Funcionários da Eneva entram em greve e denunciam condições de trabalho no AM


Por: Adrisa De Góes

27 de agosto de 2025
Funcionários da Eneva entram em greve e denunciam condições de trabalho no AM
Eneva explora gás natural no interior do Amazonas (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

MANAUS (AM) – Funcionários da Eneva S/A, empresa que atua na exploração de gás natural entre os municípios de Silves e Itapiranga (a 204 e 227 quilômetros de Manaus), no Amazonas, iniciaram uma greve nesta semana em protesto contra o que classificam como “péssimas condições de trabalho”. Entre as principais reclamações relatadas à CENARIUM, nesta quarta-feira, 27, estão a precariedade da internet, fornecimento de energia e alimentação, além da situação dos alojamentos e refeitórios. Procurada, a companhia ainda não se pronunciou sobre o assunto.

À reportagem, o diretor-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Montagem e Manutenção Industrial no Estado do Amazonas (Sitramonti-AM), Marcos Soares, afirmou que a empresa controla o acesso à internet nos alojamentos e a filmagem dentro dos refeitórios. Segundo ele, a limitação da internet impede que os trabalhadores mostrem com mais clareza a realidade vivida no local.

Trabalhadores estão com atividades paralisadas desde segunda-feira, 25, afirma entidade de classe (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Nós temos 5 mil homens com nível de estresse altíssimo, sofrendo com as péssimas condições do alojamento. Aquilo está parecendo mais uma cadeia do que um alojamento para os profissionais. É insuportável as condições de alojamento e alimentação”, declarou o titular do Sitramonti-AM.

De acordo com trabalhadores ouvidos pela reportagem, a greve começou na segunda-feira, 25, e ganhou força após denúncias sobre as condições do Alojamento 3, que recebe funcionários de fora da região. “Essa greve é sobre alojamento. Não temos melhorias no alojamento para o pessoal de fora. O pessoal parou ontem [segunda] e hoje [terça-feira] não deixaram ninguém passar”, relatou um funcionário.

Vídeos da denúncia mostram trabalhadores uniformizados em áreas que funcionam como alojamentos e em pontos de ônibus que atendem à empresa. Em uma das gravações, um homem afirma que “está todo mundo parado”.

Vídeos enviados à CENARIUM mostram os trabalhadores que atuam nas obras do Complexo Termelétrico Azulão 950 (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Outro trabalhador afirmou, em áudio, que a paralisação também afeta a logística da empresa. “Os caras estão na greve e não deixaram a gente passar desde ontem. Enquanto os caras não liberarem, não vamos passar lá pra Silves”, disse o funcionário, que se desloca do município de Itapiranga.

Além das queixas sobre a estrutura oferecida, os grevistas denunciam que a empresa teria cortado a internet no local, dificultando a comunicação. Eles também relatam que representantes do sindicato foram impedidos de permanecer no espaço, sendo retirados pela companhia.

Obras do Complexo Termelétrico Azulão 950 (Reprodução/Eneva)

Os funcionários atuam nas obras do Complexo Termelétrico Azulão 950, localizado em Silves, e possuem contratação direta com a Elecnor, responsável pela construção. Segundo consta no site oficial da empresa, o projeto da Eneva prevê investimento de R$ 5,8 bilhões para a construção das usinas termelétricas Azulão I e II, que, juntas, terão 950 MW de capacidade instalada e serão conectadas ao Subsistema Norte do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Denúncia ao MPF

A Eneva S/A é alvo de um inquérito do Ministério Público Federal do Amazonas (MPF-AM) por suspeita de ameaçar lideranças indígenas no “Campo do Azulão”, localizado entre os municípios de Itapiranga e Silves, área que vem sendo utilizada para extração de combustíveis fósseis destinados à geração de energia (termelétricas) desde 2021.

O inquérito se baseia em um relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Prelazia de Itacoatiara, entregue a órgãos federais, em setembro de 2023, que aponta que a empresa viola a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante direitos dos povos indígenas.

O documento traz relatos de perseguição e ameaças contra Jonas Mura, cacique da Aldeia Gavião Real II, atualmente incluído no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH). Segundo a liderança, as ameaças teriam começado em 2016, quando os indígenas iniciaram a busca pelo reconhecimento étnico e enquanto o empreendimento de exploração de gás ainda estava em fase de estudos e testes.

O tema foi abordado em um documentário da TV CENARIUM, publicado em fevereiro de 2024.

Justiça determina suspensão

Em maio deste ano, a Justiça Federal determinou a suspensão imediata das atividades de extração de gás e petróleo da Eneva S.A. nos poços localizados em áreas sobrepostas ao Território Indígena (TI) Gavião Real, nos municípios de Silves e Itapiranga, no Amazonas. A decisão foi assinada em 22 de maio pela juíza Mara Elisa Andrade, da 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária.

O documento também ordena que o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) interrompa a emissão de novas licenças ambientais para exploração de gás e petróleo no Estado. Segundo a juíza, a suspensão permanece enquanto a empresa não realizar a consulta prévia aos povos tradicionais da região.

A medida decorre de uma Ação Civil Pública (ACP) ajuizada em 2022 pela Associação dos Povos Indígenas do Rio Anebá (Apira) e pela Associação de Preservação Ambiental e Cultural (Aspac), organizações ligadas à Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA). A ação visa frear a expansão das atividades da Eneva na área, que abriga pelo menos sete aldeias, com uma população superior a mil indígenas, segundo representantes locais.

Leia mais: Indígenas fecham estrada em protesto contra exploração de gás pela Eneva

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