Fotógrafo de natureza Araquém Alcântara lança livro com imagens do Pantanal antes do fogo

Foto de tuiuiú, a ave-símbolo do Pantanal, levantando voo diante da vegetação em chamas, foi incluída no livro quando a edição já estava quase finalizada. - Divulgação/Araquém Alcântara

Da Revista Cenarium*

O fotógrafo de natureza Araquém Alcântara já perambulou pelo Pantanal no pulso da cheia, quando se torna a maior planície alagada do mundo, e na estação seca, época em que os bichos se expõem e deslumbram visitantes. Neste ano, pela primeira vez em 50 anos de carreira, encontrou o fogo e a morte como os protagonistas do bioma associado à água e à vida.

“É fechar os olhos e ver a face do horror. Nunca tinha visto nada igual. Nunca tinha deparado com bichos desorientados, famintos. Vi lontras andando sem saber o que fazer. É devastador. Como dizia o meu amigo e escultor Frans Krajcberg, as pessoas não percebem que estão dentro de um Holocausto. Isso ficava na minha cabeça, andando por aquela terra arrasada”, diz Araquém, 69.

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Em meio ao impacto do incêndio sem precedentes, o fotógrafo editou o livro “Pantanal: Serra do Amolar”. Trata-se de uma coletânea de imagens anteriores a 2020 de uma das áreas mais preservadas do bioma, nomeada Patrimônio Mundial pela Unesco, a agência de educação, ciências e cultura da ONU.

Ainda sem data de publicação, a obra deve sair em breve pela editora Terra Brasil. Trata-se do quarto livro de Araquém sobre o Pantanal e o 56º de sua carreira. A próxima publicação, planeja, incluirá fotos da tragédia deste ano.

Quase todas as imagens, coloridas e em preto e branco, focam a beleza atemporal do Amolar. Na paisagem ao mesmo tempo aquática e montanhosa, pulula uma fauna que Araquém retrata como ninguém. Há ali um macaco ainda não descrito pela ciência e um casal de onças-pintadas copulando, momento que o fotógrafo perseguiu por três décadas.

Mas a sombra do desastre que destruiu 27% do Pantanal não ficou de fora. Com a edição já praticamente fechada, Araquém decidiu incluir, logo na abertura, uma foto de novembro 2019, quando o fogo já provocava estragos no Amolar. Trata-se de um tuiuiú, a ave-símbolo do Pantanal, levantando voo diante da vegetação em chamas.

A tragédia abalou, mas não tira a esperança de Araquém. Apesar da sua indignação e da extensão da tragédia -o fogo varreu 77% dos 280 mil hectares do Amolar-, o fotógrafo descarta a ideia de que o livro tenha o peso de um réquiem para o Pantanal. “Eu sei que ele rebrota, renasce.”

(*) Com informações da Folhapress

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