Guerra na Europa impacta mercado do trigo e derivados no Brasil; ‘haverá reajustes de preços’

A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido afetado economicamente pelo conflito com a Ucrânia – juntos, os dois países respondem, em média, por 30% das exportações mundiais de trigo (Reprodução/Internet)

Eduardo Figueiredo – Da Revista Cenarium

MANAUS — Os conflitos entre Rússia e Ucrânia estão causando impactos no preço de insumos, na cadeia produtiva e no valor final dos produtos de diversos setores. A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) divulgou nesta segunda-feira, 14, que a disparada da cotação do trigo começa a ser sentida pelos fabricantes nas negociações com os fornecedores.

Representante das categorias, a associação ressalta que existe a entrega de farinha compromissadas em contratos antigos, mas em breve o consumidor deve sentir o impacto nos preços dos produtos. “O que se pode afirmar é que haverá reajustes de preços nas próximas semanas, mas, com o horizonte indefinido, já que a cada notícia da guerra, o preço do trigo no mercado internacional oscila para cima ou para baixo com valores expressivos”, afirma a Abimapi em nota.

PUBLICIDADE

“O consumidor brasileiro deve começar a sentir os efeitos em breve, quando as indústrias comprarão as novas safras. As indústrias estão com estoques relativamente curtos, pois estão no início da entressafra de trigo, lembrando que o produto acabado também não tem estoques e que varia muito de empresa para empresa. De todo modo, este repasse tende a ser gradual, pois não há espaço para elevar os preços de uma só vez para o consumidor final”, acrescenta a Abimapi.

Maior exportador

A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido afetado economicamente pelo conflito com a Ucrânia – juntos, os dois países respondem, em média, por 30% das exportações mundiais de trigo. Além da queda na oferta de trigo, fator da alta dos preços, o desabastecimento tem a ver com dificuldades logísticas – a guerra fechou portos, interrompeu o transporte – e com a queda da produção ucraniana da commoditie.

A economista Denise Kassama explica que a Rússia atualmente configura um dos maiores produtores de trigo no mundo, mas o estado de guerra, bem como as consequentes sanções econômicas impostas a ela, prejudica seu fornecimento.

“A interrupção da oferta do produto pela Rússia desestabiliza o mercado global, pois reduz a oferta, aumentando a demanda pelo produto dos demais países produtores. Assim, teremos uma tendência de alta de preços para todos os produtos que utilizam esta commoditie, tais como pão e massas de uma forma geral. Quanto mais tempo o conflito durar, maiores serão as altas do produto”, disse Kassama à REVISTA CENARIUM.

Redução e perspectiva

A economista completa que uma eventual redução no preço só se dará por aumento da produção. “Um estímulo à produção reduzirá, a médio e longo prazo, a dependência do mercado externo. A curto prazo, é torcer para a guerra acabar o quanto antes”, frisa Denise.

Para o economista Alcides Saggioro Neto, se por um lado há um temor de uma queda no fornecimento, existe a perspectiva de se procurar outros países que possam fornecer o insumo. “A grande questão com o trigo é que não é apenas meramente a questão de fornecedor, é como é feita a formação de preços. Os preços são determinados em bolsas, então independente se a gente vai enfrentar a falta de trigo, independente de a gente arranjar outro país que possa nos fornecer, o preço é um preço padrão no mercado internacional”, destaca Saggioro, em conversa com a CENARIUM.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.