Indígenas detalham vida após 16 anos na luta por homologação da terra ‘Raposa Serra do Sol’

Terra Indígena Raposa Serra do Sol/ RR ( Caíque Silva/CIR)
Cassandra Castro – Da Cenarium

BRASÍLIA (DF) – Uma reflexão sobre as conquistas e desafios dos povos que vivem na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RSS), em Roraima. O assunto foi abordado por lideranças indígenas durante uma audiência pública extraordinária conjunta pelas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços e de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Depois de vários conflitos dentro da área ocasionados por disputas pela terra envolvendo produtores de arroz e os indígenas, os povos originários conquistaram o direito à demarcação contínua da reserva, uma área de mais de 1.700 mil hectares, localizada ao norte de Roraima.

Homologação de TI Raposa Serra do Sol foi um marco para as comunidades

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Para a deputada federal Joenia Wapichana (Rede/RR), uma das autoras do requerimento de realização da audiência, a homologação e posterior demarcação contínua da reserva representou “um ambiente favorável ao fortalecimento e solidificação de planos de vida das comunidades, principalmente com relação ao manejo ambiental e territorial sob a diretriz específica dos costumes, crenças e tradições”.

Indígenas falaram sobre ações sustentáveis realizadas nas comunidades da TI RSS ( Reila Maria /Câmara dos Deputados)

As lideranças indígenas que participaram da reunião usaram o espaço para demonstrarem ações coordenadas feitas pelos indígenas que vivem na reserva.  Cerca de 25 mil índios das etnias Makuxi, Taurepang, Ingarikó, Patamona e Wapichana estão distribuídos em 209 comunidades e falaram sobre projetos de agricultura orgânica, criação de gado, cultivo de sementes tradicionais, criação de peixes e artesanato.

O assessor jurídico do Conselho Indígena de Roraima, Ivo Cípio Aureliano, falou sobre ações na esfera ambiental, como o trabalho realizado pelos Agentes Territoriais e Ambientais Indígenas e a atuação das Brigadas Indígenas que aliam o conhecimento tradicional à tecnologia também de olho na questão das mudanças climáticas.

Vigilância constante contra-ataques aos direitos indígenas

O coordenador do Centro Willimon/Raposa Serra do Sol, Amarildo da Silva Mota, também afirmou que os indígenas estão trabalhando de forma sustentável na reserva, garantindo a sobrevivência das famílias e preservando o meio ambiente. Ele ressaltou que mesmo com estas demonstrações de atividades sustentáveis feitas pelos indígenas, os povos continuam enfrentando o desafio de lutarem contra investidas por parte do legislativo e até do governo federal que ameaçam os direitos constitucionais das populações originárias. “São várias leis criadas como essa que propõe liberar a mineração nas terras indígenas. Não aceitamos nenhum tipo de projeto que venha alterar o que já é garantido para os povos indígenas”, enfatizou a liderança makuxi.

Alcebíades Constantino fala sobre trabalho de jovens indígenas ( Reila Maria / Câmara dos Deputados)

Outro representante dos povos indígenas, membro da comunidade Sapará, Alcebíades Constantino, deu ênfase para a importância de que seja desfeita uma imagem muitas vezes generalizada que a sociedade tem dos indígenas. “Não somos empecilho para o desenvolvimento do Estado de Roraima, nós sabemos gerir nossos territórios. Não é porque usamos tecnologia como o celular, por exemplo, que vamos deixar a nossa essência indígena”, afirmou o coordenador estadual da Juventude Indígena de RR.

A audiência pública acontece a uma semana do evento Luta pela Vida, uma mobilização nacional indígena que irá acontecer em Brasília de 22 a 28 de agosto. Os povos indígenas estarão na capital federal para acompanhar a votação da tese do Marco Temporal, pelo Supremo Tribunal Federal prevista para ter início no dia 25.

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