Idoso indígena é resgatado de fazenda em condições análogas à escravidão em Roraima
Por: Winicyus Gonçalves
06 de dezembro de 2023
Idoso vivia em uma casa de madeira no município de Bonfim (Reprodução/PMRR)
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia
BOA VISTA (RR) – Um idoso da etnia Wapichana, de 73 anos, foi resgatado vivendo em condições análogas à escravidão em uma fazenda na região da Serra da Lua, em Bonfim (município a 126 quilômetros de Boa Vista). O resgate foi realizado na terça-feira, 5, e divulgado nesta quarta-feira, 6, pela Polícia Militar de Roraima (PMRR). Ninguém foi detido durante a ação.
À corporação, o idoso contou que vive há 30 anos recebendo R$ 400 e uma cesta básica. Os agentes da PMRR chegaram no local por meio de uma denúncia anônima e encontraram a vítima, que vive sozinha em uma “casa pequena, velha e suja”. Na varanda da residência, havia carnes com moscas penduradas nos varais.
A vítima informou, ainda, à polícia, que bebia água depositada em um balde, retirada de um poço, e que não tinha carteira de trabalho assinada. Ele disse que toma conta do sítio e de cerca de 70 cabeças de gado. A cada seis bezerros que nasciam na fazenda, ele ganhava um dos seus patrões como pagamento. O sítio só tinha energia elétrica a noite, quando um motor era ligado. A fazenda pertence a uma família que visitava o local a cada 15 dias. A polícia não encontrou os donos.
O idoso informou que tem cinco filhos que não o visitam. E também disse que não tem esposa. Ele ressaltou que se sente feliz trabalhando na fazenda e que seus patrões o tratam bem. A PMRR avaliou que as condições de trabalho são precárias e o local onde o idoso vive é insalubre. O caso foi encaminhado para a Polícia Federal (PF) onde serão tomadas as devidas providências.
Local estava repleto de carnes penduradas em varais e cheias de moscas (Reprodução/PMRR)
Resgate
Em 2023, Roraima teve 35 trabalhadores em condições análogas à escravidão resgatados por fiscais da inspeção do trabalho. À época, os trabalhadores foram resgatados em uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo seis em uma atividade de desmatamento em Caracaraí (RR) e 29 em uma fazenda situada em Amajari (RR). No caso de Caracaraí, situado a 140 quilômetros da capital Boa Vista, os seis trabalhadores foram encontrados na extração de madeira nativa, com uso de tratores e motosserras. Cinco deles trabalhavam diretamente no corte da madeira e um era cozinheiro.
Em todo o Brasil, 473 nomes de empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão estão na lista suja do trabalho escravo divulgada em outubro. A atualização é a maior da história, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. As atividades econômicas dos empregadores brasileiros incluídos na lista são: produção de carvão vegetal (23), criação de bovinos para corte (22), serviços domésticos (19), cultivo de café (12) e extração e britamento de pedras (11).
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