Governador de Roraima é citado em investigação de duplo homicídio e caso vai à PGR


25 de julho de 2024
Governador de Roraima é citado em investigação de duplo homicídio e caso vai à PGR
Da esquerda para direita, governador de Roraima, Antônio Denarium, e o seu ex-coordenador de segurança, Helton John (Composição: Paulo Dutra/Cenarium)
Jadson Lima – Da Cenarium

MANAUS (AM) – O governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas), foi citado em uma investigação que apura os assassinatos de dois produtores rurais, identificados como Jânio Bonfim de Souza, 57 anos, e Flávia Guilarducci de Souza, 53 anos. Após a menção ao nome de Denarium em depoimento de um dos suspeitos de executar o crime, o Ministério Público de Roraima (MP-RR) apontou possível obstrução à Justiça e pediu que os autos do processo sejam encaminhados à Procuradoria-Geral da República (PGR), uma vez que o governador tem foro especial por prerrogativa função.

Governador é mencionado em investigação sobre duplo homicídio (Reprodução)

A citação a Denarium foi feita pelo seu então coordenador de segurança, o capitão da Polícia Militar (PM-RR), identificado como Helton John Silva de Souza. Além do governador, o militar também comprometeu os comandantes da PM de Roraima, o coronel Miramilton Goiano de Souza, e a delegada-geral da Polícia Civil de Roraima (PC-RR), Darlinda de Moura Viana.

As investigações apontam que uma disputa de terras resultou nos crimes de homicídio, praticados contra o casal em abril de 2024 na Vicinal do Surrão, localizada município do Cantá (RR), distante 24 quilômetros de Boa Vista.

Casal assassinado após ter casa invadida por homens; ex-segurança de Denarium estava no local (Arquivo pessoal)

Helton John, que teve a prisão decretada pela Justiça, prestou novo depoimento de quase duas horas no dia 27 de junho 2024. O militar afirmou que presenciou o irmão do investigado Caio Porto, identificado como Tiago Porto, reunido com Denarium na sede do Palácio do Governo de Roraima após o crime, em 24 de abril de 2024. E descreveu detalhes.

Por volta das 10h eles vinham descendo. E quem vinha descendo? O governador [Antônio Denarium] e o Tiago [Porto] que já vinha conversando com ele e vinham várias pessoas. Eles passaram por mim e o governador atravessou para fazer uma filmagem [para chamar o] último comício [da eleição suplementar do município] de Alto Alegre (RR)“, diz o militar em um trecho do depoimento.

De acordo com Helton John, Tiago Porto foi até ele e afirmou que Denarium fez uma ligação para a atual delegada-geral da Polícia Civil de Roraima (PC-RR), Darlinda de Moura Viana, mas ela não teria o atendido inicialmente. O investigado também disse que uma servidora do Governo de Roraima, identificada apenas como Lidiane, passou o contato da delegada-geral da PC-RR para Tiago.

Ele [Tiago Porto] falou que o governador ligou para a delegada-geral da PC-RR duas vezes e não conseguiu. [Denarium] não estava sabendo o que estava acontecendo e pediu para a Lidiane passar o número da delegada para que ele [Tiago] conversasse diretamente com ela“, afirmou o investigado em outro trecho.

O ex-segurança de Denarium também disse às autoridades que a delegada retornou ao governador minutos depois. Eles conversaram ao telefone. Após a ligação, diz o depoente, Tiago atravessou e conversou novamente com Denarium. “O Tiago atravessou lá e aí [Denarium] falou lá: Pode ligar e fala direto com ela. Ele atravessou [novamente] até o seu veículo que estava estacionado ao lado e foi embora. Aí eu falei: Então [o Caio] vai se apresentar”, diz o militar em outro trecho do depoimento.

Comandante da PM citado

Além do governador Antonio Denarium, o capitão da PM também citou no mesmo depoimento o comandante-geral da Polícia Militar de Roraima (PM-RR), coronel Miramilton Goiano de Souza. Helton John entrou em contato com Miralmilton por volta das 19h do mesmo dia em que ocorreram os crimes.

“Eu estou precisando falar com o senhor […] Aí ele falou: ‘Vem aqui em casa’ e perguntou: ‘É grave?’ Respondi que era salgado e perguntei: ‘Mas aqui pelo WhatsApp?’. Ele afirmou que [a ferramenta] era confiável”, relembra início da conversa que tiveram por um aplicativo de mensagem.

Em seguida, o investigado narra às autoridades que perguntou ao chefe da PM se ele estava ciente da situação ocorrida no Cantá e confessou que estava no local durante os assassinatos. O coronel Miralmilton, diz o depoente, o questionou por que não deu voz de prisão a Caio Porto.

“O senhor está sabendo da situação na região do Cantá? Ele respondeu: ‘Tô, lá da família Porto, né!’ Eu tô ali naquele meio […] eu estava lá [..] fui lá só acompanhar uma proposta e o Caio pegou e fez isso aí tudo. […] eu tenho que explicar uma situação que vai demorar um pouco. Queria saber se eu posso falar com o senhor”, afirmou o investigado.

De acordo com Helton John, o coronel Miramilton teria questionado o então segurança de Denarium se ele estava com o seu aparelho celular no momento do crime. O militar afirmou que sim e então o comandante da PM pediu que ele trocasse de aparelho telefônico e aguardasse as investigações.

“Ele perguntou: ‘Tava com celular lá?’ Aí eu disse: .Tava’. Ele falou: ‘Então troca!’, diz o depoente em outro trecho do depoimento.

Desmembramento da investigação

No oficio que encaminhou à PGR, o MP-RR desmembrou a ação judicial que investiga o caso. De acordo com o órgão, a citação de autoridades por possível envolvimento no caso deve ser apurada em outras instâncias da Justiça, porque as autoridades citadas têm foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. No entanto, o órgão sustenta que os executores do crime – que não têm foro privilegiado – devem continuar sendo investigados pela Vara do Tribunal do Júri de Roraima.

Os fatos noticiados em relação ao Comandante Geral da Polícia Militar merecem apuração, sem prejudicar o andamento do processo em relação aos executores que estavam presentes na cena do bárbaro crime“, diz trecho do documento.

Investigado por homicídio citou o comandante da PM de RR em depoimento (Reprodução/MPRR)

Veja documento do Ministério Público de Roraima (MP-RR) na íntegra.

Relembre o caso

Os assassinatos dos produtores rurais foram registrados em 23 de abril de 2024 no contexto de um conflito por terras na região da Vicinal do Surrão, localizada município do Cantá (RR), distante 24 quilômetros de Boa Vista. Após ter a casa invadida, o casal foi atingido com disparos de arma de fogo. Os tiros atingiram a cabeça da esposa e a boca e o abdômen de Jânio.

Ele morreu um dia após o atentado, em 24 de abril. Já a esposa ficou internada em estado grave no Hospital Geral de Roraima (HGR) e também veio a óbito cinco dias depois, em 28 daquele mês. Um áudio gravado pelo casal determinou o avanço das investigações. Na gravação, o aparelho celular de um dos suspeitos toca. Era o aparelho de Helton John, segundo ele disse em depoimento.

A CENARIUM questionou o governador de Roraima, Antonio Denarium, por meio de sua assessoria de imprensa, sobre o pedido do Ministério Público de Roraima (MP-RR) para a Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar o político. Até o momento, não tivemos retorno.

Leia mais: Governador de Roraima, Antonio Denarium tem mandato cassado pela terceira vez
Editado por Jefferson Ramos

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