Guerra às drogas tem servido de álibi para a polícia matar população jovem e negra
27 de junho de 2023
A guerra às drogas envolve o combate ao tráfico de armas e entorpecentes (Couperfield/Shutterstock.com)
Da Revista Cenarium*
BRASÍLIA – A guerra às drogas tem servido de álibi para a polícia brasileira matar ou encarcerar a população jovem e negra, causando – além de dor para uma grande fatia da população – desperdício de bilhões de reais a cada ano em recursos públicos.
Segundo a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Julita Lemgruber, os gastos anuais – para colocar em operação a lei de drogas – chegam a R$ 5,2 bilhões apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Julita participou da abertura de seminário promovido nesta terça-feira, 27, pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados, em Brasília, para discutir a regulação da Cannabis – planta popularmente conhecida como maconha.
“Se nós estendermos esse cálculo para todo o Brasil, veremos que o País tem R$ 15 bilhões de seu orçamento direcionados à implementação da lei de drogas”, acentuou a socióloga, que foi diretora do Departamento do Sistema Penitenciário Nacional.
Policial no morro com uma arma de fogo de longo alcance (Reprodução/Internet)
Os valores apresentados por ela constam da pesquisa Um Tiro no Pé: Impactos da proibição das drogas no orçamento do sistema de justiça criminal do Rio de Janeiro e São Paulo.
Verdadeiro genocídio
Na avaliação da especialista, “a guerras às drogas é o álibi perfeito para a polícia exercer seu poder de causar mortes e encarcerar a população jovem e negra nesse País”, disse ela ao classificar a forma como a lei de drogas tem sido implementada, como um “verdadeiro genocídio da população negra”.
“Como não se emocionar com a quantidade de mortes que a polícia provoca; e com a quantidade de pessoas que vão para a cadeia hoje. Não à toa, o Brasil é, atualmente, o terceiro maior encarcerador do planeta. Isso é uma barbaridade”, argumentou.
Segundo ela, a polícia no Brasil mata cinco pessoas negras por dia apenas no Rio de Janeiro. “Nos últimos anos, a polícia matou mais de mil jovens negros moradores de favela em nome da guerra às drogas”, revelou.
“Se isso não mobiliza os corações das pessoas, então, vamos começar a pensar que isso tem a ver com orçamento público”, acrescentou, ao ressaltar que o impacto da chamada guerra das drogas nas áreas de favela do Rio de Janeiro vai além da questão da saúde, prejudicando também o desempenho das crianças nas escolas.
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