Garimpeiros atacam pelo 10º dia indígenas da Terra Yanomami em Roraima

Indígenas yanomamis que moram na comunidade Palimiú, no noroeste de Roraima (Reprodução/Internet)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os indígenas Yanomami da comunidade Palimiú, nas margens do rio Uraricoera, em Alto Alegre, Roraima, continuam sofrendo ataques dos garimpeiros que agem ilegalmente na região. O último, na quarta-feira, 19, marcou o 10º dia de investidas contra os residentes da Terra Indígena Yanomami.

Segundo o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-YY), por volta das 22h, “garimpeiros ilegais que rondam a comunidade chegaram a bordo de 12 barcos e só não avançaram, pois avistaram um grupo yanomami”.

Desde 10 de maio os yanomami de Palimiú enfrentam dias tensos. Em sete dias foram registrados confrontos armados entre os invasores e indígenas e até agentes da Polícia Federal. Na noite de domingo, 16, a comunidade foi alvo de bombas de gás.

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Cobranças

Ainda na quarta-feira, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) entrou com mais um pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para evitar novos massacres contra vidas indígenas. A solicitação pedia a retirada imediata dos invasores de sete Terras Indígenas (TI), em especial da TI Yanomami, em Roraima, e TI Munduruku, no Pará, para garantir o direito à vida e a integridade física dos povos ameaçados nesses locais.

A organização lembrou que quando começou a ofensiva na comunidade Palimiú, organizações e lideranças indígenas buscam providências por parte do poder público. “A situação foi relatada em ofício destinado à Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami da Fundação Nacional do Índio (Funai), à superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR), a 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª BIS) e ao Ministério Público Federal em Roraima (MPF/RR)”, disse a Apib.

A preocupação também é compartilhada por organismos internacionais. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório Regional da América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur) expressaram preocupação com os atos de violência e pediram que o Estado cumpra o dever de “proteger a vida, a integridade pessoal, aos territórios e aos recursos naturais desses povos”.

Medo de massacre

Após o massacre no dia 10 de maio, os indígenas yanomamis já temiam o descontrole das ofensivas e afirmaram estar com medo de um massacre. O ataque ocorreu por volta das 11h e durou cerca de 10 minutos. De acordo com os indígenas, 10 pessoas armadas estavam em três barcos munidos com armas pesadas. Três pessoas identificadas como garimpeiros morreram e um indígena ficou ferido.

No sábado, 15, lideranças confirmaram que duas crianças, uma de 1 ano e outra de 5 anos, morreram afogadas durante o ataque.

Momento do ataque aos indígenas no dia 10 de maio (Reprodução/Arquivo Pessoal)

“Duas crianças faleceram no episódio de segunda-feira, 10. Após todos terem corrido dos tiros, elas ficaram perdidas. No dia 11, os adultos saíram a sua procura. No dia 12, encontraram os 2 corpos caídos na água”, afirmou a Hutukara Associação Yanomami.

Ataques previstos

Os conflitos entre indígenas do povo Yanomami e garimpeiros têm sido alertados pelo Ministério Público Federal de Roraima (MPF-AM) desde 2020. No ano passado, em meio à pandemia do novo coronavírus, a Justiça Federal, a pedido do MPF, determinou a adoção imediata de um plano emergencial de ações para conter o avanço da doença na Terra Indígena e o combate ao garimpo ilegal, assim como a retirada dos infratores da Terra Indígena.

“Esse tipo de conflito tem sido alertado pelo MPF em diversos procedimentos, inclusive com ações na Justiça Federal pedindo um plano de retirada de garimpeiros, temendo possível genocídio. A Justiça já até decidiu a favor do MPF e da retirada do garimpo ilegal na TIY”, declarou o MPF, em nota.

A reportagem entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Federal (PF), mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

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