Fórum climático alerta sobre prejuízos para Amazônia em acordo entre Biden e Bolsonaro

Joe Biden e Jair Bolsonaro. (Joshua Roberts e Pablo Jacob/Agência O Globo)

Matheus Pereira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Alertar para as possíveis implicações de um acordo financeiro entre Estados Unidos e Brasil para a Amazônia é o objetivo principal do evento “Emergência Amazônica – Em Defesa da Floresta e da Vida”, na Câmara dos Deputados e do Fórum Climático da Amazônia, em Washington, ambos nesta quinta-feira, 15. Os atos em defesa da Amazônia acontecem por conta da preocupação com um acordo a portas fechadas entre os governos Biden e Bolsonaro.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), coordenador do Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia (FNPDA), que organiza os dois eventos, diz que os atos serão realizados para denunciar que essas conversas estão ocorrendo e alertar os líderes mundiais sobre as políticas ruins para o meio ambiente adotadas pelo Governo Bolsonaro. O deputado afirma ainda que a frente está preocupada, porque é preciso garantir o patrimônio ambiental da Amazônia para o povo brasileiro.

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“Queremos que seja um debate transparente e com participação dos amazônidas, das comunidades, da sociedade civil organizada, dos governadores, das prefeituras para dizer que precisamos sim de apoio internacional, mas para apoiar a fiscalização e a estruturação do Ibama, do ICMBio, do Incra, as titulações das terras da agricultura familiar, dos territórios dos quilombolas, das terras indígenas, de projetos de desenvolvimento sustentável para poder fomentar políticas de geração de trabalho e renda para as comunidades locais e também para a população que vive nas cidades dos Estados da Amazônia”, apontou o parlamentar.

Participantes

Os dois eventos são organizados pelo FNPDA – composto por 33 entidades da sociedade civil, movimentos sociais, partidos políticos e frentes parlamentares – e pelo coletivo formado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica),Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Pan-Amazônia Fórum Social (Fospa), Asamblea por la Amazonía e Amazon Watch, com apoio de várias organizações nacionais e internacionais.

O primeiro encontro ocorrerá das 10h às 13h (horário de Brasília) e será sediado na Liderança da Minoria da Câmara dos Deputados. Logo após esse encontro, haverá entrevista coletiva com parlamentares e representantes de entidades organizadoras. Em seguida, às 14h (horário de Brasília) terá início o fórum, que contará com a participação de congressistas americanos e brasileiros.

Enquanto o evento no Brasil será transmitido ao vivo pelas redes sociais do Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia (FNPDA), o fórum na capital estadunidense terá transmissão em português (Mídia Índia), espanhol (Coica) e em inglês (canal da Amazon Watch no Youtube).

Preocupação com povos

Os dois eventos têm como objetivo alertar sobre o acordo financeiro entre Estados Unidos e Brasil, negociado entre os presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro, para prover recursos para a Amazônia. A negociação tem gerado dúvidas sobre seus reais benefícios à sociedade brasileira, em razão de sua construção a portas fechadas, com pouca transparência, muita celeridade e sem consultas às populações amazônicas. Por esta razão, os dois atos serão realizados às vésperas do encontro de líderes mundiais na Cúpula Climática pelo Dia da Terra, que acontecerá nos dias 22 e 23 de abril.

A grande preocupação dos organizadores e participantes dos fóruns é com um efeito contrário de negociação para a vida dos povos da floresta, já que o acordo pode se tornar um mecanismo de legitimação e financiamento da agenda de destruição da Amazônia promovida pelo Governo Bolsonaro, que também avança no Congresso Nacional brasileiro para desregulamentar legislações socioambientais e fundiárias no Brasil.

Nilto Tatto diz enxergar uma intenção positiva das lideranças internacionais com a Amazônia, mas que em acordos entre o governo brasileiro e qualquer outro governo para a agenda ambiental, em especial para Amazônia, os governos internacionais precisam conhecer quem é Bolsonaro e sua política antiambiental e antissocial.

“Quem quer explorar a Amazônia e entregar para as grandes corporações é justamente o Governo Bolsonaro que quer mineração em terra indígena, monocultura em terra indígena, exploração ilegal de madeira como está ocorrendo agora e quer abrir a mineração para as grandes corporações internacionais. O que que coloca em risco os recursos da Amazônia, tanto da biodiversidade quanto para os recursos minerais é o governo Bolsonaro que quer inclusive aprovar projetos de lei para permitir mais exploração da Amazônia pelo capital internacional”, alertou.

Manifestações contrárias ao acordo

Já há manifestações públicas que demonstram preocupações com o acordo, como a carta enviada pela Apib ao presidente norte-americano Joe Biden e ao seu enviado especial climático, John Kerry, assim como a carta da sociedade civil brasileira enviada ao governo dos EUA, assinada por cerca de 200 organizações.

Adicionalmente, e fortalecendo essas vozes, na manhã de quinta-feira será lançada uma carta/manifesto à sociedade brasileira e internacional, trazendo o posicionamento de entidades sobre as possibilidades do acordo. Em um vídeo publicado em uma rede social pela Apib nesta segunda-feira, 12, e direcionado ao presidente dos Estados Unidos, indígenas dizem para o líder americano não confiar em Bolsonaro.

A hashtag #AmazonOrBolsonaro chegou a figurar entre as mais comentadas no Brasil durante a tarde. Com a repercussão internacional, o apelo da Apib ganhou o apoio do ator e cineasta americano Mark Ruffalo que escreveu: “Joe Biden, suas escolhas são Amazônia ou Bolsonaro. Escute os povos indígenas e faça a melhor escolha para as pessoas do Brasil e para a Terra”. A cantora brasileira Anitta também compartilhou o vídeo na mesma rede social e ainda ‘desafiou’ o ator americano Leonardo DiCaprio a entrar na corrente.

Edição: Carolina Givoni

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