Gênero como mecanismo de opressão e silenciamento

Existe uma estrutura muito bem montada para nos silenciar. Claro que não é fácil entender esse sistema, por que geralmente ele nos alcança quando ainda somos crianças. É tudo muito bem elaborado, até mesmo na escola, nossos professores reproduzem e fortalecem esse sistema, afinal, eles também foram vítimas do machismo estrutural como arma de opressão utilizada para calar as mulheres.

Isso tudo tem a ver com esse mecanismo chamado gênero que somos submetidas desde muito jovens. Eu não me canso de falar. O patriarcado é uma máquina de moer a mulher de todas as formas possíveis. Seja fazendo-a confundir amor e cuidado com tarefas domésticas, quando na verdade é apenas um serviço não remunerado. Seja submetendo as mulheres à maternidade compulsória, algumas nem mesmo têm esse sonho, mas embarcam na aventura por que a sociedade lhes convence que só serão completas quando forem mães.

E elas descobrem da pior forma possível que ser mãe é algo muito sério, e nada tem a ver com plenitude, e sim em adiar sonhos. Podia dá aqui outros milhares de exemplos no qual o patriarcado submete meninas desde muito jovens, são muitos. Inclusive já abordei isso em outros artigos.

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Como eu disse no início e já falei tantas outras vezes, temos que abolir a palavra gênero de nossa sociedade, pois é a principal ferramenta do patriarcado, que é a forma como é estruturada a sociedade. Posso dizer que é uma das ferramentas de maior opressão para as mulheres. É um sistema de opressão que estabelece uma hierarquia entre os sexos, e a mulher é sempre inferiorizada nele. Faz com que mulheres sejam naturalmente inferiores, passivas, santas, maternais. E os homens por sua vez são vistos como racionais, agressivos e lógicos.

O gênero não serve para nos identificar como homem ou mulher, mas tem o papel de atribuir estereótipos às pessoas de acordo com o seu sexo, é uma construção social que atribui características enquanto homem ou mulher. Como se o destino das mulheres fosse apenas a maternidade ou cuidar de casa por exemplo. Faz com que elas acreditem que trabalho doméstico é essencialmente feminino. Faz com que essas construções sociais de feminilidade sejam consideradas inatas.

Assim a desigualdade de gênero não é somente uma pressão moral e social, mas também um desafio econômico. Por causa dessa ideologia machista muitas mulheres no mercado de trabalho realizam as mesmas tarefas dos homens com a mesma carga horária mas ganham menos só por seu sexo, só por serem mulheres.

Eu poderia passar o artigo todo só falando desse tema, mas tenho que abordar aqui com vcs outras questões também.

Toda essa estrutura machista opressora de gênero cria na vida das mulheres barreiras quase impossíveis de serem rompidas. Somos sempre desacreditadas no que fazemos e falamos, só pra dá um exemplo do quanto essa ferramenta chamada gênero nos oprime.

E isso está diretamente ligado a todos os campos da nossa vida, seja familiar ou profissional. Quantas vezes no seu ambiente de trabalho vc quis dizer algo ao seu chefe e ficou com receio de não acreditarem em vc? E na sua família, quantas vezes sua palavra não foi colocada à prova só por ser mulher? Com seu irmão ocorreu isso? Tenho certeza que não.

Mas essa questão ainda pode tomar proporções bem maiores quando chega na esfera das instituições jurídicas. Olhem o caso da Dany Clabresa. Ela acusou seu chefe de assédio, mas para isso teve que se expor, teve que ir na mídia, teve que convocar uma dezena de pessoas para depor, teve que ir nas suas redes sociais falar sobre o assunto, enfim. Ela foi vítima de um crime mas foi preciso mobilizar uma rede de pessoas e órgãos para que sua palavra tivesse validade. Isso por que ela é uma mulher privilegiada. Branca, famosa, rica. Temos muitos outros exemplos, mas coloquei esse que está na mídia mais recente.

Quebrar esses padrões é muito difícil, é pior que isso, é dolorido demais. Por isso que muitas mulheres preferem fazer parte do sistema e não gostam do feminismo. Enfrentar essa estrutura é para poucas. Não basta só coragem, ah não. É um sistema muito bem elaborado. Exige da gente estudo, muito estudo, força, determinação, e por fim coragem. Fico feliz de saber que muitas mulheres estão nessa lista para derrubar esse sistema, inclusive eu.

A mulher que não se cala, que não admite fazer parte dessa manobra hétero patriarcal opressora, ela vai enfrentar o inferno, porque todo santo dia alguém vai lembrá-la de um jeito ou de outro que àquele não é o seu papel, e isso trás junto desânimo e questionamentos. Essa construção vai fazer muita gente se afastar, e vc se sentirá um peixe fora d’água. Mas é necessário passar por isso, faz parte do processo.

Enfrentar essa estrutura que está aí há séculos dando as cartas e comandando nossas visas é muito complicado, muito difícil, e muito solitário também.

Mas vc também conhecerá o céu ao se tornar a mulher que não se cala. Há também muito poder na mulher que quebra os padrões e que decide viver de acordo com suas vontades e não admite que ninguém a coloque em tribunais sexistas.

Sim, há um enorme poder nisso!

Essa mulher é livre. Ela joga luz sobre outras mulheres, ela abre caminhos, serve de referência, e mostra para todas as mulheres que é possível sim lutar por nossos direitos, sonhos e liberdade. Eu sempre digo que o feminismo luta, dentre tantas coisas, pelo mínimo de civilidade e por sermos vistas como seres humanos.

Há beleza e caos na mulher que não se cala, escolha sempre ela, eu garanto que é libertador.

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(*)Regiane Pimentel é bacharel em direito, ativista social e feminista amazônida.

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