Fumaça compromete saúde em reserva extrativista no PA há dois meses
Por: Fabyo Cruz
29 de novembro de 2024
BELÉM (PA) – Uma das maiores reservas extrativistas do Brasil, a Resex Verde Para Sempre, localizada no município de Porto de Moz, no Oeste do Pará, enfrenta crise ambiental e de saúde pública. Há cerca de dois meses, a área vem sendo tomada por fumaça causada por queimadas. Habitantes relatam que as ações realizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) têm sido insuficientes para conter o problema, expondo a população local a riscos graves.
A Resex Verde Para Sempre está situada na confluência dos rios Amazonas e Xingu, abrangendo uma área equivalente a mais de 1,2 milhão de campos de futebol. Criada para proteger modos de vida tradicionais, a reserva abriga cerca de 2.235 famílias, segundo dados do ICMBio de 2018. No entanto, essas famílias enfrentam, atualmente, uma das piores crises ambientais registradas na região.
Moradores da Vila São Pedro, no Rio Aquiqui, relatam que a fumaça tem causado problemas respiratórios, especialmente entre crianças e idosos. “Vim buscar um aparelho aerossol. Eu tenho sinusite, e está complicado conviver com tanta fumaça”, desabafa Soraia Souto, 50 anos. A moradora afirma que, apesar de algumas ações do ICMBio, a situação continua inalterada.
Angélica Souto, 33 anos, também residente na vila, detalha o sofrimento causado pela fumaça: “A gente inala tanto que vem aquela tosse seca, ardida na garganta. Já passei dois dias muito mal. A fumaça invade as casas, principalmente à noite e pela manhã, deixando o ar insuportável”, relata.
Além das dificuldades respiratórias, os moradores apontam a morte de animais silvestres e a destruição de áreas vitais para a subsistência das comunidades como outros impactos das queimadas.
Desafios
As queimadas são alimentadas pelo solo rico em matéria orgânica, conhecido como “buiado”, que mantém brasas vivas mesmo após as chamas serem aparentemente apagadas, conforme disseram os moradores. “Os grandes madeireiros fazem o que querem e tocam fogo na reserva. Nós, pequenos, somos impedidos pelo ICMBio de qualquer coisa. As crianças estão sufocadas, e não temos apoio de ninguém”, denuncia Soraia Souto.

Angélica complementa: “O ICMBio tem equipe por aqui, mas eles não estão conseguindo controlar. O campo é muito grande e tem poucos agentes. A fumaça está cada vez mais próxima das residências. De noite, não dá para ver a vizinhança de tanta fumaça”.
Os moradores pedem por maior atenção das autoridades e uma ação emergencial para conter os focos de incêndio, além de suporte médico para atender as pessoas afetadas. Sem intervenção imediata, o cenário de devastação ambiental e sofrimento humano continua.
A CENARIUM solicitou um posicionamento ao ICMBio, mas, até o momento, não obteve resposta.