Garimpeiros ilegais podem ser os principais vetores da Covid-19 em Yanomamis, aponta estudo
04 de junho de 2020
Lideranças Yanomami e Ye’kuana em
novembro de 2019. (Divulgação/Victor Moriyama/ISA)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e revisada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), chamado “O Impacto da Pandemia em Terra Indígena Yanomami”, aponta os garimpeiros são os principais vetores do novo Coronavírus dentro da terra indígena e que cerca de 5.600 Yanomami podem ser contaminados pela Covid-19, considerando apenas as aldeias próximas às zonas de garimpo ilegal.
O número representa 40% da população que vive nessas áreas. Segundo o estudo, para o levantamento, foram considerados 13.889 indígenas (50% da população da terra indígena Yanomami), que residem a menos de cinco quilômetros das áreas de invasão garimpeira. Nessa região, estima-se uma população de 20 mil garimpeiros.
“Por razões culturais, a implementação de medidas de isolamento social é um desafio. Os Yanomami, assim como outros povos indígenas, compartilham suas casas entre várias famílias, assim como cuias e utensílios domésticos. Se uma doença altamente contagiosa como a Covid-19 entrar na comunidade, é muito difícil impedir a sua transmissão. Por isso, considerando a invasão garimpeira e os hábitos culturais, cenários de transmissão intensa têm grande chance de acontecer”, diz trecho da pesquisa, que releva ainda que os Yanomami e Yek’wana como os mais vulneráveis da Amazônia à Covid-19.
Monitoramento
A “corrida do ouro”, conforme aponta o estudo, tem sido estimulada pela crise socieconômica gerada pela pandemia e pela alta cotação internacional do ouro, junto ao enfraquecimento de políticas oficiais de proteção aos direitos dos povos indígenas e de proteção ao meio ambiente. As pressões d governo atual em favor da legalização da mineração em Terras Indígenas também vem encorajando a atividade garimpeira ilegal, que é acompanhada pelos pesquisadores por meio de imagens de satélite, em um sistema batizado de “Sirad”, utilizado pelo Prodes-INPE e Deter-INPE.
Os resultados do sistema mostram que 1.925,8 hectares de florestas já foram degradados pelo garimpo ilegal e que somente em março de 2020, cerca de 114 hetares de floresta foram destruídos pelo garimpo.
Petição pede fim do garimpo
Alertando para o aumento dos casos de Covid-19 em terras indígenas, principalmente, transmitidas por garimpeiros ilegais, organizações indígenas lançaram a campanha #ForaGarimpoForaCovid, com o objetivo de colher 200 mil assinaturas para pressionar o governo federal e expulsar os invasores.
De iniciativa do Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana e da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye’kwana (SEDUUME), Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER), Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), a campanha, até às 10h desta quinta-feira, 4, já conta com 148.046 assinaturas.
“Nós, Yanomami, não queremos morrer. Ajude-nos a expulsar os mais de 20 mil garimpeiros que estão espalhando a Covid-19 em nossas terras”, diz a campanha.
Outros povos afetados
Além dos Yanomami e Yek’wana, um dos povos mais afetados mais afetados pela pandemia da Covid-19 no Amazonas são os Kokama, que têm o total de 55 indígenas mortos pela doença no Estado, entre casos confirmados ou suspeitos.
Para o advogado Serafim Taveira, procurador da Federação Indígena do Povo Kukami- Kukamiria do Brasil, Peru e Colômbia – TWRK e presidente da Comissão da Agricultura Familiar, Agroextrativismo e Pesca da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Amazonas (OAB/AM), é possível identificar a ação de madeireiros, garimpeiros e barcos de pesca que invadem as áreas e terras indígenas em busca de produtos para comércio, principalmente, nos municípios do Alto e Médio Solimões.
Segundo ele, a ação do homem branco que invade as terras indígenas é uma das principais causas de contágio de índios por Covid-19. Contudo, a exemplo de Santo Antônio do Içá, diz o advogado, tudo começou por uma agende de saúde indígena que foi infectada por um médico que retornou das férias já infectado pela doença.
Taveira detalha, ainda, que o caso específico do povo Kokama mostra que a principal interferência nessas regiões diz respeito a ação dos barcos de pesca e dos madeireiros.
“Infelizmente, além de desmataram de forma ilegal e muitas vezes realizarem a pesca irregular, estes agentes levam as doenças comuns aos ditos brancos e, agora, podemos afirmar que uma das fontes de contaminação por Covid-19 foi a ação destes invasores”, pontuou.
Entre os exemplos de ação dos garimpeiros, o advogado elencou os casos mais graves acontecem nos municípios de Humaitá e Manicoré, no Rio Madeira.
“As áreas de garimpo mais evidentes no Amazonas estão nos municípios de Humaitá, Manicoré, Tefé, Jutaí, Fonte Boa e na calha do Juruá. Isso, áreas com possível interferência em terras indígenas. Em todas, a ação de madeireiros e barcos de pesca tem uma ação perniciosa muito evidente.
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