Hotéis criticam atraso em plataforma após pressão por COP30 fora de Belém
Por: Fabyo Cruz
01 de agosto de 2025
BELÉM (PA) – A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (Abih-PA) reagiu às críticas sobre os preços de hospedagem praticados em Belém (PA) durante a 30ª Conferencia das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro deste ano na capital paraense. À CENARIUM, a entidade afirmou, na manhã desta sexta-feira, 1º, em nota, que o setor hoteleiro tem atendido às solicitações dos organizadores do evento e atribuiu à ausência da plataforma oficial de hospedagem como principal falha na organização.
“A atual dificuldade de organização das hospedagens não se deve aos hotéis, mas sim à ausência da plataforma oficial de hospedagem, prometida pela Secretaria da COP30 desde o início do ano e até hoje não operacionalizada”, declarou a Abih-PA, presidida por Antônio Santiago. Segundo a entidade, o setor já disponibilizou, em junho, 500 apartamentos para delegações de países economicamente menos favorecidos – 250 deles com tarifas de US$ 100 e os demais entre US$ 200 e US$ 300, conforme a categoria do hotel.
As críticas da Abih surgem no momento em que cresce a pressão internacional sobre o Brasil por causa da escalada dos preços da hospedagem na capital paraense. O lançamento da plataforma oficial, prometido para até o fim de junho, ocorreu na tarde desta sexta, mas o site que reserva os quartos apresenta instabilidade. O compromisso com a ferramenta foi reforçado publicamente pelo governo brasileiro durante as Reuniões Climáticas de Junho, espécie de pré-COP realizada em Bonn, na Alemanha.
A plataforma será operada pela empresa Bnetwork, contratada pelo governo federal em maio para centralizar a oferta de hospedagem. A promessa é que o sistema seja lançado com um primeiro lote de cerca de 6 mil leitos, com atualizações semanais. No total, o Brasil se comprometeu a disponibilizar mais de 29 mil quartos e 55 mil leitos, sendo a maioria por meio de aluguéis de curto prazo. Também estavam previstas, até o fim de junho, duas embarcações de cruzeiro adaptadas para hospedagem, com 3.882 cabines e cerca de 6 mil leitos – que ainda não foram liberadas para reservas.
Na ocasião, a Secretaria Extraordinária da COP30 declarou à imprensa que o trabalho de estruturação da plataforma está em andamento, mas não informou uma nova data para a publicação da página.
Pressão externa
Apesar da pressão internacional para que o Brasil reveja a escolha da capital paraense como sede da COP30, por conta das dificuldades de infraestrutura hoteleira, o governo federal não cogita, neste momento, transferir o evento para outra cidade. A posição foi reafirmada nos bastidores diplomáticos após declarações públicas do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, de que países – especialmente nações em desenvolvimento – chegaram a pedir oficialmente a mudança da sede, diante do que chamou de “preços extorsivos” praticados em Belém.
“Há uma sensação de revolta”, disse Corrêa do Lago, durante evento da Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE) com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), na quinta-feira, 31.
Articulações do Pará
O Governo do Pará também se posicionou sobre o caso. Procurado pela CENARIUM, o Executivo estadual informou, por meio de nota, que tem adotado medidas para ampliar a capacidade de hospedagem em Belém e região metropolitana. Entre as ações, estão a construção de novos empreendimentos, como o Vila COP (com 405 leitos), a contratação de navios-hotel pela União, a adaptação de escolas estaduais no padrão hotel, estímulo ao aluguel de temporada e parcerias com plataformas digitais.
O governo também firmou, em julho deste ano, um Acordo de Cooperação Técnica com a própria Abih-PA para garantir quartos com preços acessíveis às delegações. A Procuradoria-Geral do Estado, no entanto, destacou que os preços são definidos por normas de direito privado, com base na livre negociação entre as partes, o que limita qualquer interferência direta do poder público.
“Mesmo diante desses limites, o Governo do Pará mantém diálogo constante com proprietários, imobiliárias e empreendimentos de hospedagem para reforçar a importância de práticas responsáveis durante a conferência”, afirmou.
A COP30 deve reunir cerca de 50 mil participantes de 196 países, entre chefes de Estado, diplomatas, cientistas e representantes da sociedade civil. O sucesso da conferência depende, cada vez mais, da capacidade do País em dar respostas rápidas e coordenadas a críticas sobre a infraestrutura local – especialmente no que diz respeito à hospedagem.
