Adolescentes em terra indígena na Amazônia ficam sem vacina contra Covid-19 por demora do governo federal
21 de fevereiro de 2022

Com informações da Folha de S.Paulo
MANAUS — Mais de oito meses após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a vacinação da Covid em adolescentes de 12 a 17 anos, os jovens indígenas das aldeias do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, ainda não receberam uma dose sequer, conforme apurou a Repórter Brasil.
As vacinas estão paradas há quatro meses em uma câmara fria em Manaus, à espera da distribuição pelo Ministério da Saúde.
A aplicação da vacina nessa faixa etária foi autorizada pela Anvisa em 11 de junho, exclusivamente para o imunizante da Pfizer naquele momento, mas só foi incorporada pelo governo federal no plano de vacinação três meses depois.
Com isso, enquanto adolescentes de municípios como Manaus e São Paulo se vacinaram a partir de agosto, os indígenas desta faixa etária tiveram de esperar até outubro, quando a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) iniciou a distribuição das doses.
A secretaria não explicou os motivos para esse atraso. Os jovens do oeste do Amazonas, contudo, esperam até hoje.

“O governo federal disse que o atendimento a indígenas na pandemia era uma prioridade, mas essa é mais uma mentira, porque na prática isso não vem ocorrendo”, diz Beto Marubo, representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) em Brasília.
Um exemplo disso é que as doses de Pfizer para os adolescentes do Javari foram enviadas para a Secretaria de Saúde do Amazonas, em Manaus, no início de outubro, mas até hoje não chegaram aos jovens.
Isso porque o Distrito de Saúde Indígena (Dsei) Vale do Javari, braço do Ministério da Saúde, decidiu não retirá-las da capital, alegando falta de aeronaves para transportar as doses até as aldeias, segundo informou a prefeitura de Atalaia do Norte (AM).
Procurada, a Sesai, responsável pela saúde indígena no Ministério da Saúde, não comentou a falta de aeronaves e disse que o atraso se deveu às “condições especiais” de transporte e armazenagem da vacina da Pfizer na região, onde as aldeias estão dispersas geograficamente.
“No caso do Dsei Vale do Javari, que utiliza apenas modais de transporte aéreo e fluvial para chegar às comunidades indígenas, as condições logísticas se chocaram com as especificidades do imunizante”, disse a Sesai, em nota enviada à Repórter Brasil.