Indígena Tremembé investe em moda para promover diversidade e romper preconceitos

Estilista de moda indígena Rodrigo Tremembé (Reprodução/Divulgação)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS — “Minha relação com a moda parte de minhas inquietações. Tudo que crio vem de questionamentos sociais e culturais. Não tenho formação em moda; a experiência de viver em um corpo indígena que me levou para esse meio”, a declaração é de Rodrigo Tremembé, 25 anos, pertencente ao povo Tremembé. O jovem morador do Córrego João Pereira, no município de Itarema, Ceará, faz do vestuário um manifesto em favor da diversidade e consumo consciente e inclusão.

Ao refletir sobre os estereótipos perpetuados sobre os povos indígenas, o artista visual conta que decidiu direcionar a arte para o ramo étnico e, a partir dessa perspectiva, falar das inquietações enquanto indígena, rompendo estereótipos e preconceitos, situação que ele afirma já ter vivido, em 2020, ao publicar uma foto com grafismo, na pele, em um grupo indígena com cerca de 36 mil membros, em determinada rede social.

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“Sofri inúmeros ataques por conta do meu tom de pele ser claro e eu ser indígena. Ataques como ‘você é muito branco para ser ‘índio’, ‘você é um indígena pirata’, entre outros; isso foi o pontapé para eu fazer do episódio um manifesto em favor da diversidade, mostrando que o indígena não é um ser estático no tempo, que não somos a visão que o colonialismo disseminou: como selvagem, ignorante, que anda nu e vive na floresta”, explica.

Editorial

Recentemente, o indígena foi convidado para o editorial de moda intitulado ‘O Vestir é Ancestral’ para a Revista Inspiração Teen. “A revista de produção independente e colaborativa sobre pauta indígena e negra é idealizada pelo professor de artes e editor chefe Rubens Santa Brígida. A proposta do editorial é mostrar cultura, representatividade e sustentabilidade indígena no meio da moda”, conta.

Vestido Jabuti (Reprodução/ Iraê Tremembé)

No editorial, Rodrigo apresenta peças femininas e masculinas. Com o vestido chamado ‘Jabuti’, o artista imprimiu o grafismo simbolizando o jabuti, trazendo a mensagem de longevidade, saúde e metas alcançadas. A peça também apresenta o grafismo ‘îepïtak’, que tem como significado “firme, resistente”.

Na peça masculina, intitulada o macacão ‘Poçanô’, possui o grafismo também intitulado ‘Poçanô’, que na língua Tremembé significa ‘curar, sanar’ e representa a cobra-coral, que leva consigo a simbologia de poder de cura, regeneração e vitalidade.

Mercado

Para Tremembé, embora seja sabido que o mercado é, majoritariamente, ‘fast fashion’, propenso ao consumismo desenfreado, ele acredita que o mercado voltado para a moda indígena está em expansão, auxiliando até mesmo na promoção da representatividade.

O artista ressalta para a falta de indígenas nos catálogos editorias, em capas de revistas e passarelas. “Vemos poucos ou quase nenhum indígena em ‘casts’, mesmo a moda sempre pregando inclusão e diversidade, então, me questiono se há espaço para o indígena na moda. Ir contra esse sistema é desafiador”, considera Rodrigo.

Camisa ‘Poçanô’ (Reprodução/Sthefany Tremembé)

Ato político

Com um posicionamento semelhante ao de Sioduhi, estilista amazonense pertencente ao povo Waíkahana (Piratapuya), Tremembé acredita que a moda indígena está intimamente ligada a um ato político e de resistência. Segundo o profissional, o trabalho tem como missão abordar as boas práticas de consumo e a pluralidade.

“Somos o que vestimos, desde o processo de matéria-prima, mão de obra, confecção e comercialização de um produto há histórias envolvidas. Que história suas roupas contam? A marca que você veste se preocupa com o meio ambiente? A mão de obra é valorizada? Suas roupas são feitas para durarem pós-tendências? São esses tipos de questionamentos que quero passar com meu trabalho. Quando eu crio um croqui plus size, quando coloco um PcD ou um Afro-indígena, como representação, eu abro espaços de visibilidade para a inclusão de pessoas que não se vêem nesses locais, mas que merecem muito esse destaque”, finaliza.

Para os que desejarem conhecer mais sobre o trabalho de Rodrigo ou até mesmo adquirir as peças confeccionadas por ele é só acessar a loja online na rede social Instagram: @Tremembé Desing e moda.

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