Fome ameaça 100 mil crianças em meio a conflito em Tigré, na Etiópia, alerta Unicef

Ao menos 350 mil pessoas estão vivendo em condições de fome no Tigré (Reprodução/ PMA/Leni Kinzli)

Com informações de O Globo

WUKRO E GENEBRA – O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou, nesta sexta-feira, 30, que mais de 100 mil crianças da região de Tigré, no Norte da Etiópia, podem sofrer de desnutrição com risco de vida nos próximos 12 meses, um aumento de 10 vezes em relação aos números normais.

A porta-voz do Unicef, Marixie Mercado, disse que uma em cada duas mulheres grávidas e amamentando examinadas em Tigré estavam gravemente desnutridas. “Nossos principais temores em relação à saúde e ao bem-estar das crianças estão se confirmando”, disse Mercado em uma entrevista coletiva em Genebra.

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Porta-vozes do primeiro-ministro, Abiy Ahmed, e de uma força tarefa do governo em Tigré — onde combates entres forças locais e federais ocorrem desde novembro — não responderam aos pedidos de comentários sobre as afirmações da Unicef.

Bebês como Aammanuel Merhawi, de 20 meses, são os que mais sofrem. Ele está um terço abaixo do peso normal para sua idade. Com febre, Merhawi tem as costelas visíveis e vomita alimentos que recebe por um tubo nasal, dois sinais de grave desnutrição.

“Meu leite secou”, disse a mãe de Merhawi, Brkti Gebrehiwot, à agência Reuters, no Hospital Geral de Wukro, cidade no Tigré. As agências humanitárias dizem que estão próximas de ficar sem a fórmula usada para tratar de 4 mil crianças desnutridas todo mês.

Ao menos três crianças morreram no hospital de Wukro desde fevereiro, de acordo com a enfermeira Tsehaynesh Gebrehiwot. Segunda a funcionária, que forneceu os registros médicos, Awet Gebreslassie, de quatro meses de idade, pesava 2,6 kg, um terço do peso normal; Robel Gebrezgiher, de um ano de idade, pesava 2 kg, menos de um quarto do peso normal; e Kisanet Hogus, também de um ano de idade, pesava 5 kg — pouco mais da metade do peso normal. Todos morreram poucos dias após a internação.

No Hospital Geral de Adigrat, outra cidade em Tigré, a Reuters teve acesso a registros médicos confirmando a morte de mais três crianças desnutridas. Os médicos de ambos os hospitais disseram que atendiam de quatro a 10 crianças gravemente desnutridas por mês antes do início do conflito em novembro. Agora, os números mais do que dobraram.

A ONU afirmou, em junho, que cerca de 350 mil pessoas estão vivendo em condições de fome no Tigré, e mais de 90% da população precisam de ajuda alimentar emergencial. Em um comunicado na noite de quinta-feira, o governo etíope culpou as forças regionais de Tigré por bloquearem a ajuda e disse que havia estocado reservas de trigo na região.

No texto não havia detalhes sobre a localização do estoque ou planos de distribuição. A ONU diz que a região precisa de 100 caminhões de comida diariamente para evitar a fome em massa, e apenas um comboio de 50 caminhões passou no mês passado.

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