Governistas falam em ‘sequestro do Parlamento’ para defender interesses de Bolsonaro
Por: Ana Cláudia Leocádio
05 de agosto de 2025
BRASÍLIA (DF) – Membros da bancada governista na Câmara dos Deputados consideram um sequestro a atitude dos parlamentares de oposição, que ocuparam as cadeiras da Mesa Diretora da Casa para forçar o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) a colocar em pauta os projetos de interesse do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Desde a manhã desta terça-feira, 5, os oposicionistas deram início à ocupação das Mesas Diretoras da Câmara e Senado para forçar a votação dos projetos de anistia geral e irrestrita, o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e o fim do foro privilegiado para autoridades.
A bancada do governo defende que a pauta do País deve ser outra, focada nos interesses nacionais, como a isenção de até R$ 5 mil de Imposto de Renda (IR), o fim da escala 6×1 e a taxação dos mais ricos.

Os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ocuparam as cadeiras da Câmara, por volta das 13h, e prometem não sair até Motta ceder às exigências. O ato é uma reação à decisão de Moraes, que decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro, nessa segunda-feira, 4, e manteve as demais medidas cautelares já determinadas, como o uso de tornozeleira eletrônica e restrição a uso das redes sociais. No Senado, os senadores de oposição também ocuparam, pela manhã, as cadeiras e se revezam no lugar, até uma decisão do presidente Davi Alcolumbre (União- AP) sobre as pautas dos oposicionistas.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que é inaceitável o que está acontecendo, porque ninguém pode parar, pela força, a atividade parlamentar e os trabalhos legislativos. “É uma continuidade desse processo de golpe. É mais um ataque às instituições. Teve 8 de janeiro e parece que eles continuam com a mesma linha de atacar todas as instituições, de fazer um movimento que só tem um objetivo: tentar livrar a cara do Bolsonaro”, afirmou.

Lindbergh disse que conversou por telefone com o presidente da Casa, Hugo Motta, que cumpria uma agenda na Paraíba, mas cancelou o compromisso para retornar a Brasília o mais rápido na tentativa de resolver o impasse. “É uma chantagem contra o país. Estão ameaçando, no caso das tarifas, evolvendo uma potência estrangeira e aqui querem parar os trabalhos legislativos. O Brasil tem pressa, nós temos uma economia e nós temos uma prioridade, que é votar a isenção do imposto de renda de até R$ 5 mil e a taxação dos mais ricos”, ressaltou.
Na avaliação do líder do PT, aceitar a agenda imposta pela força pelos bolsonaristas, como a anistia aos envolvidos nos atos que depredaram os prédios dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro de 2023, assim como o impeachment de Moraes, será uma desmoralização para o Parlamento. “Essa não é nossa pauta. A nossa pauta é a vida do povo, é a isenção do imposto de renda, é instalar a PEC da Segurança”, declarou o parlamentar.
O petista alerta que o Senado precisa votar, ainda nesta semana, a isenção de imposto de renda para pessoa física (IRPF) para quem ganha até dois salários-mínimos, que entrou em vigor no início de 2025, por meio de uma Medida Provisória (MP), que atualizou a tabela progressiva mensal. Caso a MP não seja votada e aprovada, ela perde a validade e a isenção deixa de valer.
Família não está acima dos interesses do Brasil
A líder do Psol na Câmara, Erika Hilton (SP), avalia que a ação de uma ala de deputados tem como objetivo colocar os interesses de uma família, de uma única pessoa, o ex-presidente da República, acima dos interesses do povo brasileiro.

“O que a extrema-direita hoje faz é assinar a sua cumplicidade com o golpe e dizer que o parlamento deve ser parado, enquanto as instituições democráticas não se curvarem às exigências de Jair Messias Bolsonaro, que atacou contra esta Casa, que planejou a invasão dos Três Poderes. Nós estamos presenciando a um ato criminoso, covarde, mas profundamente simbólico ao Brasil”, afirmou a parlamentar.
Líderes de outros partidos como Rede e Partido Socialista Brasileiro (PSB) também defenderam que seja retomada a pauta de votação que aguarda a deliberação do plenário, como a isenção do Imposto de Renda (IR) para contribuintes que ganham até R$ 5 mil por mês, o fim da escala de trabalho 6×1, que está parada nas comissões, e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre a Segurança Pública. Eles reclamaram que o ato dos colegas também cassa a palavra dos demais membros da Câmara dos Deputados.
“E eles fazem esse gesto simbólico de fecharem a boca, mas na verdade é a nossa boca que eles estão calando. É a boca da democracia que estão calando e o Parlamento não irá se curvar às vontades, aos desejos da família Bolsonaro. Esta não é a casa da família Bolsonaro. Esta é a casa do povo brasileiro e da democracia. Os trabalhos têm que continuar e o Brasil precisa avançar. Sem anistia para golpista, vamos pautar as agendas de interesse do povo brasileiro e tirar os saqueadores da democracia da cadeira da presidência”, concluiu Hilton.
Alcolumbre e Motta se pronunciam
Em nota enviada no final da tarde, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, disse que vai realizar uma reunião de líderes para que o bom senso prevaleça e se retome a atividade legislativa regular, “inclusive para que todas as correntes políticas possam se expressar legitimamente em sessões do Senado Federal e da Câmara dos Deputados”.
“O Parlamento tem obrigações com o País na apreciação de matérias essenciais ao povo brasileiro. A ocupação das Mesas Diretoras das Casas, que inviabilize o seu funcionamento, constitui exercício arbitrário das próprias razões, algo inusitado e alheio aos princípios democráticos”, afirma Alcolumbre.

O senador fez também um “chamado à serenidade e espírito de cooperação”. “Precisamos retomar os trabalhos com respeito, civilidade e diálogo, para que o Congresso siga cumprindo sua missão em favor do Brasil e da nossa população”, ressaltou.
Às 17h54 (horário de Brasília), Hugo Motta se manifestou por meio do seu perfil no X (ex-Twitter). Na mensagem, o chefe da Câmara afirmou que monitora a situação em Brasília desde as primeiras horas desta terça-feira e que determinou o encerramento da sessão do dia. De acordo com o deputado, uma reunião com os líderes dos partidos deve ocorre nessa quarta-feira, 6.
“Acompanho a situação em Brasília desde as primeiras horas do dia de hoje, inclusive o que vem acontecendo agora à tarde no plenário da Camara. Determinei o encerramento da sessão do dia de hoje e amanhã chamarei reunião de líderes para tratar da pauta, que sempre será definida com base no diálogo e no respeito institucional. O Parlamento deve ser a ponte para o entendimento“, disse Motta.
