Indígena aguarda há 22 dias por cirurgia após grave acidente no AM


Por: Ana Pastana

09 de outubro de 2024
Indígena aguarda há 22 dias por cirurgia após grave acidente no AM
O indígena Kelvin Miqueias Miguel Souza (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)

MANAUS (AM) – Após sofrer um grave acidente de motocicleta no município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus), no último dia 15 de setembro, o indígena da etnia Piratapuia Kelvin Miqueias Miguel Souza, de 20 anos, foi transferido para a capital amazonense e aguarda, há 22 dias, por uma cirurgia no Hospital e Pronto Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado, na Zona Leste de Manaus.

De acordo com familiares, o jovem está com traumatismo cranioencefálico (TCE) com afundamento de crânio, fratura facial e outras complicações. Ainda segundo a família, o procedimento tem sido sucessivamente adiado, agravando o caso para um quadro de pneumonia por infecção, intensas dores de cabeça e no peito, sinais de desnutrição e enfraquecimento físico por ter dificuldades de se alimentar por conta da grave fratura na mandíbula.

Raio-X do crânio de Kelvin Miqueias Miguel Souza (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Kelvin foi submetido a um procedimento de craniectomia fronto-orbitária direita, um procedimento cirúrgico que consiste na remoção de parte do osso do crânio – para corrigir o afundamento craniano, conter a laceração cerebral, além de outros reparos na área machucada. A cirurgia da mandíbula, considerada crucial para a família para a recuperação, tem sido adiada. Segundo a irmã de Kelvin, Maytê Ambrosio, o hospital alega falta de materiais cirúrgicos e indisponibilidade de profissionais capacitados para fazer o procedimento.

“Ele estava aguardando há 22 dias a cirurgia da mandíbula, que é uma cirurgia vital, né, porque ele sofreu traumatismo craniano. Só que eles ficaram inventando história dizendo que faltava material, depois falaram que faltava médicos e assim eles iam ‘enrolando’ cada dia, inventando uma desculpa nova”, declarou Maitê à reportagem.

Apesar do estado grave, Kelvin, que estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foi transferido para a enfermaria do hospital. “Tiraram ele da UTI, ‘jogaram’ ele para enfermaria com mais de 24 pessoas, com um enfermeiro e dois técnicos, e o médico uma vez ou outra. Mesmo ele estando em estado grave, e ainda por cima ele teve infecção, pneumonia, ele está com dor na cabeça, com febre constante que não passa, mesmo tomando antibiótico, e ele aguarda essa cirurgia de emergência, mesmo após a sentença judicial”, disse a irmã.

A família entrou com uma ação judicial contra o hospital para que o procedimento fosse realizado mas, de acordo com Maytê, mesmo com a sentença emitida no dia 4 de outubro determinando a realização imediata da operação, o hospital não deu uma previsão da realização do procedimento. Veja a decisão a seguir.

Ainda de acordo com Maytê, o Hospital João Lúcio não só descumpre o mandado de tutela de urgência, como também orientou o pai de Kelvin a se cadastrar no Sistema Nacional de Regulação (SisREG) – sistema criado para o gerenciamento de solicitação, pela rede básica, de consultas, exames e procedimentos na média e alta complexidade.

“O Hospital João Lúcio simplesmente teve a coragem de mandar para o pai dele [do Kelvin] dizendo que ele ia ser transferido para outro hospital, que seria o [hospital] Adriano Jorge, só que pelo sistema SisREG, que no caso, a família tem que cadastrar pelo sistema, sendo que ele é um paciente grave”, afirmou a irmã.

Kelvin, que foi consagrado Mister Elegância de São Gabriel da Cachoeira 2024, está lucido, reconhece a família, mas mexe apenas o lado direito do corpo. “Ele sabe quem a gente é, ele conversa com a gente através da mão direita dele porque a parte esquerda dele não se mexe, mas ele olha, ele ouve, ele sabe o que tá acontecendo, mas ele tá dormindo direto. Ele fala que tá doendo a cabeça, a ponta, fala que tá doendo o estômago, o pulmão dele”, contou Maytê.

Kelvin Souza, jovem indígena de São Gabriel da Cachoeira (Reprodução/Redes Sociais)

O jovem e família moram no município de São Gabriel da Cachoeira e estão em Manaus a espera do procedimento, segundo a irmã, estão se mantendo com ajuda de ‘vaquinhas’ e doações. “Logo no dia que aconteceu o acidente criaram um grupo que tem mais de mil pessoas e as pessoas estão mandando pix, ajudam, fazem feijoada beneficente pra ajudar ele”, explicou. A família teme que o jovem indígena não resista a espera para fazer o procedimento.

Leia na íntegra a nota da Secretaria de Estado de Saúde (SES):

A Secretaria de Saúde informa que o paciente, vítima de acidente de trânsito em São Gabriel da Cachoeira, foi transferido via Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea, do Governo do Amazonas e atendido de forma imediata no HPS João Lúcio, é referência em neurotrauma, sendo submetido a procedimento cirúrgico, a cranioctomia. Após a cirurgia, o paciente recuperou-se em leito de UTI e, após evolução do quadro clínico, foi transferido para leito de enfermaria, onde está acompanhado e assistido por equipe multidisciplinar. A segunda fase do tratamento será realizada na Fundação Hospital Adriano Jorge, onde o paciente passará por avaliação do cirurgião bucomaxilo para realizar cirurgia reparadora de multi fraturas na face. A transferência está agendada para acontecer nos próximos dias.

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Editado por Adrisa De Góes

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