Folha de S. Paulo: esquema de propina no Ipaam ocorreu nos governos Omar e Melo, aponta PF

Ilegalidades no Ipaam, acerca da extração e transporte de madeira da Amazônia foram cometidas durante os mandatos dos ex-governadores do Amazonas, Omar Aziz e José Melo (Arte: Samuelknf/ Revista Cenarium)

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um esquema de propina no Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), detalhado em reportagem deste domingo, 6, no jornal Folha de S. Paulo e que facilitou a extração e transporte ilegal de madeira da Amazônia, ocorreu durante os governos de Omar Aziz (2010-2014) e José Melo (2014-2017).

As informações são oriundas da Polícia Federal (PF) que desencadearam a “Operação Arquimedes” em 2017, com fases em andamento. A reportagem da Folha identificou a existência de 61 madeireiras suspeitas de operar no mercado ilegal, principalmente, no sul do Amazonas com objetivo de enviar o carregamento ilegal para América do Norte, Europa e Ásia.

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No governo de José Melo, o Ipaam foi presidido por Ana Eunice Aleixo que ocupou cargo de 2015 a 2017. Ana morreu em maio deste ano com câncer. Já no governo de Oma Aziz, o instituto estava sob o comando de Antônio Ademir Stroski. Os dois gestores foram alvos da operação.

Segundo o procurador da República Leonardo Galiano, que conduziu a investigação no âmbito do Ministério Público Federal (MPF), o pedido de prisão de Stroski ainda foi solicitado, mas indeferida pela Justiça, à época.

Em março de 2015, o governador José Melo transferiu Stroski do Ipaam para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) (Reprodução/ Internet)

O esquema

Um alerta emitido pela Receita Federal e pelo Ibama constatou aumento incomum do trânsito de madeira pelo porto Chibatão, em Manaus, quando um carregamento de 479 contêineres foi apreendido sem documentação em 2017 e revelou forte esquema que era realizado há algum tempo. De acordo com a PF e o próprio MPF, as ilegalidades eram disfarçadas por meio de fraudes nos sistemas de planos de manejo florestal sustentável, que são as áreas nas quais é permitida a extração de madeira, e dos documentos de origem florestal, que são as guias necessárias para o transporte de madeira.

O volume de madeira apreendido nos contêineres – cerca de 10 mil metros cúbicos, se fosse enfileirado, cobriria a distância de 1,5 mil quilômetros, equivalente ao percurso entre Brasília e Belém, aproximadamente (Arte: MPF)

Propina era ‘bênção’

A propina, chamada ainda de “bênção”, “foto”, “folha”, “peixe”, “pacotinho” e “espiga”, como consta dos diálogos telefônicos captados nas investigações, era paga para agilizar essas licenças necessárias; impedir fiscalizações; ou garantir que áreas protegidas constassem como áreas com permissão de uso pelas madeireiras.

Uma segunda fase da operação, batizada de Operação Arquimedes II, foi deflagrada em 2019 para dar continuidade aos crimes cometidos. Foram cumpridos 23 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 109 mandados de busca e apreensão no Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, São Paulo e no Distrito Federal.

O índio e a cerveja

Durante uma live no no dia 20 de novembro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou atribuir aos indígenas e nativos da região amazônica o aumento do número de desmatamento.

Ao lado do superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Saraiva, Bolsonaro declarou que indígenas no país trocam tora de árvores por “presentes”. “Existe o desmatamento ilegal? Existe! Existe até locais onde o índio troca uma ‘tora’ por uma Coca-Cola ou cerveja”, disse.

Saraiva argumentou . “Já aconteceu da madeira em terra indígena ser negociada por valores pífios, mas a grande causa do desmatamento é a fraude nos processos administrativos que foram gerados lá atrás”, disse o delegado, responsável por comandar a Operação Arquimedes.

Leia a matéria completa da Folha de S. Paulo

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