Forças israelenses mataram a jornalista Shireen Abu Akleh, deliberadamente, conclui investigação palestina

De acordo com o procurador-geral da ANP, Akram Al Khatib, a bala disparada contra Abu Akleh tinha 5,56 milímetros de diâmetro (Imad Credi/REUTERS)
Com informações do Infoglobo

A Autoridade Nacional Palestina (ANP) afirmou nesta quinta-feira, 26, que as investigações sobre a morte da jornalista Shireen Abu Akleh, no último dia 11, constataram que forças israelenses dispararam, deliberadamente, para assassinar a repórter veterana da emissora al-Jazeera, algo negado por Tel Aviv. Conclusões similares sobre o incidente que tirou a vida da cidadã palestino-americana e feriu um colega, na cidade de Jenin, na Cisjordânia — território ocupado por Israel —, foram obtidas pela CNN, em uma investigação paralela.

De acordo com o procurador-geral da ANP, Akram Al Khatib, a bala disparada contra Abu Akleh tinha 5,56 milímetros de diâmetro e um componente de aço usado pelas forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar encabeçada pelos Estados Unidos. Segundo ele, os palestinos não entregarão o projétil para Israel.

“Estava claro que as forças de ocupação [israelenses] dispararam a bala que atingiu a jornalista Shireen Abu Akleh diretamente na cabeça”, afirmou Al Khatib, destacando que as descobertas confirmam as investigações preliminares divulgadas há duas semanas. — A única fonte de disparos foram as forças da ocupação que atiraram com o objetivo de matar.

PUBLICIDADE

Abu Akleh foi atingida enquanto vestia um colete com a palavra “imprensa” claramente escrita, afirmam os palestinos, que entrevistaram testemunhas, fizeram uma inspeção da cena do crime e analisaram o relatório forense. A investigação mostrou que não havia palestinos no local, contrariando as alegações israelenses de que este seria o caso e de que a autoria dos disparos não está clara.

Horas após as conclusões serem divulgadas, a al-Jazeera anunciou que trabalhará com advogados especializados para enviar o caso ao Tribunal Penal Internacional. Pouco após o incidente, a emissora sediada no Catar disse que sua funcionária havia sido “assassinada a sangue frio”.

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, rejeitou as conclusões desta quinta em um comunicado, afirmando que quaisquer acusações de que as forças israelenses “mirem jornalistas ou aqueles que não estão envolvidos é uma mentira bruta e descarada”. Ele ainda pediu mais uma vez para que a ANP compartilhe a bala com Tel Aviv, acusando-a de “se recusar a cooperar”, “o que levanta a dúvida se querem mesmo buscar a verdade”.

Sem presença militar palestina

Uma investigação paralela da emissora americana CNN, que teve acesso a mais de 10 vídeos do incidente e dos momentos que o antecederam e procederam, chegou a conclusões similares a dos palestinos: não foi constatado combate ativo ou palestinos na região. Após conversar com especialistas e oito testemunhas, o canal determinou que as evidências indicam que Abu Akleh foi morta, deliberadamente, em um ataque das forças israelenses.

De acordo com as imagens, Abu Akleh, de 51 anos, estava acompanhada de um grupo de jornalistas — todos com as vestes que os identificavam como integrantes da imprensa — perto da entrada do campo de refugiados de Jenin, para cobrir uma das recorrentes operações militares israelenses. As ações se intensificaram desde abril, após uma série de pequenos ataques isolados feitos por palestinos.

“Nós paramos em frente aos veículos militares israelenses por algo entre cinco e dez minutos antes de nos movimentarmos, para garantir que eles nos viram”, disse à emissora americana Shatha Hanaysha, uma das repórteres palestinas que acompanhava Abu Akleh.

Como Abu Akleh era popular no mundo árabe, sua presença atraiu observadores, que também filmaram com seus celulares. As imagens mostram um cenário relativamente tranquilo e confirmam que não havia qualquer presença militar palestina visível.

“Nós vimos quatro ou cinco veículos militares na rua, com armas para fora, e uma delas atirou contra Shireen. Nós estávamos lá, nós vimos. Quando tentamos nos aproximar para ajudá-la, eles atiraram contra nós”, disse à CNN Salim Awad, um morador do campo de Jenin que observou o incidente.

O relato é similar ao de Hanaysha, que aparece nas gravações como uma das pessoas tentando puxar Abu Akleh, já ferida, apesar dos tiros:

“Quando ela caiu, eu honestamente não estava compreendendo. Ouvia o som das balas, mas não entendia que estavam mirando na gente”, disse a jornalista à CNN.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.