Gado criado ilegalmente em terra indígena no Pará abastece frigoríficos
Por: Cenarium*
26 de setembro de 2024
SÃO PAULO – Gado que foi criado em propriedades ilegais dentro da Terra Indígena Apyterewa, no Pará, entrou na cadeia de produção de JBS, Marfrig e Minerva, três dos principais frigoríficos do Brasil. A conclusão faz parte de uma investigação da ONG Global Witness divulgada nesta quinta-feira, 26.
Os casos da JBS e da Marfrig são os que chamam mais a atenção nos dados reunidos na investigação, a que a Folha teve acesso. Foram encontrados fornecedores diretos dos dois frigoríficos com indicação de criação bovina dentro da terra indígena.
A Global Witness é uma ONG focada em investigação de abusos humanos e ambientais em indústrias como a petroleira e a pecuária e nos fluxos financeiros envolvidos.
Entraram na cadeia logística da JBS e foram abatidas, de 2018 a 2023, 7.795 cabeças de gado de fazendas na Apyterewa, terra indígena mais desmatada no país. Desse total, 561 chegaram aos abatedouros da JBS diretamente de uma fazenda de São Félix do Xingu (PA) que estaria envolvida com criação de gado dentro da terra indígena.

Outras 7.234 cabeças são fruto da cadeia indireta de fornecimento da JBS. Em linhas gerais, isso significa o gado que foi criado ou engordado em uma fazenda na terra indígena, transferido para propriedades legais fora da área protegida —em uma espécie de “lavagem” do animal— e, aí sim, mandado para o abate em um frigorífico da JBS.
No caso da Marfrig, a investigação aponta 94 animais derivados de outra propriedade que teria criação dentro do território indígena. Outras 2.691 cabeças criadas ilegalmente na área protegida fariam parte da cadeia indireta da Marfrig.
A investigação encontrou ainda ligação entre a Minerva, por meio de sua cadeia indireta, e 277 animais criados na Terra Indígena Apyterewa.

Os três frigoríficos foram procurados, no início de setembro, pela Global Witness para se posicionar sobre o que foi achado na investigação. A JBS não enviou uma resposta. Inicialmente, a empresa pediu mais informações para a ONG sobre as movimentações do gado, e a entidade forneceu a lista de fazendas.
A empresa insistiu por mais informações e acabou não enviando uma resposta à ONG ou apontando problemas em relação aos dados indicados.
A Folha procurou a JBS e apresentou dados públicos relacionados a fazenda fornecedora direta que teria gado oriundo da terra indígena. Em resposta, a JBS diz que a propriedade está bloqueada desde 1º de julho de 2020. “Nas compras antes disso, até o fim de 2019, a fazenda estava conforme a política vigente de aquisição de matéria-prima.”
A empresa diz não ter identificado nenhuma fazenda fornecedora direta dentro da terra indígena. Apesar disso, não informa porque a propriedade apontada pela Folha e pela Global Witness foi bloqueada somente em 2020. O CAR (Cadastro Ambiental Rural, o registro que todas as propriedades rurais possuem) da fazenda em questão consta como suspenso e há apontamento de sobreposição com a terra indígena em questão.
A JBS diz usar monitoramento por satélite e que sua “política proíbe a compra de gado de fazendas que apresentem desmatamento ilegal, áreas de embargo ambiental, unidades de conservação e terras indígenas ou quilombolas, entre outros requisitos”.
Leia a matéria na íntegra neste link.
(*) Com informações da Folhapress