Ibama tem apenas 26% dos analistas necessários para fiscalização de biomas, segundo instituto


14 de julho de 2021
Fiscais do Ibama apreendem madeira ilegal na Amazônia (Divulgação)
Fiscais do Ibama apreendem madeira ilegal na Amazônia (Divulgação)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – Recorde de desmatamento na Amazônia, retomada das queimadas no Pantanal, avanço da grilagem e da mineração ilegal em todo o País. Enquanto os delitos se multiplicam pelos biomas, o efetivo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) encolhe.

Se há uma década o órgão tinha mais de 4 mil servidores, esse número terá caído pela metade no ano que vem, caso não sejam abertas as vagas recomendadas pelo instituto. O Ibama conta hoje com apenas 26,6% do número de analistas necessários para ações de fiscalização, segundo a própria autarquia.

No início de maio, a Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (CGGP) do instituto defendeu, em nota técnica, a realização de um concurso público para a contratação de 2.348 servidores, sendo que 1.264 atuariam como analistas ambientais da Diretoria de Proteção Ambiental. Hoje, apenas 458 funcionários cumprem essa função.

O quadro crítico, no entanto, não se restringe ao monitoramento de florestas e outros ecossistemas do País. De acordo com a nota, o Ibama terá, no ano que vem, menos de 50% de suas vagas ocupadas — serão 2.169 preenchidas e 2.741 ociosas. Daí em diante, a situação tende a ficar pior, diante do “altíssimo índice de aposentadorias que deverão ocorrer nos exercícios (anos) vindouros”.

A urgência retratada pela nota da CGGP não repercutiu na presidência do Ibama, que demorou 40 dias até encaminhar ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) um ofício solicitando a pasta obtenha, junto ao Ministério da Economia, a autorização para realização de um concurso público. No texto, porém, o Ibama solicitou o preenchimento de apenas 655 cargos, ou 27,9% do que fora recomendado.

Procurado pelo GLOBO, o Ibama não explicou por que pediu um efetivo aquém do considerado ideal por sua coordenação de pessoal. O MMA não se pronunciou.

Segundo o Ibama, o novo concurso irá ampliar o efetivo atual, “principalmente nas áreas que compõem a Amazônia Legal, ampliando o poder fiscalizatório e a capacidade de realizar ações relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e, em especial, à fiscalização, monitoramento e controle ambiental”.

Presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), Denis Rivas atribui a falta de ambição do pedido enviado ao ministério a uma “tentativa de desmonte do Ibama”:

“Acho surpreendente como a nota técnica indica uma falta tão grande de servidores e o pedido aborda uma reposição tão pequena”, critica. “Trata-se de mais um ataque ao Ibama, que tem hoje o seu menor orçamento dos últimos 21 anos, e que desde 2019 vê as Forças Armadas assumirem a fiscalização da Amazônia”, afirma.

De acordo com a nota técnica da CGGP, o reforço do efetivo de analistas ambientais é necessário para a adoção de um “reposicionamento estratégico” para operações como a repressão da pesca ilegal, a fiscalização contra o tráfico de animais silvestres, o combate ao desmatamento e a proteção de terras indígenas. Apesar da alta demanda, o efetivo que deveria cumprir essas atribuições está acumulando outras atividades.

A sobrecarga dos agentes deve-se à carência de servidores lotados em outras áreas estratégicas. É o caso da Diretoria de Licenciamento Ambiental, responsável pela análise de projetos-chave para o crescimento da infraestrutura e da logística no País, principalmente nos setores de transporte, energia, petróleo e gás natural. É dessa divisão que vem o aval para iniciativas como a exploração de minério de ferro e a construção e operação de hidrelétricas, entre outros empreendimentos.

Hoje, a diretoria dispõe de apenas 200 servidores para se debruçar sobre 2.961 processos de licenciamento ambiental. Essa capacidade, de acordo com a CGGP, permite atender apenas 40% da demanda, o que compromete o alcance de metas e prazos de projetos que somam “trilhões de reais em investimentos para o Brasil”.

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