‘Gênero mais que merecedor’, diz compositor sobre reconhecimento do forró como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil

O reconhecimento foi realizado na manhã de quinta-feira, 9 de dezembro. (Reprodução/Forró com Turista)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declarou o forró como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O reconhecimento foi realizado, na manhã de quinta-feira, 9, após uma reunião de instituições privadas, públicas e da sociedade civil, por meio do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. A formalização do pedido para tornar o gênero musical patrimônio foi realizada em 2011, pela Associação Cultural do Balaio do Nordeste e do Fórum Forró de Raiz da Paraíba, endossada por 423 assinaturas em um abaixo-assinado de forrozeiros de todo o Brasil.

Além de se tornar patrimônio, o forró também passa a ser considerado um “supergênero”, pela abrangência que possui e por agrupar expressões musicais diversas, como xaxado, arrasta-pé, quadrilha, baião, forró universitário, dentre outros.

O compositor Luciano Campos de Lima, mais conhecido como Luciano Kikão, responsável por mais de 320 composições de forró gravadas por artistas como Simone e Simaria, Wesley Safadão e Calcinha Preta, considera a iniciativa um estímulo para novos talentos.

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“Isso incentiva àqueles que sonham em ingressar no mundo da música, principalmente, quem se identifica com o forró e deseja fazer dele seu ritmo oficial de trabalho. Tivemos grandes nomes, como Luís Gonzaga, Dominguinhos, Flávio José, Zé Cantor, que simbolizam o verdadeiro forró. E precisamos desse estímulo para aquecer o mercado, fora que é um gênero merecedor de reconhecimento”, afirma o profissional.

O ritmo teve início no Nordeste do Brasil. (Reprodução/Internet)

Com mais de 15 anos atuando no mercado e respeitado por artistas nacionais de peso, o compositor conta que dentre as nuances existentes no segmento, o mais prestigiado por ele é o ritmo que predomina no Estado do Ceará e lamenta o cenário atual local. “Eu gosto mais do forrozão de Fortaleza, que usa bastante a sanfona que se sobressai. Hoje, em Manaus, não há mais esse tipo de forró, é mais uma mistura ligada ao funk”, avalia Luciano.

Repercussão

Após a divulgação da notícia sobre o reconhecimento do gênero poucos dias antes do Dia do Forró, celebrado no dia 13 de dezembro em homenagem ao dia do nascimento de Luiz Gonzaga, considerado o Rei do Baião, algumas figuras da música que representam ou admiram o ritmo, comemoraram o título.

Em entrevista ao InterTv, no Rio Grande do Norte, o cantor Fagner celebrou e ressaltou a demora do reconhecimento e influência cultural do ritmo para a sociedade. Um dos símbolos do forró no País, o cantor está lançando um trabalho em parceria com Elba Ramalho em homenagem a Luiz Gonzaga, para ressaltar a importância do ritmo.

“Antes tarde do que nunca (…) Para mim, é uma felicidade, tenho certeza que isso virá a aquecer muito mais o mercado, estimular os artistas nordestinos e valorizar, com certeza, essa cultura importante, essa cultura nossa, de tantos artistas que fazem um trabalho tão bonito e que, às vezes, não chega ao outro lado do Brasil”, considerou o cantor.

No Twitter, a cantora Daniela Mercury postou a notícia e escreveu: “Finalmente! Vivam Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e todos os grandes do forró”, celebrou a cantora.

Regras e ritmos patrimônio do Brasil

Além do forró, o tambor de crioula, o carimbó, o fandango caiçara, maracatu de baque solto, marabaixo, maracatu nação, o frevo e o jongo também são considerados patrimônio cultural brasileiro. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o samba de roda do Recôncavo Baiano foi o primeiro dos gêneros a ser promovido como patrimônio cultural.

Para, de fato, ser um patrimônio cultural do Brasil, aspectos como relevância nacional, trajetória histórica, fomentação e referência cultural perante grupos formadores da sociedade são alguns dos fatores analisados cuidadosamente.

O Forró

De acordo com historiadores, o ritmo tão amado pelos brasileiros surgiu no século XIX, no Estado de Pernambuco. O nome forró deriva do termo “forrobodó”, que significa arrasta-pé, farra ou confusão. Conhecido pelo som marcante da zabumba, triângulo e sanfona.

Inicialmente focado aos costumes e culturas do povo nordestino, o gênero foi disseminado Brasil afora e ganhou notoriedade na voz e apresentações de Luiz Gonzaga. O cantor eternizou a canção “Forró de Mané Vito”, em meados de 1950, acompanhado de seu acordeom, sempre lembrado pelos admiradores do ritmo.

Dentre os nomes que fizeram história e deixaram um legado no segmento musical estão: Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Marinês, Trio Nordestino e Camélia Alves, considerada, inclusive, a rainha do baião. Com o trabalho dos artistas pioneiros, o gênero ficou em alta e revelando novos talentos consagrados na música brasileira, como Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu Valença, Nando Cordel e Geraldo Azevedo.

Nomes mais recentes também deixaram o seu legado no meio “forrozeiro”, o grupo Falamansa trouxe evidência para o estilo forró universitário. Já as bandas Magníficos, Mastruz com Leite e Aviões do Forró deram uma pitada de modernidade ao ritmo brasileiro.

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