IML aponta ‘afogamento’ como principal causa da morte de ribeirinhos em acidente com moto aquática
Por: Paula Litaiff e Ana Pastana
25 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – O laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) apontou “afogamento” como causa da morte de três ribeirinhos vítimas de um acidente envolvendo uma embarcação de pequeno porte e uma moto aquática, conduzida pelo empresário Robson Tiradentes, ocorrido no último sábado, 20, no Lago de Acajatuba, em Iranduba, na Região Metropolitana de Manaus (AM). As vítimas foram identificadas como Pedro Batista da Silva, de 42 anos, Marcileia Silva Lima, de 37 anos, e o filho dela, Jhon da Silva Gonzaga, de sete meses.
De acordo com o registro de ocorrências do IML, os corpos de três ribeirinhos chegaram ao instituto às 22h49 do dia 21, após cerca de 20 horas de buscas realizadas pelos mergulhadores do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM). As vítimas foram identificadas por sexo e idade e a causa da morte foi registrada como “asfixia mecânica, meio líquido, afogamento”.

Os termos utilizados no registro do IML referem-se à morte causada pela obstrução das vias respiratórias por conta da submersão em água ou outro líquido. Segundo peritos médicos-legistas ouvidos pela reportagem, trata-se de uma forma de asfixia em que a vítima não consegue respirar porque os pulmões se enchem de líquido, geralmente água, impedindo a oxigenação do sangue e levando ao colapso de órgãos vitais.
Em casos de afogamento, o exame necroscópico pode identificar sinais como presença de líquido nos pulmões, espasmos musculares, lesões em vias aéreas e alterações no tecido cerebral decorrentes da falta de oxigênio. Especialistas consultados detalham que esse tipo de morte é classificado como acidental na maioria das ocorrências envolvendo embarcações ou mergulho, mas pode ser detalhado conforme circunstâncias do acidente.
Irmão do empresário envolvido no acidente, o também empresário e radialista Ronaldo Tiradentes disse, nas redes sociais, que Robson Tiradentes conduzia a moto aquática à noite, por volta 22h, e procurava a companheira e a filha, além de um irmão e um amigo, que estavam à deriva em um bote que havia apresentado pane mecânica. O site da empresa fabricante afirma que o modelo do veículo, da marca Seadoo e considerado de alto desempenho, pode atingir até 108 quilômetros por hora.
Em nota à CENARIUM, a Marinha do Brasil, autoridade marítima brasileira, ressaltou que estabelece regras específicas para a condução de motos aquáticas em todo o País. Conforme a NORMAM/212/DPC, documento que regula a atividade de motonautas, a condução desses veículos é restrita ao período entre o nascer e o pôr do sol, ficando proibida a navegação noturna.

Relato do sobrevivente
Um dos sobreviventes do acidente, Geovane Gonzaga, de 30 anos, que sofreu escoriações pelo corpo, relatou, em entrevista exclusiva à TV CENARIUM, que “o jet ski vinha no escuro” no momento da colisão. Ele é companheiro e pai de duas das vítimas fatais do caso: Marcileia Silva Lima, 37 anos, e Jhon da Silva Gonzaga, de sete meses.
Na entrevista concedida nesta segunda-feira, 22, Gonzaga detalhou os momentos que antecederam o impacto no Rio Negro, na comunidade Acajatuba, zona rural de Iranduba (AM). Segundo ele, o condutor da embarcação em que estava utilizava uma lanterna para emitir sinais de luz, mas não houve tempo de evitar a aproximação da moto aquática.
“Eu estava retornando para casa. Aí o Pedro vinha com a lanterna, ele focava de vez em quando. Vinha focando, ele vinha focando. Agora o jet ski a gente não viu, porque eles vinham no escuro. Quando a gente sentiu, só foi o impacto”, contou à reportagem.
Geovane disse ainda que, com o impacto, os ocupantes da embarcação foram arremessados na água. Ele estava na parte da frente do bote e conseguiu nadar até a margem. A companheira e o filho, que estavam no meio da embarcação, desapareceram no rio, assim como o piloto do bote tipo “voadeira”, Pedro Batista da Silva.
Quem pilotava a moto aquática era o empresário e ex-vereador Robson Tiradentes, de 61 anos. Ele foi encontrado com um corte na face e fraturas dentária e na bacia, e encaminhado ao Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, na Zona Leste da capital amazonense. Um outro homem, morador local, estava no banco do carona com o empresário e também ficou ferido.
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As três vítimas fatais ficaram desaparecidas até o inicio da tarde de domingo, 21, quando foram localizadas pelo CBMAM. “O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) informa que, na tarde deste domingo (21/9), foram encontrados os corpos de uma mulher, um bebê e um homem que estavam desaparecidos após um acidente entre uma lancha e uma moto aquática em Iranduba, no Rio Negro, na região da comunidade Tumbira”, diz trecho do comunicado.
Questionamentos
A CENARIUM entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas (SSP)-AM, responsável pela investigação do caso por meio da Delegacia Fluvial (Deflu), para esclarecer dúvidas sobre o acidente e a perícia prelimitar dos corpos das três vítimas.
Entre os questionamentos enviados estão se as causas dos óbitos descritas nas certidões são compatíveis com os achados técnicos do exame necroscópico realizado pelo IML e se existem indícios de que os corpos tenham sofrido lesões anteriores ou posteriores ao acidente que mereçam detalhamento.
A equipe também questionou se os horários de óbito registrados coincidem com a dinâmica temporal do acidente apurada pelas autoridades competentes e se há divergências entre a causa mortis apontada nas certidões e as informações constantes nos laudos periciais do IML.
Além disso, foi perguntado se foi possível identificar fatores externos que possam ter contribuído para a morte das vítimas, como falta de socorro imediato, traumas múltiplos ou intoxicação. A equipe de reportagem aguarda o retorno do órgão de segurança para dar continuidade à apuração.
Família de empresário se manifesta
Nessa quarta-feira, 24, o empresário e radialista Ronaldo Tiradentes emitiu um comunicado pelo Instagram, informando sobre o estado de saúde do irmão, Robson Tiradentes, envolvido no acidente, e se colocando à disposição da família das vítimas.
“Eu e minha família viemos, mais uma vez, manifestar o profundo pesar diante da dor das famílias enlutadas com a fatalidade […] Reiteramos que o nosso irmão Robson, que luta pela sobrevivência num hospital, não estava a passeio nem em momento de diversão quando ocorreu o acidente. Ele estava em estado de necessidade, tentando, com a ajuda de dois moradores da comunidade, localizar a esposa, uma filha de 6 anos, um irmão e um amigo que estavam perdidos num barco à deriva”, escreveu o radialista.
Essa não é a primeira vez que Ronaldo Tiradentes comenta o caso. No domingo, ainda durante o dia do acidente, ele afirmou, pelas redes sociais, que a moto aquática onde estava o irmão teria sofrido uma pane mecânica e, por esse motivo, estava na região do Lago de Acajatuba.
Leia a nota na íntegra:
“Meu irmão, Robson Tiradentes, sofreu um acidente de jet ski, por volta da 22h de ontem. A fatalidade, infelizmente, foi precedida de vários acontecimentos. Por volta das 14h30, Robson, a mulher e uma filha seguiam do [bairro] Tarumã, em direção a Praia do Iluminado [região metropolitana de Manaus]. Nas proximidades da [comunidade do] Açutuba, o jet ski apresentou um problema mecânico.
Robson, a mulher e a filha foram resgatados por um bote conduzido por amigos, que ajudaram no conserto da motonáutica. Prosseguindo viagem para a [praia do] Iluminado. Robson e o comandante do bote, que foi prestar socorro, erraram o caminho e entraram no Lago Acajatuba. Era começo da noite de ontem [sábado, 20].
Neste momento, uma outra pane [mecânica] interrompeu a viagem. Desta vez, foi o bote que conduzia a mulher e a filha do meu irmão [Robson]. Já durante a noite, Robson saiu em busca de um mecânico para consertar o bote. Ao retornar no mesmo local, o bote não estava mais ali, porque, à deriva, foi deslocado pela correnteza e pelo vento.
Com a ajuda de um morador do Lago Acajatuba, Robson saiu procurando pelo bote desaparecido, momento em que chocou-se com uma canoa sem iluminação.
Num primeiro momento tomamos conhecimento que o dono da canoa envolvida no acidente teria fugido sem prestar socorro ao meu irmão e ao morador da área que ajudava nas buscas do bote desaparecido. Mesmo bastante feridos, mas de coletes salva-vidas, os dois conseguiram nadar até a margem do lago onde foram socorridos.
Somente agora de manhã, tomamos conhecimento que o bote envolvido no acidente transportava outras pessoas. A família espera que uma perícia possa ajudar a esclarecer os fatos até agora muito confusos.
Meu irmão, Robson, sofreu fraturas no rosto e na bacia e será operado agora à tarde [domingo, 21]. Eu [Ronaldo Tiradentes] e minha família estamos em orações por todos os envolvidos”.
As buscas pelos desaparecidos continuam e mais informações devem ser divulgadas em breve, de acordo com o Corpo de Bombeiros.”
Relembre o caso
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), o acidente aconteceu por volta das 23h, do sábado, 20, quando uma moto aquática colidiu com um bote que transportava um casal e um bebê de sete meses, além do piloto. Com o impacto, a família foi arremessada no rio. Segundo o CBMAM, o corpo da mãe e da criança foram localizados na tarde de domingo, 21. As buscas continuaram para localizar o corpo da terceira vítima, que foi encontrada em seguida.
Segundo a Marinha do Brasil, a Capitania dos Portos vai investigar o acidente envolvendo o empresário e os ribeirinhos. Em nota, a força naval informou que será instaurado um inquérito para apurar as causas e as circunstâncias do acidente.
Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram os danos sofridos pela moto aquática e pelo bote após a colisão. O veículo conduzido pelo empresário, de cores preta e amarela e nomeado “Lady Kei”, teve a parte frontal danificada com o impacto. Já a embarcação de alumínio sofreu danos na lateral.
