Brasil, contudo, preferiu uma agenda feita “as escondidas”, na qual ele e seus assessores se deram ao trabalho de “preparar palanque” para fotos e vídeos de sua campanha eleitoral para 2022. Ao invés de convidar as lideranças e instituições reconhecidas e comprometidas com o coletivo, privilegiou uma agenda com líderes autoproclamados, como ocorreu na Terra Indígena do Balaio, para mais uma vez produzir fake news e narrativas grotescas sobre nosso povo e nossa cultura. Em sua live semanal, gravada ontem no Pelotão de Fronteira de Matucará, o presidente comparou a medicina tradicional indígena com o kit Covid, tentando ridicularizar a CPI do Senado, que investiga às denúncias de prescrição de remédios sem eficácia, como a cloroquina. Mais uma vez, Bolsonaro demonstra apreço em confundir a opinião pública para se livrar de acusações graves em relação à condução da gestão da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 450 mil brasileiros.

O desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do povo Balaio, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo. Seu ato de simplificar e generalizar não condiz com sua posição de presidente da República. “Bolsonaro mais uma vez ignora os problemas e humilha o povo brasileiro. O presidente não encontrou com as instituições que mais ajudaram a combater a pandemia de Covid-19 aqui na região e sequer fez menção ao combate ao garimpo ilegal, narcotráfico e outros assuntos graves que assolam as terras indígenas aqui na região da tríplice fronteira com a Venezuela e Colômbia”, ressalta Marivelton Barroso, do povo Baré, presidente da Foirn.

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