Gasolina a mais de R$ 11 faz taxistas pararem no Acre: ‘ou é combustível ou a carne’
12 de março de 2022
Postos nas cidades de Jordão e Marechal Thaumaturgo registraram um dos maiores preços, cobrado no País, em razão de dificuldades logísticas e escassez (Reprodução/Internet)
Com informações do Infoglobo
RIO — Em dias de bom movimento, o taxista Venâncio de Lima Silva, 56 anos, costumava realizar mais de 20 corridas no município acreano de Jordão. Com o reajuste no preço dos combustíveis, impactado pela disparada do valor do petróleo, no mercado internacional, em meio à guerra na Ucrânia, ele transportou apenas dois passageiros nessa sexta-feira, 11, e decidiu parar. O litro da gasolina é vendido a R$ 11,56 em um dos postos da cidade, um dos mais caros do País, e pesa no orçamento da população.
“Estou pensando em parar (de vez). Não tem condições. Se começar a passar para o consumidor, ele não tem como pagar”, admite Silva.
Em ambas as corridas feitas nesta sexta-feira, 11, quando o aumento no preço da gasolina e do diesel nas refinarias, anunciado pela Petrobras, entrou em vigor, Silva cobrou o valor praticado antes do reajuste. Segundo ele, passageiros preferem ir a pé a pagar mais caro. No município, os taxistas são independentes e não trabalham com taxímetro.
“Quando cobrei R$ 5 a mais, a pessoa desistiu. Se for mais caro, não pegam táxi”.
Isolado, o município de Jordão depende do transporte aéreo e fluvial para a chegada da gasolina. O vice-prefeito Fernando Siã (PDT) explica que, pelo Rio Tarauacá, pode demorar de oito a dez dias, o que reflete no preço observado em postos. A cidade também enfrenta escassez de combustível, e ainda não há previsão para que o cenário se normalize.
Posto de gasolina em Marechal Thaumaturgo (AC) vende litro da gasolina a R$ 10,55 (Foto: Reprodução)
A aproximadamente 113 km de Jordão, em Marechal Thaumaturgo, na fronteira do Brasil com o Peru, o litro da gasolina é vendido a R$ 10,55, no único posto terrestre da cidade.
O mototaxista Humberto Furtado, de 46 anos, afirma que nunca viu valor tão alto desde que começou a exercer a profissão em 2011. Seu faturamento chegou a cair pela metade nos últimos dias. De acordo com ele, há vezes em que tem de escolher entre abastecer ou comprar comida.
“Num dia põe gasolina, no outro compra carne. Está difícil trabalhar. A gente tem pena do consumidor, que não tem como pagar as corridas. Vamos aguentando mesmo sem poder”, disse Furtado, presidente do sindicato de mototaxistas, de Marechal Thaumaturgo, e que também trabalha como vigia.
Há cerca de um ano, a cidade virou notícia nacional após uma série de reajustes consecutivos no preço dos combustíveis, que culminou no valor de R$ 8,20 o litro da gasolina no posto local. Na ocasião, Furtado cobrava R$ 5 em corridas no centro do município e R$ 10 para comunidades mais afastadas. Agora, custam, respectivamente, R$ 6 e R$ 15, conforme estabelecido pelo sindicato.
“É o preço mais alto que já aconteceu, aqui, até hoje. Até pouco tempo, com R$ 20 reais dava para comprar cinco litros. Agora, não dá para comprar nem dois” afirmou o mototaxista. “A gente é obrigado a tentar trabalhar, não tem muito outro meio. Os comerciantes também não têm muito o que fazer. Não culpo o comerciante, culpo o governo”, finaliza.
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