Fundo partidário do PL está sob ameaça em meio à suspeita de golpe
27 de março de 2024
Bandeira do PL (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Se comprovado o uso de recursos públicos para financiar atos golpistas do 8 de Janeiro de 2023, o Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, pode ter recursos do fundo partidário bloqueados, o que impactaria no projeto de expansão da sigla, que pretende aumentar o número de políticos eleitos nas Câmara de Vereadores e nas Prefeituras.
A legenda tem começado a sentir os efeitos das investigações. No último dia 19, o Ministério Público da União (MPU) solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU), inicialmente, a suspensão de R$ 27 milhões da conta da sigla. Nas eleições presidenciais de 2022, o PL recebeu R$ 283,22 milhões do chamado “fundão”. Em 2020, ano da última eleição municipal, o extinto PSL ficou com o montande de R$ 193 milhões.
Cédula de dinheiro (Reprodução/iStock)
No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) instaurou o Inquérito (INQ) 4921, que investiga autores intelectuais e instigadores dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Na esfera policial, a investigação está sob o comando da Polícia Federal, que apura Bolsonaro teve participaração direta na elaboração de uma minuta pra colocar as Forças Armadas no comando do País.
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, um bloqueio ao fundo eleitoral do PL seria uma “catástrofe” para o partido, uma vez que as formas de financiamento privados são limitadas e a maioria do setor público.
“Isso restringiria bastante as campanhas eleitorais que têm financiamento público. Esse trâmite é possível de ser feito, sim, inclusive passando pelo aval do TSE, que não apenas julga a manutenção ou não das candidaturas e a legalidade ou não dos eleitos, como também faz a esse controle da distribuição do financiamento público eleitoral”, destaca o especialista.
Bandeiras com imagem de Bolsonaro, candidato do PL à Presidência da República em 2022 (Vinícius Schmidt/Metrópoles)
Ramirez ressalta que, com ala conservadora em maioria no Congresso Nacional, há possibilidade de que as casas legislativas federais votem uma anistia ao partido. Para ele, a sigla tem uma série de cenários favoráveis, aind aque o processo junto ao Judiciário se estenda por um longo período.
“Pela possibilidade de separar o partido dos componentes, ou seja, o partido não seria punido, mas sim os políticos que tiveram algum grau de participação na conspiração golpista. E segundo, porque pode ser que o processo leve anos e até mesmo alavancando uma possibilidade anixia ao próprio PL”, afirmou à CENARIUM.
TCU pede bloqueio
No último dia 19 de março, o MPU junto ao TCU enviou uma representação ao presidente do Tribunal, ministro Bruno Dantas, solicitando o bloqueio de R$ 27 milhões em recursos do fundo partidário do PL, com a sustentação de que há suspeita de uso de recursos públicos para financiar atos golpistas do 8 de janeiro de 2023, que culminaram na destruição da sede dos Três Poderes em Brasília (DF).
O pedido também quer a apuração do uso do recurso para operacionalizar a suspeita de tentativa de golpe de Estado investigada no âmbito da PF, que comanda as operações Lesa Pátria e Tempus Veritatis. Para o subprocurador Lucas Furtado, a estrutura do PL foi utilizada para financiar possíveis crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, entre outros.
Trecho da representação do TCU (Reprodução/TCU)
“Cumpre ao TCU, segundo os termos definidos pela Constituição Federal e pela sua Lei Orgânica, investigar os fatos e exercer o poder dever de zelar pelo bom uso dos dinheiros públicos, cabendo adotar todas as providências a seu alcance para o ressarcimento dos cofres públicos, em razão da utilização absolutamente indevida dos recursos do Fundo Partidário por parte do PL, bem como providenciar a responsabilização e sanção dos responsáveis pelas condutas desviantes”, diz trecho do documento.
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