Garimpeiro preso por suspeita de compra de votos declarou 4,5 mil em dinheiro vivo


30 de setembro de 2022
Garimpeiro preso por suspeita de compra de votos declarou 4,5 mil em dinheiro vivo
Material de campanha e dinheiro encontrados no carro do candidato e garimpeiro Rodrigo Cataratas (PL) (Arquivo Pessoal)
Com informações da Folhapress

BRASÍLIA – O candidato a deputado federal Rodrigo Martins de Mello, o Rodrigo Cataratas (PL-RR), foi preso pela Polícia Federal na noite de quinta-feira, 29, por suspeita de compra de votos. Ele, que pagou fiança e foi liberado, diz que a polícia age para atrapalhar sua campanha.

Segundo a PF, o carro de Cataratas foi abordado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) durante uma ação de rotina em uma estrada que leva à capital Boa Vista (RR).

“Foi encontrado no veículo material de campanha, aproximadamente R$ 6 mil em espécie, e listas com nome de pessoas e anotações de valores, conjunto de indícios típicos da prática do referido crime”, afirmou a PF em nota.

Cataratas estava com sua fotógrafa e outra pessoa no veículo. Os três foram levados à PF em Boa Vista e presos em flagrante. Após prestarem depoimento, eles pagaram um total de R$ 26,2 mil em fiança e foram liberados já nesta sexta-feira, 30.

Segundo o Código Eleitoral, candidatos não podem ser detidos ou presos nos 15 dias que antecedem o primeiro turno das eleições, salvo casos de flagrante delito.

Em nota, a defesa de Cataratas afirma que eles retornavam de uma reunião da campanha em Alto Alegre (RR) e que o candidato já imaginava que a situação poderia acontecer.

“Não foi nenhuma surpresa essa ocorrência, hoje, ainda mais às vésperas das eleições, e se confirma a não disfarçada busca de manchar sua reputação e minar sua candidatura”, diz o texto.

A Folha teve acesso a um vídeo gravado pela fotógrafa do garimpeiro em que ela relata que foi encaminhada à delegacia em uma viatura diferente da dos outros dois presos. Ela também alega que foi intimidada pelos policiais durante a abordagem — a fotógrafa diz que se sentiu coagida a testemunhar contra o candidato.

“Todo tempo eles [policiais] ficavam insinuando que o Rodrigo estava fazendo compra de votos, porque acho que eles queriam ouvir isso da minha boca, mas o tempo todo eu disse ‘não’. Foi uma pressão. Só de lembrar eu fico agoniada, porque você ser mulher e ficar no carro com três policiais é muito tenso”, conta ela na gravação.

Procurada, a PRF não respondeu.

Como mostrou a Folha, Rodrigo Cataratas é um dos principais candidatos pró-garimpo nestas eleições. Ele e suas empresas já foram alvo de operações da Polícia Federal por ligação com a exploração irregular de ouro.

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), ele é apontado como integrante de um grupo acusado de movimentar R$ 200 milhões com o minério extraído de forma ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

Ele também é líder do movimento “Garimpo É Legal”, que já processou lideranças indígenas e busca liberar a atividade de extração do minério em locais hoje proibidos.

Em sua declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele disse ter um total de R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo — quantia, segundo ele, adquirida “a custo de muito suor e trabalho em todas as atividades empresariais potencializadas com o início da atividade minerária” —, além de diversas aeronaves.

Ele, que também é piloto, detém diversos contratos de prestação de serviço de voos com o governo federal. Como mostrou a Folha, as empresas de Cataratas receberam R$ 124 milhões de dinheiro público, a maior parte (R$ 75 milhões) durante o Governo Bolsonaro.

A sede das empresas de Cataratas, em Boa Vista, já foi alvo de ação de apreensão de helicópteros, feita em conjunto por PF, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em agosto de 2021.

Foram apreendidos nove helicópteros dessas mesmas empresas, das quais são sócios o piloto e seu filho. Depois, uma juíza liberou parte das aeronaves e concordou com o pedido de habeas corpus impetrado por ele, que havia sido indiciado.

Segundo a PF, aeronaves em nome de empresas do grupo do qual ele é integrante são utilizadas para transportar pessoas, combustível e equipamentos a áreas de garimpo na terra Yanomami, como forma de concretizar a extração ilegal de minérios.

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