Guerra: Lula afirma que resposta a Israel será diplomática e não haverá pedido de desculpas
19 de fevereiro de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Reprodução/Agência Brasil)
Da Revista Cenarium*
BRASÍLIA (DF) – A reação de Israel à fala de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que comparou a ofensiva militar de Israel em Gaza ao Holocausto repercutiu mal entre auxiliares palacianos e diplomatas. A avaliação é de que Tel Aviv quer aumentar a dimensão da crise e o petista não vai se desculpar.
O episódio foi tema de discussão, em reunião, no Palácio da Alvorada, nesta manhã, com os ministros Paulo Pimenta (Secom), Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Jorge Messias (AGU) e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim.
A definição de Lula é de que a resposta deve ser diplomática. Em nota, o Itamaraty disse nesta segunda-feira, 19, que Mauro Vieira convocou o embaixador israelense Daniel Zonshine para encontrá-lo ainda hoje no Itamaraty, no Rio de Janeiro.
Como antecipou a coluna da Mônica Bergamo, Vieira também chamou de volta o embaixador do Brasil, em Tel Aviv, Frederico Meyer, para consultas.
Segundo a pasta, o diplomata embarca para o Brasil na terça-feira. Trata-se de um ato diplomático que demonstra insatisfação do governo.
“A meu ver, não há de que desculpar. O que está ocorrendo é uma barbaridade”, disse Amorim à Folha.
O chanceler israelense, Israel Katz (Reprodução/Redes Sociais/@Israel_katz)
“O chanceler [Mauro Vieira] anunciará as providências que decidir tomar. (…) Sempre tivemos grande estima pelo povo judeu, que nos deu Einstein, Freud e tantos outros, além de extraordinária contribuição à cultura brasileira”, completou, reforçando o que a primeira-dama, Janja, disse mais cedo, que Lula se referia ao governo, não ao povo judeu.
A tensão diplomática começou neste domingo, 18, quando Lula fez a declaração em uma entrevista coletiva na Etiópia. Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores do governo de Binyamin Netanyahu declarou o líder brasileiro “persona non grata”.
Além disso, o chanceler israelense, Israel Katz, fez uma reprimenda ao embaixador do Brasil, em Tel Aviv, Frederico Meyer, no Memorial do Holocausto (Yad Vashem). O gesto foi classificado por um diplomata como “show”. Normalmente, advertências a embaixadores são feitas nas sedes das chancelarias.
Interlocutores lembram que, desde o início da guerra, o embaixador de Israel, no Brasil, Daniel Zonshine, foi chamado três vezes pelo governo brasileiro, sem grande alarde.
A avaliação é que foi uma tentativa de escalar a crise, como forma de reação às críticas não só do governo brasileiro, mas da comunidade internacional à ofensiva contra palestinos.
Além disso, também há a percepção de que Israel busca, com isso, tirar a credibilidade internacional do Brasil, considerando que Lula vem sendo um personagem verbalmente crítico às ações israelenses.
A posição do governo petista é a de evitar um aprofundamento na tragédia da região. O presidente classificou, também na entrevista coletiva na Etiópia, de “chacina de Gaza” a invasão do território pelos israelenses.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira (Reprodução/Agência Brasil)
As críticas de Lula a Israel e a comparação com o Holocausto, que desencadearam a crise, aconteceram após o presidente ser questionado sobre o anúncio de doação para a agência da ONU voltada a refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
A entidade está sob investigação após acusação de Israel de que alguns de seus integrantes, supostamente, teriam vínculos com o Hamas e participaram dos ataques do 7 de outubro. Por isso, mais de dez nações, a maior parte europeias, cortaram o financiamento.
Lula também reafirmou críticas aos países ricos, em particular aos europeus, que cortaram o financiamento da organização quando foram apontadas suspeitas de envolvimento de agentes com o grupo terrorista Hamas.
“Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”, afirmou o presidente.
“[Não está vendo] que não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças. Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para o povo que está lá”, declarou no domingo, 18.
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