Indígena do povo Kayapó busca na aldeia inspirações para desenhar

Em meio à pandemia, desenhar tem sido o refúgio de Beprekti Metuktire, da etnia Kayapó (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Eu desenho para expressar meus sentimentos, minhas emoções. As representações são diversas, cada uma com um significado diferente. Meu sonho é um dia trabalhar profissionalmente com desenhos, mas infelizmente nunca tive nenhum incentivo, gostaria muito de me dedicar 100% a essa arte”.

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Beprekti Metuktire, da etnia Kayapó, é natural da aldeia Capoto, uma área de transição de cerrado dentro da floresta amazônica. Aos 23 anos de idade, o jovem indígena, que desenha para expressar os sentimentos e sonha em se dedicar 100% a arte, vive na aldeia Piaraçu e busca se aperfeiçoar pessoalmente e profissionalmente no meio artístico.

“Eu nasci e fui criado no meio da arte, da cultura tradicional do meu povo. Isso me despertou desde pequeno a observar as pinturas tradicionais de tinta de jenipapo e urucum, dos grafismos expressos em nossos adornos de festas e do cotidiano. Eu me encontrei nesse universo, é o que eu gosto de fazer, eu me expresso por meio disso”, enfatizou.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, Beprekti contou que desenha desde muito pequeno e que aprendeu sozinho fazendo casinhas da aldeia. “Casinhas bem tradicionais e com o passar [dos anos] eu fui observando outros desenhistas e fui melhorando”, lembrou.

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“As inspirações são meu cotidiano na aldeia, na minha família, as atividades de caça e pesca coletiva, as festas tradicionais”, destacou Breprekti, cujo nome foi escolhido pelo avô paterno em homenagem a um antigo guerreiro Kayapó.

A pandemia

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o indígena Kayapó afirmou que tem sido complicado desenhar, por conta da dificuldade em encontrar inspiração com tantas perdas para o vírus. O refúgio para ele, no entanto, tem sido a arte. Desenhar foi o meio que ele encontrou para ter esperança de que as dificuldades passam.

“Está sendo complicado, no início da pandemia perdi minha tia-avó para essa doença. Vi muitos parentes doentes, inclusive minha família e eu nos contaminamos este ano. Às vezes, é muito complicado ter inspiração, mas ao mesmo tempo são meus desenhos que me dão esperanças em um amanhã melhor para todos nós”, revelou.

Arte contemporânea

As ilustrações de Beprekti são feitas pelo celular que ganhou de um tio. “O celular do meu tio estava com a tela quebrada, então eu pedi para ele, ele me deu e eu uso esse celular para fazer meus desenhos. Quando estou inspirado, os desenhos surgem naturalmente e me dedico a eles, em média, cada desenho é feito a cada três dias”, explicou.

Entre as obras de Beprekti, está a “Guerreirinha”. Segundo o jovem, ela é fruto de um momento vivenciado por ele, no qual ele foi questionado sobre ser indígena e estar usando uma câmera.

“Guerreirinha” é uma das ilustrações de Beprekti Metuktire

“Uma vez eu estava com uma câmera nas mãos e uma mulher me perguntou espantada: ‘Nossa um índio com uma câmera?’ Eu me senti mal no momento e toda vez que eu pego em uma máquina fotográfica, eu me pergunto se isso vai me deixar mais ou menos indígena. Eu sei que a reposta é não, eu não vou deixar de ser indígena por fazer meus desenhos, pelo contrário, isso me fortalece, me faz crescer, por isso decidi desenhar uma criança com uma máquina para mostrar que tenho sonhos e que estou em busca de realizá-los”, concluiu.

As redes sociais têm sido o meio de divulgação das ilustrações do indígena Kayapó. Em seu Instagram, de nome @beepy_art, o jovem compartilha as artes, como a do cacique Raoni Metuktire, de 89 anos, líder indígena da etnia Kayapó. Confira:

Edição Alessandra Leite

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