Indígena isolado que fez contato no AM retornou à floresta, diz Funai


Por: Ana Pastana

15 de fevereiro de 2025
Indígena isolado que fez contato com comunidade no interior do Amazonas (Composição: Lucas Oliveira/CENARIUM)
Indígena isolado que fez contato com comunidade no interior do Amazonas (Composição: Lucas Oliveira/CENARIUM)

MANAUS (AM) – O indígena isolado da Terra Indígena (TI) Mamoriá Grande que entrou em contato com moradores da comunidade Bela Rosa, entre os municípios de Tapauá e Lábrea, no interior do Amazonas, na região do Rio Purus, retornou à mata na tarde da última quinta-feira, 13. As informações são da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que deu atualizações sobre a interação do indígena isolado com não indígenas.

De acordo com nota divulgada pela Funai, após a Base de Proteção Etnoambiental (Bape) Mamoriá Grande receber as informações do contato do indígena isolado com a comunidade, durante a noite de quarta-feira, 12, uma equipe do órgão se deslocou até o local para acompanhar o jovem indígena que estava descalço, com um traje cobrindo a parte frontal da genitália e falando uma língua não identificada. Ele foi levado à Bape a fim de que o isolamento sanitário do indígena fosse mantido.

A Portaria Conjunta do Ministério da Saúde (MS) n° 4.094/2018 estabeleceu que a Funai deve comunicar a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do MS sobre a existência de indígenas isolados em contato com não-indígenas. Entretanto, cabe à Sesai decidir sobre as ações que devem ser tomadas referentes à assistência médica e sanitária.

Seguindo a portaria do MS, segundo as informações da Funai, duas Salas de Situação foram realizadas na quinta-feira, contando com a participação dos órgãos competentes, como a Sesai e o Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Não foi informado se a participação do ministério foi realizada de forma presencial ou via remota.

Enquanto a Sesai avaliava a situação epidemiológica dos moradores, a Funai monitorava o território e orientava a população sobre medidas de proteção ao povo indígena isolado da Terra Indígena Mamoriá Grande“, diz um trecho da nota.

Reforço

Equipes da Funai, da Sesai, da Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiental Madeira-Purus (CFPE-MP) – região do Amazonas – e da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), estão a caminho da Bape Mamoriá para reforçar a proteção ao indígena e a comunidade.

O grupo deve permanecer no local, por tempo indeterminado, para acompanhar e monitorar a situação da região. Segundo informações, uma colaboradora indígena do povo Juma vai contribuir com a equipe da CGIIRC. A profissional, que não teve o nome divulgado, é experiente em monitoramento de povos isolados e fala a língua Kawahiva — que as autoridades acreditam ser a mesma falada pelo povo do indígena isolado que entrou em contato com a comunidade.

Recente contato

O contato do indígena isolado com moradores da Comunidade Bela Rosa, localizada entre os municípios de Tapauá e Lábrea (AM), no Rio Purus, aconteceu na noite da última quarta-feira, 12. À CENARIUM, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) afirmou que o contato foi feito de forma voluntária pelo indígena e que ele pertence à Terra Indígena (TI) Mamoriá Grande, área que teve o uso restrito pelo órgão indigenista em dezembro do ano passado.

De acordo com a Funai, o contato ocorreu por volta das 19h, na comunidade situada a cerca de cinco quilômetros da Bape, da região restrita. Após a aproximação, a FPE-MP iniciou o monitoramento da situação e estabeleceu um cordão sanitário para evitar riscos de contaminação.

Indígena isolado estabeleceu contato com moradores da Comunidade Bela Rosa, no interior do Amazonas (Imagem cedida à CENARIUM)

Em um dos vídeos registrados por moradores da comunidade, o indígena aparece, aparentemente, desorientado com o ambiente e com as pessoas ao redor. O indígena, que não fala uma língua identificada, interage com gestos e falas, parecendo estar surpreso ao ver o fogo feito por um isqueiro.

Um morador acende o isqueiro repetidamente e, em seguida, o orienta a tentar fazer o mesmo. Ele observa o movimento e tenta imitar a ação do morador. Em outro momento, o indígena aparece sentado sobre uma mesa de madeira, em frente ao fogo ateado no chão. Ele segura o isqueiro com a mão direita, observando, como se tentasse compreender o fenômeno.

Assista a seguir:

Indígena fez contato com moradores de comunidade na noite de quarta-feira, 12 (Imagens cedidas à CENARIUM)
Leia também: Indígena isolado faz contato voluntário em comunidade do Amazonas
Outros contatos

Moradores da região relataram que os sinais de indígenas isolados têm se tornado comuns na região. Em áudios obtidos pela reportagem, um morador afirmou que a presença deles não é um fato inédito entre Lábrea e Pauini. “Já vimos esses sinais antes. Não é a primeira vez que aparecem indígenas isolados por aqui”, disse o morador não identificado.

Outro morador mencionou que há tempos se fala sobre a presença de indígenas isolados próximos à comunidade Bela Rosa. “O pessoal já tinha comentado que havia índios [sic] brabos por lá. Agora apareceu um do nada, sem roupa, e ninguém conhece. Ele não fala nada com nada”, relatou.

“A gente achou três ocas, bem limpinhas, só com os buracos de entrar e sair”, descreveu um dos moradores, reforçando os sinais de presença dos indígenas sem contato na região.

Edição da Revista Cenarium

A matéria de capa da Revista Cenarium, da edição de outubro de 2024, detalha a posição da Funai sobre o avistamento de indígenas isolados no Amazonas. O órgão destacou a complexidade da confirmação de tais avistamentos, que exigem investigações de longo prazo.

Capa de outubro de 2024 da Revista Cenarium (Hugo Moura/CENARIUM)
Leia também: Revista Cenarium – Ed. 52 – Outubro/2024

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