Impasses levam discussões pela madrugada e decisões da COP30 ficam para este sábado, 22
Por: Ana Cláudia Leocádio
22 de novembro de 2025
BRASÍLIA (DF) – As decisões finais da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), realizada em Belém (PA), ficaram para este sábado, 22, depois das discussões entrarem pela madrugada, o que levou à prorrogação da conferência, que se reúne em plenária para votar os textos.
A despedida do último dia de conferência foi marcada por decepções, protestos nos corredores da Zona Azul e tensão nas negociações que estavam sendo tomadas pelos 195 países nas salas reservadas, nessa sexta-feira, 21, na capital paraense.
Organizações da sociedade civil e não governamentais (ONGs) fizeram um chamado para pressionar os delegados a mudarem o que estava previsto nos rascunhos dos temas definidos para se decidir na Amazônia.

Por volta das 23h, a ministra do Meio Ambiente de Portugal, Maria da Graça Carvalho, disse que as negociações estavam difíceis e que a COP só terminaria neste sábado, porque a União Europeia não abriria mão de inserir o tema da redução gradativa dos combustíveis fósseis, enquanto os países produtores de petróleo se negavam a aceitar.
Segundo ela, um dos temas fundamentais, que é o financiamento climático para adaptação, conseguiu avançar e deve ser triplicado, sem definir ainda o valor exato, mas longe dos US$ 1,3 trilhão necessário.
Impasse
Já passava das 8h deste sábado quando o jornalista Daniel Nardim, do Amazônia Vox, falou com o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, na saída da Zona Azul. Ao jornalista, o diplomata disse que haverá a aprovação de muitos documentos, que será até difícil explicá-los.
“Eu acho que é um resultado de se conseguir 195 países concordarem com a quantidade de documentos que a gente aprovou. Acho que a gente vai demorar para conseguir explicar tudo o que foi feito. Foi muito bom e os países colaboraram muitíssimo”, afirmou.

Durante toda a sexta-feira, houve intensa movimentação na Zona Azul com as organizações manifestando insatisfação com os rascunhos que deixaram de fora a principal proposta capaz de cumprir os compromissos do Acordo de Paris, que é manter a temperatura abaixo dos 2ºC e limitar o aumento do calor em 1,5º C, em comparação ao período pré-industrial.
Desde a COP28 de Dubai, quando foi aprovado o compromisso de redução dos combustíveis fósseis e aumento dos investimentos em energia renovável, os países esperam uma definição de como isso deverá ser feito, mas a medida esbarra nos maiores produtores de petróleo, cuja economia é dependente dessa matriz energética.
O presidente Lula propôs, na Cúpula dos Líderes, a aprovação do “Mapa do Caminho” para longe dos combustíveis fósseis, mas o tópico não entrará no acordo final da COP de Belém, conforme informou Lago ao Amazônia Vox. “O roadmap (mapa do caminho) não, o roadmap nós vamos anunciar, vai ser uma iniciativa da presidência brasileira”, afirmou, sem detalhar ainda como será.

A presidência do Brasil na COP30 começou no último dia 10 de novembro e vai até a COP31, quando Turquia e Austrália serão os realizadores da conferência, com os turcos recepcionando o evento e a Austrália liderando as negociações.
Pelo menos 82 países manifestaram apoio à proposta brasileira nessa COP, de definir o Mapa do Caminho. A Colômbia lidera uma iniciativa fora do calendário formal da conferência e anunciou, para abril de 2026, uma “COP Paralela”, com a realização da Conferência Internacional para o fim dos combustíveis fósseis.
Financiamento da adaptação
Outro tema que a presidência brasileira gostaria de ver aprovada nessa COP30 é o financiamento de adaptação. Conforme Corrêa do Lago, foi possível se chegar a um bom acordo para viabilizar recursos para os países em desenvolvimento financiarem seus planos locais de adaptação climática. Mas os detalhes só devem ser publicados, após a batida de martelo, nesse sábado, durante a plenária.
Na tarde de sexta-feira, foi a realizada a Plenária do Povo que reuniu representantes de todos os países, com forte presença dos povos indígenas. Um grupo saiu pelos corredores da Zona Azul em cantos e protestos. Indígenas brasileiros e das ilhas do Oceano Pacífico entoaram cânticos tradicionais durante a pequena passeata.

O último dia oficial da COP30 terminou sem acordo fechado, uma vez que as discussões entraram pela madrugada de sábado. Foi um dia ainda em clima de consternação devido ao incidente do incêndio no dia anterior.
Ao abrir a primeira plenária do dia, André Corrêa do Lago chamou as partes a mostrar que o consenso é uma força, que o processo multilateral atingisse as pessoas e, sobretudo, se buscasse acelerar a implementação do Acordo de Paris, após dez anos de aprovação.
“Nós sabemos que é um desafio considerável, porque em casa nossos governos enfrentam todo tipo de pressão. Pressões eleitorais, pressões vindas das fake news, pressões das populações que se sentem frustradas por estarmos já há 30 anos, 30 COPs, e as pessoas não sentem este regime tocar a vida delas na prática”, ressaltou.
O diplomata fez muitos apelos para que os delegados não se dividissem em um momento crucial para alcançar um acordo e preservar o regime multilateral, que consiste e todos discutirem e tomarem decisões juntos, no caso da COP, em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas no mundo.
“Precisamos preservar este regime com espírito de cooperação, não com espírito de quem vai ganhar ou perder. Porque sabemos que, com o Acordo de Paris, pelo qual lutamos tanto todos esses anos, se não o fortalecermos, todos perderão. Todos perderão”, ponderou.
Anunciada como a COP da Implementação, somente neste sábado a primeira conferência climática realizada no mundo já finaliza com o fracasso de inserir nos textos finais o almejado Mapa do Caminho dos combustíveis fósseis e atingir os US$ 1,3 trilhão para os planos climáticos de adaptação, definidos no “Mapa do Caminho de Baku até Belém”.

Greenpeace
A diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, avaliou que, ainda que o martelo não tenha sido batido em Belém, a proposta de texto final está longe de ser uma resposta à altura da crise que o mundo enfrenta.
“Não trata a crise como crise; não traz nem mapa e nem caminho para a transição para longe dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento até 2030, e não garante que os recursos necessários para adaptação, absolutamente essenciais para os países em desenvolvimento, sejam de fato mobilizados pelos países desenvolvidos”, argumentou.
Para Pasquali, mais de 80 países apoiaram a transição para longe dos combustíveis fósseis nessas duas semanas, mas foram impedidos de chegar a um acordo por países que se recusaram a apoiar essa medida tão necessária quanto óbvia. “Os mais de 90 países que também queriam um mapa do caminho para o fim do desmatamento também ficaram a ver navios. Infelizmente, a decisão Mutirão não entrega a escala de mudança necessária”, concluiu.
