Governo cubano mobiliza apoiadores para reagir contra manifestações

Protesto contra o embargo dos EUA e de apoio ao governo cubano em Havana (Joaquín Hernández)
Com informações da Folha de S. Paulo

HAVANA – O Partido Comunista de Cuba reagiu à repercussão dos atos organizados contra o regime, há uma semana, e convocou milhares de apoiadores para se manifestarem nas ruas de Havana. Eles protestaram contra o embargo comercial imposto pelos Estados Unidos e reafirmaram apoio à Revolução Cubana.

Os grupos se reuniram na capital no sábado, 17. Eles agitaram bandeiras de Cuba e do Movimento 26 de Julho (grupo revolucionário que derrubou o ditador Fulgêncio Batista, em 1959). Havia também cartazes com fotos de Fidel Castro (1926-2016) e de seu irmão mais novo, Raúl, que compareceu aos atos com seu uniforme de general.

Policial próximo a carros revirados em Havana após protestos contra o governo de Cuba
Policial próximo a carros revirados em Havana após protestos contra o governo de Cuba (Yamil Lage/AFP)

Raúl, 90, deixou de atuar na liderança do Partido Comunista em abril, encerrando um período de mais de seis décadas em que os irmãos Castro comandaram o país. Desde então, esta foi a primeira vez em que ele participou de atos públicos.

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Os manifestantes foram convocados por grupos que se dividem por bairros e são conhecidos como “comitês de defesa da revolução”. Segundo Margaritza Arteaga, assistente social que participou dos atos e deu entrevista à agência de notícias Reuters, esses comitês enviaram ônibus para trazer os apoiadores a Havana. Ela contou que havia embarcado ainda de madrugada rumo ao local do ato.

“Com ou sem pandemia, temos que defender [a Revolução Cubana] e aqui estamos, nos protegendo e nos cuidando, porque também temos que defender o que é nosso”, disse o professor Héctor Román, 73, que participou do ato, à agência de notícias AFP.

Aos gritos de “abaixo os ianques”, a manifestação foi uma resposta aos protestos que eclodiram em várias partes do país no último domingo, 11, em meio à escassez generalizada de produtos básicos, demandas por direitos políticos e liberdade de expressão, e o pior momento epidemiológico da ilha desde o início da pandemia. A ilha de 11,2 milhões de habitantes acumula mais de 275 mil casos de Covid-19 e 1.843 mortes, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins.

Lá fora

Após os atos da semana passada, o regime liberou a entrada de alimentos e remédios sem restrições a partir desta segunda-feira, 19, mas acusou os manifestantes críticos ao comando do país de serem financiados pelos EUA.

O líder do país, Miguel Díaz-Canel, que acumula os cargos de presidente e dirigente do Partido Comunista, disse aos apoiadores que “o inimigo de Cuba se lançou mais uma vez para destruir a sagrada unidade e tranquilidade dos cidadãos. Convocamos vocês para denunciar mais uma vez o embargo, a agressão e o terror”, disse. Segundo ele, existe um ódio transbordante nas redes sociais contra Cuba, mas o que mundo está vendo sobre a ilha é uma mentira que causou danos imensuráveis à alma nacional.

Díaz-Canel afirmou ainda que o regime cubano não reprime seu povo e que falsas imagens publicadas na internet glorificam o desacato e a destruição de bens. “Nenhuma mentira foi levantada por acaso ou por engano. Tudo é friamente calculado em um manual de guerra não convencional”, acrescentou o líder cubano voltado a acusar os americanos de fomentarem a revolta popular.

Pouco antes do início do ato oficial na capital, as autoridades cubanas detiveram um homem que gritava palavras de ordem contra o regime no meio da multidão. Segundo testemunhas, ele bradou “liberdade” e “pátria e vida”, título de uma canção que se tornou uma espécie de hino dos críticos ao regime.

O número exato de pessoas detidas durante ou após os protestos da semana passada ainda é desconhecido, mas a última contagem do grupo de defesa de direitos humanos Cubalex estima ao menos 450 presos, embora parte desse total já tenha sido libertada. O regime não forneceu dados oficiais sobre as prisões, mas disse que algumas pessoas foram detidas sob suspeita de instigar “distúrbios anti patrióticos” ou de praticar atos de vandalismo.

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