Hospital nega atendimento por suspeita de aborto e mulher morre após sangrar por dez horas


Por: Ana Pastana

19 de outubro de 2025
Hospital nega atendimento por suspeita de aborto e mulher morre após sangrar por dez horas
O Hospital e Maternidade Tricentenário, em Olinda, Pernambuco (Reprodução/Hospital Tricentenário)

MANAUS (AM) – A chef de cozinha Paloma Alves Moura, 46 anos, morreu no último dia 8 de outubro após passar cerca de dez horas com sangramento sem receber atendimento adequado, no Hospital e Maternidade Tricentenário, em Olinda (PE), afirmam amigas, familiares e ativistas que denunciam que a demora no socorro ocorreu porque a equipe médica suspeitou de um aborto induzido.

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Paloma Alves Moura, 46 anos (Reprodução)

Segundo relatos da amiga de Paloma, identificada como Thaís Leal, de 40 anos, a vítima deu entrada na unidade de saúde entre 7h e 8h da manhã, com dores intensas e hemorragia causada por miomas uterinos. “Hoje faz exatamente uma semana que ela faleceu. Ela deu entrada no hospital entre 7h e 8h com muita dor e um sangramento intenso”, contou Thaís.

A amiga afirmou que, por volta das 14h, pediu para que a amiga fosse levada a outro hospital, mas ouviu da equipe que a transferência só seria feita após o resultado de um exame beta HCG, que confirmaria se Paloma estava grávida ou não. O resultado, segundo ela, demoraria de 3h a 4h. “Disseram que só poderiam transferir depois do exame. Eu disse: mas ela não está grávida”, explicou.

O Hospital e Maternidade Tricentenário afirmou que uma paciente deu entrada na quarta-feira, 8, na Emergência Obstétrica, informando, na admissão, que tinha histórico de sangramento há cerca de 15 dias e miomatose uterina, e que após avaliação médica com especialista, foi internada e medicada. Com a realização de exames, foi constatada queda acentuada da hemoglobina.

Além disso, a instituição médica afirmou que foi solicitada a transferência da paciente para uma unidade de maior complexidade, mas que Paloma apresentou piora no quadro clínico e instabilidade, evoluindo para uma cardiorrespiratória. A vítima foi transferida para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde foram realizadas manobras de animação pela equipe,mas ela não resistiu e faleceu por volta das 19h.

O corpo foi encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbitos, cujo laudo, recebido na sexta-feira, 10, não apresentou conclusões definitivas quanto à causa da morte”, afirmou o hospital.

Denúncias

Diante da repercussão do caso, a vereadora de Olinda, Eugênia Lima (PT), protocolou um pedido formal de esclarecimentos ao hospital, com apoio do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE). O documento questiona a demora no atendimento e as suspeitas de discriminação durante o processo.

No exercício da função fiscalizadora que a Constituição e a Lei Orgânica do Município conferem aos vereadores, e diante das informações amplamente divulgadas por coletivos e pela mídia sobre o falecimento de Paloma Alves Moura, ocorrido em 8 de outubro de 2025, nas dependências deste hospital, em circunstâncias que indicam possível negligência médica e demora no atendimento, solicito esclarecimentos detalhados acerca do ocorrido“, diz o documento.

O Ministério Público de Pernambuco (MP-PE) abriu uma oitiva para escutar a família e pessoas próximas à vítima. “Escrevemos uma carta de denúncia e pedido de esclarecimentos, que foi a base da nota pública da vereadora. Os próximos passos envolvem uma ação criminal, pedindo a relação de todos os profissionais que estavam de plantão para que respondam pelo ocorrido“, explica a pesquisadora e ativista Mayza Toledo.

A carta, assinada por mais de 50 organizações, coletivos feministas e movimentos sociais de Pernambuco, questiona diversos aspectos do atendimento e afirma que “mulheres com suspeita ou diagnóstico de abortamento são preteridas em relação às mulheres com gravidez em curso“.

Protesto

Familiares, amigos e movimentos de mulheres realizaram uma manifestação, na terça-feira, 14, em frente ao hospital, pedindo justiça e responsabilização dos envolvidos. “Poderia ser com qualquer uma de nós!“, “Paloma presente!“, “Justiça por Paloma e por todas” eram os dizeres dos cartazes presentes no protesto.

Mulheres, familiares e amigos de Paloma se unem em um ato por justiça (Reprodução/FMPE)

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