Garimpeiros armados ameaçam servidores da Funai no Vale do Javari, denuncia organização indígena

Garimpo ilegal (Ricardo Oliveira)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) denunciou na manhã desta terça-feira, 19, que dois garimpeiros armados ameaçaram servidores da Base de Proteção Etnoambiental (Bape) da Fundação Nacional do Índio (Funai), localizada no Rio Jandiatuba, no interior do Amazonas. O episódio aconteceu no último dia 15 deste mês, por volta das 17h, e envolveu trabalhadores do povo Matis que atuam na base, segundo uma nota divulgada pela organização.

Veja também: Insegurança e falta de diálogo: assassinatos no Vale do Javari, no AM, completam um mês com governo federal omisso

“Os homens armados perguntaram quantos funcionários (dentro eles, indígenas do povo Matis) estavam trabalhando naquela base, com clara intenção de assediar os servidores. Uma das principais atribuições dos servidores da Funai na Base Jandiatuba é a proteção da terra indígena para assegurar a integridade física e territorial de grupos indígenas isolados que vivem nos rios Jandiatuba e Jutaí. Nessa região do Vale do Javari, existe a maior quantidade de informações e referências confirmadas de índios isolados”, reportou a Univaja, em nota.

O Rio Jandiatuba é um afluente da margem direita dos rios Solimões e Amazonas e fica no extremo noroeste do Estado, numa região considerada ‘rota do narcotráfico’, do garimpo e da pesca ilegal. As águas do afluente cortam três Terras Indígenas (TI), entre elas, a do Vale do Javari e Nova Esperança do Jandiatuba, amplamente usadas pelas populações isoladas, segundo monitoramentos da Funai.

PUBLICIDADE

De acordo com a Univaja, entre os dias 24 de fevereiro e 18 de março deste ano, uma equipe da Funai no Vale do Javari fez uma atividade de vigilância e monitoramento no Rio Jandiatuba e registrou a presença de 19 balsas de garimpos ativas na região, com movimentação logística saindo do município de São Paulo de Olivença (a 982.64 quilômetros de Manaus) e pontos de retirada de madeira para construção de balsas próximos do local onde vivem indígenas isolados. A suspeita é que a “visita” dos dois homens armados à base de proteção esteja ligada à operação.

Veja também: Riscos no Vale do Javari foram alertados por Bruno Pereira em reportagem de 2017

“As pessoas que operam as balsas de garimpo no Rio Jandiatuba portavam armas de fogo (calibres 16 e 12). O relatório da Funai plotou 14 coordenadas de GPS mapeando as atividades de garimpo ilegal”, relatou a Univaja, em outro trecho da nota.

No mesmo período, em 16 de março de 2022, por meio de um ofício endereçado à superintendência da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), a Univaja disse que informou o “aumento exponencial das atividades de garimpo ilegal” nos rios Jandiatuba e Jutaí e que esses dados foram catalogados e repassados às autoridades pelo indigenista Bruno Pereira, assassinado em 5 de junho deste ano, ao lado do jornalista britânico Dominic Mark Phillips – Dom Phillips, após os dois realizarem viagem ao Vale do Javari.

‘Nada feito’ no Vale do Javari

Ainda na nota, a Univaja salientou que apesar de repassar informações técnicas às autoridades, nenhuma providência foi tomada até o momento. A organização chegou a construir um mapa com coordenadas de GPS, coletadas em campo, mostrando atividades de garimpo ilegal e os registros confirmados de grupos indígenas isolados no Rio Jandiatuba.

Univaja mostra, em mapa, atuação de garimpo no Vale do Javari (Crédito: Univaja)

“Nesse contexto de insegurança, após mais de um mês do assassinato de Bruno Pereira e Dominic Philips, a Univaja vem alertar que nenhuma providência concreta foi tomada para atuação ativa e preventiva do Estado Brasileiro por meio de suas instituições competentes em relação à segurança das pessoas (indígenas e não indígenas) do Vale do Javari”, alertou a Univaja.

Proteção aos indígenas

A organização indígena reivindica do governo federal a criação de um plano emergencial de proteção para o Vale do Javari; a atuação conjunta da PF, do Exército e do Instituto de Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) por, no mínimo, seis meses nas bases de proteção etnoambiental da Funai nos rios Jandiatuba, Ituí, Curuça e Quixito, ambos no Amazonas.

Veja também: Vale do Javari: MPF recomenda à União e à Funai que reestruturem e modernizem Bases de Proteção Etnoambientais

A Univaja pede, também, ao governo do Estado, a atuação do Batalhão de Polícia Militar Ambiental pelo mesmo prazo no trecho do Rio Itaquaí, entre Atalaia do Norte e a Terra Indígena Vale do Javari, para combater crimes ambientais.

Confira, na íntegra, a nota da Univaja:
PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.