Greve que afeta obras da COP30 em Belém chega ao oitavo dia sem acordo
Por: Fabyo Cruz
23 de setembro de 2025
BELÉM (PA) – A greve dos trabalhadores da construção civil em Belém (PA), iniciada no dia 16 de setembro, chegou ao oitavo dia sem acordo e tem afetado obras estratégicas para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), prevista para ocorrer em novembro deste ano. O movimento, por tempo indeterminado, envolve cerca de 5 mil operários e atinge construções do setor hoteleiro, a Vila COP30 – destinada à hospedagem de chefes de Estado – e o Parque da Cidade, onde ocorrerão as principais negociações do evento climático internacional.
Na segunda-feira, 22, uma nova rodada de negociações ocorreu no Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8). Após votação unânime em assembleia em frente ao órgão, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Belém (STICMB) apresentou uma contraproposta de reajuste salarial.
Os trabalhadores reivindicam aumento de 8% nos salários, cesta básica no valor de R$ 250, participação nos lucros e resultados (PLR) de R$ 350, retomada do pagamento no dia 30 de cada mês, manutenção das cláusulas sociais e atendimento às reivindicações das mulheres trabalhadoras. A patronal, no entanto, manteve-se irredutível, e a negociação geral segue sem avanços.

Wellingta Macêdo, dirigente do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), afirmou à CENARIUM que a mediação com a participação do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém, Ananindeua e Marituba e o sindicato patronal não resultou em consenso. Durante a reunião, conforme a liderança, foi apresentada a proposta de 6% de reajuste salarial e elevação do valor da cesta básica para R$ 140.
“Ontem teve uma reunião virtual, uma tentativa de mediação da Justiça do Trabalho entre o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém, Ananindeua e Marituba, com o sindicato patronal, porque a patronal se mostra até esse momento irredutível. A última proposta foi de 6% de reajuste salarial e a cesta básica passaria para R$ 140. Essa proposta foi rejeitada na hora e o sindicato fez uma assembleia em frente ao prédio da Justiça do Trabalho, na Praça Brasil, onde os trabalhadores decidiram, por unanimidade, pela continuidade da greve”, afirmou à CENARIUM.
Nesta terça-feira, 23, a mobilização se manteve com blitz e piquetes nos principais canteiros de obras da capital. Segundo Macêdo, “infelizmente, a patronal está tentando quebrar a greve por dentro, mandando mensagens para os operários voltarem ao trabalho após a saída do sindicato. Alguns, com medo de perder o emprego, acabam cedendo. Mas fizemos hoje blitz, trouxemos os operários para o sindicato, realizamos uma nova assembleia e ratificamos a continuidade da greve”.
Horas antes, ainda na segunda-feira, o movimento sindical havia denunciado que a empresa Círculo Engenharia, responsável por uma das obras da COP30, contratou seguranças privados para impedir o acesso de representantes sindicais aos canteiros. Segundo o sindicato, a medida restringe a fiscalização e o diálogo sobre direitos trabalhistas, o que aumentou a insatisfação da categoria.
Reivindicações da categoria
A paralisação começou após a rejeição da proposta patronal de reajuste de 5,5% e acréscimo de R$ 10 na cesta básica. Entre as reivindicações da categoria estão reajuste salarial de 9,5%, aumento da cesta básica para R$ 270, pagamento quinzenal, PLR em duas parcelas de R$ 378, além da classificação profissional direta para mulheres operárias, eliminando a figura de “meio oficial”.
O custo da cesta básica, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), está atualmente em R$ 687,30 – mais que o dobro do valor oferecido pelo sindicato patronal. O dado reforça a argumentação da categoria sobre a necessidade de revisão das condições propostas.

Obras afetadas e acordos separados
Entre os locais impactados está a Vila COP30, no bairro Marco, com 19 mil metros quadrados e cinco blocos: quatro destinados à hospedagem de chefes de Estado e suas delegações, e um bloco administrativo, com recepção, restaurante e demais estruturas. Quatro dos cinco blocos estão praticamente concluídos, mas a greve pode atrasar a entrega prevista para novembro para ocorrer entre os dias 6 e 10, pouco antes da conferência climática.
O Parque da Cidade, que será palco das reuniões da conferência, também enfrenta atrasos parciais. O espaço foi fechado ao público em agosto para a montagem simultânea da Blue Zone, voltada às delegações oficiais, e da Green Zone, destinada à sociedade civil.
Além da Vila e do Parque, obras de hotéis de grande porte, incluindo empreendimentos de bandeiras internacionais, também foram afetadas pela paralisação. Diante da urgência da COP30, algumas empresas têm buscado acordos diretos com o sindicato. Recentemente, a Don Engenharia e suas terceirizadas, responsáveis pela obra do Mix Mateus, firmaram acordo coletivo garantindo reajuste de 8% nos pisos salariais, cesta básica de R$ 210, PLR de R$ 354, pagamento regular até o dia 30 de cada mês e manutenção de todas as cláusulas sociais.
Contexto econômico e social
A paralisação ocorre em um momento de alta demanda por hospedagens em Belém, o que gera preocupação com a logística da COP30. A cidade paraense enfrenta uma crise de hospedagem, com preços elevados e escassez de quartos disponíveis, situação que pode ser agravada pelos atrasos nas construções.
O sindicato patronal, Sinduscon-PA, afirmou que os índices apresentados representam ganhos reais aos trabalhadores, considerando o cenário econômico atual, e que recorrerá aos instrumentos legais caso a greve continue. Já a Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) informou que, apesar da paralisação, as obras da COP30 seguem dentro do cronograma previsto.