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‘Hoje entendemos’, diz líder indígena do Vale do Javari sobre política de Bolsonaro contra povos originários
À mesa, líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) Jader Marubo. (Geraldo Magela/Agência Senado)
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15 de julho de 2022
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
BRASÍLIA – O líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Jader Marubo, afirmou nessa quinta-feira, 14, em reunião no Senado, que agora os indígenas sentem as consequências da política anti-indígena prometida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em 2018, durante a campanha que o elegeu. Marubo também responsabiliza a Fundação Nacional do Índio (Funai) pela morte do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira.
“Se tivesse uma Funai forte, uma Funai atuante, que fizesse o trabalho a qual foi criada a fazer, hoje o Bruno estaria vivo. Em campanha mesmo o presidente Bolsonaro falou que ele iria ceifar, hoje entendemos o que é ceifar, a Funai. Ele desestruturou”, disse ele.
Jader Marubo se refere às alegações do presidente contra direitos indígenas, principalmente demarcação de terras. Ainda em 2017, durante evento no clube “A Hebraica” do Rio de Janeiro, Bolsonaro garantiu que, em um eventual governo, não havia “um centímetro de terra para indígenas e quilombolas”. Desde então ele faz críticas à demarcação de territórios.
Ele também falou sobre o sucateamento da estrutura da Funai na região e o que é preciso mudar para o trabalho de proteção do território indígena ser efetivo. “Não temos embarcação de grande porte enquanto os criminosos na região têm. As bases têm que ter uma estrutura muito adequada ao trabalho que cabe a elas. Maior contingência de pessoas. Nem fardamento temos para fazer a identificação que somos Funai, para os agentes que estão lá na base correndo perigo”, acrescentou.
Temor por mortes
O líder indígena disse, na comissão temporária externa do Senado que propõe investigar as providências adotadas diante dos desaparecimentos do jornalista britânico Dominic Mark Phillips, o “Dom Phillips” e do indigenista, que assassinatos podem acontecer novamente na região do Vale do Javari e em um curto espaço de tempo.
“Tudo indica que pode acontecer de novo sim [mortes]. Não só eu [está ameaçado], mas o próprio Eliesio [coordenador jurídico da Univaja], que é meu parente. Outros líderes têm o nome na lista para serem mortos. Não vai acontecer amanhã, daqui a uma semana, daqui a um mês, mas vai acontecer se nada for feito”, disse ele.
Vale lembrar que a deputada Vivi Reis (PSOL-PA), relatora da comissão externa criada na Câmara dos Deputados para também acompanhar as investigações do “Caso Dom e Bruno”, solicitou proteção a pelo menos 14 pessoas, cujos nomes não foram divulgados, que estão sob ameaça. A insegurança e a falta de proteção às pessoas ameaçadas na região do segundo maior território indígena demarcado no País foram detalhadas por Jader Marubo.
“Teve assédio dos colombianos na Funai. Foram nominalmente perguntar o que ‘cicrano’ e ‘beltrano’ faziam, como podia falar com essas pessoas. Na Univaja também foram nominalmente perguntar onde estava ‘ciclano’ e ‘beltrano’, que queriam falar para entrar na terra indígena e conhecer os trabalhos. Faz duas semanas, também foi feito boletim de ocorrência. Isso criou um clima muito pesado na região, principalmente para gente que faz esse trabalho, porque o crime não para, ele acha outras formas de agir”, contou ainda.
Outras mortes
A morte de Bruno Pereira não foi o único assassinato de um servidor da Funai na região que faz fronteira com o Peru e a Colômbia, conhecida também como uma das rotas do tráfico internacional de drogas. Em 2019, o colaborador do órgão Maxciel Pereira dos Santos foi assassinado a tiros em Tabatinga (AM), cidade que fica na fronteira dos dois países. Ele trabalhava em uma base do órgão indigenista no Vale do Javari, atacada quatro vezes desde o ano passado.
O crime não foi solucionado até hoje. O superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Eduardo Fontes, afirmou nesta semana, em audiência pública na Câmara dos Deputados, que a instituição analisa conexão do assassinato do indigenista Maxciel com as mortes de Bruno e Dom Phillips.
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